O PSD perdoará a Rui Rio uma eventual derrota?

Líder social-democrata reiterou estar “disponível” para reformas estruturais, mas está convencido que PS se entende à esquerda

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A fasquia dos 25% é a linha que a oposição interna a Rui Rio tinha definida como os mínimos para sustentar a liderança do PSD. Só acima dessa marca consideravam que Rio poderia ter condições para ser recandidato nas próximas eleições directas. O partido dificilmente perdoará um resultado abaixo de 27,9% de Pedro Santana Lopes e muito menos os 25,8% de Sá Carneiro, mas se o PS não tiver maioria absoluta, o actual líder pode jogar com esse trunfo e reclamar os louros para si. Com as sondagens a apontarem para uma recuperação do PSD o day after das legislativas pode baralhar-se, mas é certo que haverá uma luta de poder no partido.

O alerta sobre esse cenário foi pelo próprio Ângelo Correia, apoiante de sempre de Rui Rio, quando surgiu (e foi dos poucos notáveis que deu a cara) nesta semana na campanha do PSD. “Se [houver uma disputa] apenas por razões de poder o país não vai perceber nem o partido”, disse o ex-ministro do Governo de Pinto Balsemão. O próprio Rui Rio nunca estabeleceu um número que fosse a sua linha de água. Deixa essa leitura para a noite das eleições ou até para dois ou três dias depois como já chegou a dizer. Desde o início desta liderança que a direcção sustentou que seria possível e (desejável) o líder manter-se no poder, mesmo com uma derrota eleitoral nas legislativas.

O líder do PSD assumiu ontem estar convencido de que o PS se vai entender com PCP e BE após as eleições, se for necessário. Ao mesmo tempo, reiterou estar disponível para fazer reformas estruturais. Isso “não implica ir para o Governo”, assegurou. Desde a pré-campanha que Rio evitou criticar o Governo pelas falhas no processo de descentralização. Porventura, o líder do PSD não quis fechar a porta do diálogo. 

A estratégia de quase nunca atacar o primeiro-ministro foi aliás adoptada em toda a campanha, à excepção de Tancos. Aí Rui Rio lançou a dúvida sobre se o primeiro-ministro sabia ou não sabia da encenação do achamento do material de guerra, fez subir a tensão mas logo no dia a seguir fez questão de começar arrefecer a polémica. O pólo de debate entre PS e PSD gerou-se em torno das propostas económicas em que Rui Rio tentou expor o seu (desconhecido da política nacional) porta-voz para as finanças, Joaquim Sarmento, num tiro directo ao ministro socialista Mário Centeno. 

Numa campanha atípica para o PSD e que, por vezes, evidenciava alguma inexperiência na organização, Rio esteve muito na rua sem a preocupação de ter ou não máquina partidária mobilizada. E em muitos casos não estava, mesmo em terreno forte para o PSD. A aposta da campanha com sessões de conversas em vez de comícios permitiu fazer sobressair a imagem de um político descontraído, a ser ele mesmo, ainda que pareça ter pouco gosto pelo contacto pessoal nas ruas. Rio é contra o folclore político, mas dançou, cantou e tocou bombo. Ao mesmo tempo, quis dar a ideia de que se preparava para ser chefe de Governo e anunciou o seu ministro da Agricultura, Arlindo Cunha, que já teve a pasta num executivo de Cavaco Silva.

Os notáveis do PSD estiveram fora da campanha. Só Ângelo Correia, Paulo Rangel, o ex-líder Luís Filipe Menezes e Alberto João Jardim deram a cara. O ex-presidente do Governo regional da Madeira teve o palco do comício no Porto e aproveitou para atacar o primeiro-ministro e a esquerda – o “fascismo-comunismo” - , num discurso critico para António Costa que pouco se ouviu nesta campanha. 

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