Governo colombiano quer manter intacto o tesouro do galeão San José

Em causa está a parceria público-privada que o anterior Presidente Juan Manuel Santos negociou com a empresa que fez o levantamento dos restos naufragados, cujo resgate deveria ser pago com peças do tesouro.

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Os despojos do galeão San José estão a 600 metros de profundidade Reuters

O Governo colombiano equaciona não respeitar o contrato assinado pelo anterior Presidente do país, Juan Manuel Santos, relativo ao pagamento do resgate do tesouro do galeão San José, afundado pela armada inglesa em 1708 no Mar das Caraíbas, e quer manter a integridade do que for recuperado. A posição foi anunciada esta quinta-feira pela vice-presidente do executivo, Marta Lucía Ramirez, que, numa declaração citada pela agência Efe, disse que “o que se encontra no San José pode ter um grande valor económico, mas, antes de mais, todas e cada uma das peças que possam ser resgatadas têm um valor cultural e histórico incomparável para a Colômbia e para o mundo”.

Por esta razão, o Governo do actual Presidente Iván Duque considera “inaceitável” o acordo avançado pelo seu antecessor, que admitia pagar o custo da operação com peças do próprio resgate, desde que elas não fossem sujeitas a classificação patrimonial.

A descoberta do paradeiro dos destroços e da carga da embarcação afundada a 600 metros de profundidade na sequência da Batalha de Baru foi revelada em 2015, tendo sido conhecidos no passado mês de Setembro alguns dos dados do relatório que a empresa anglo-suíça Maritime Archaeology Consultants (MAC) entregou ao Governo de Bogotá: o San José mantinha preservados cerca de 90 por cento da sua carga, nela se incluindo canhões, uma âncora, peças em cerâmica, mas também lingotes, barras, moedas de ouro e também de prata e ainda pedras preciosas.

Segundo então foi noticiado, se o Governo colombiano não respeitar o acordo assinado com a MAC também para a atribuição da operação de resgate, teria de indemnizar a empresa em sete milhões de dólares. Mas já nessa altura se equacionava também a possibilidade de a Colômbia assumir a recuperação do tesouro por sua conta. Parece ser essa a via a seguir agora, atendendo às declarações da vice-presidente da Governo. “No fundo do mar não está só um montão de canhões, jóias e um punhado de moedas. Ali encontra-se parte da nossa História e da trajectória do Novo Mundo, e isso não pode ser desprezado – o galeão San José é único e indivisível”, disse Marta Lucía Ramirez, realçando que esta riqueza histórica e cultural “não tem preço” e que “o direito dos colombianos a conhecer, difundir e preservar este tesouro cultural não é negociável”, nem deve “ser feirado pelos antiquários do mundo”.

Parece assim estar em causa a “parceria público-privada” acordada pelo anterior Governo, mas não foi ainda avançada nenhuma alternativa para o definitivo resgate daquele que é considerado um dos maiores tesouros depositados no fundo dos mares na sequência dos múltiplos naufrágios acontecidos ao longo dos últimos cinco séculos.

Na declaração da vice-presidente colombiana há ainda uma referência à reivindicação espanhola relativamente ao galeão, que foi afundado pelo navio inglês comandado por Charles Wagner por altura da Guerra de Sucessão espanhola, quando viajava sob a bandeira do reino de Castela. “Temos uma relação muito amistosa e muito respeitosa [com o Governo de Espanha]”, afirmou Marta Lucía Ramirez, acreditando que os dois governos coincidirão no desejo de “manter intacto” um património que “não deve ser entregue nem vendido a ninguém”.

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