Gripe e frio provocaram quase mais 4500 mortes no último Inverno em Portugal

Subtipo do vírus da gripe que circulou afectou sobretudo os mais idosos, o que ajuda a explicar os números elevados.

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No Inverno passado houve um excesso de 4467 óbitos em relação ao esperado Marco Duarte

Voltou a acontecer: a epidemia de gripe sazonal e as temperaturas extremas que afectaram o país no Inverno passado reflectiram-se no número de mortes, que ficaram de novo substancialmente acima do esperado para a época, como tinha sucedido dois anos antes. Pelas contas dos responsáveis pelo Programa Nacional de Vigilância de Gripe, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), houve um excesso de 4467 óbitos no Inverno passado em relação ao esperado.

Segundo o relatório do programa de vigilância do Insa agora divulgado, durante a época de gripe sazonal de 2016/2017 o número de óbitos por todas as causas esteve acima do que é habitual entre a penúltima semana do ano passado e a quinta semana deste ano. “Todas as regiões de saúde de Portugal continental apresentaram excessos de mortalidade” e o período em que este fenómeno se verificou coincidiu com a fase epidémica da gripe e semanas em que se registaram temperaturas extremamente baixas, justificam os especialistas.

Frisando que se trata de estimativas feitas a partir de modelos matemáticos, Ana Paula Rodrigues, do Departamento de Epidemiologia do Insa e uma das autoras do relatório, explica que no Inverno passado o subtipo de vírus da gripe que predominou foi o A(H3) e este habitualmente afecta as pessoas mais idosas, e é por isso mais letal.

Foi o que também aconteceu no Inverno de 2014/2015, quando os cálculos dos peritos apontaram para um valor ainda superior: 5591 mortes acima do esperado para aquela época do ano. Foi o Inverno com mais mortalidade em excesso a seguir ao de 1998/1999, quando houve 8514 mortes acima do esperado, de acordo com os registos disponíveis.

Mas este fenómeno não é um exclusivo português. Os dados do projecto europeu “EuroMOMO” (monitorização de mortalidade em geral), com que Portugal colabora há uma década, indicam que foram vários os países europeus que registaram picos de mortalidade no Inverno passado, nomeadamente Espanha. Os dados europeus apontam, porém, para uma estimativa de mortalidade em excesso ainda superior à do relatório nacional — 5311 óbitos acima do esperado. E calculam que 84% se ficou a dever à epidemia de gripe e o resto ao frio.

Por que é que as estimativas não coincidem? Porque o modelo matemático usado pelo Insa é diferente do da rede europeia, justifica Ana Paula Rodrigues, que frisa que, apesar de a gripe ter sido moderada e a incidência por síndrome gripal (que inclui a gripe e outras infecções respiratórias) ter sido inferior à de outros anos no Inverno passado, a proporção de casos positivos para o A(H3) foi superior, afectando as pessoas mais susceptíveis. 

Para o Inverno que se avizinha, e numa altura em que no hemisfério Sul o A(H3) voltou a ser o tipo de vírus predominante em circulação, as pessoas mais em risco devem vacinar-se, recomenda a especialista. A vacina confere protecção contra as complicações provocadas pela gripe, nomeadamente pneumonais (que matam muito em Portugal) e descompensação de doenças crónicas. “É a medida preventiva mais eficaz”, enfatiza.

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