Até quando vai ficar o PS em silêncio?

São muitas as perguntas sobre Tancos que o PS e o Governo têm para responder e é errado acreditar que o silêncio acabará por as postergar ou fazer esquecer

Já toda a gente percebeu que na campanha “não podemos deixar de falar de um caso que é grave”, como designa Catarina Martins a vilania de Tancos. Toda a gente, menos a gente do PS. A acusação do caso envolve um ex-ministro e representantes das mais altas esferas das Forças Armadas, da GNR e da Judiciária Militar – para lá dos inquéritos em curso a figuras gradas do Ministério Público, noticia o DN. O caso fez de uma Comissão Parlamentar de Inquérito uma farsa, contaminou as relações entre Belém e São Bento, gera fluxos de informação e contra-informação que intoxicam a política. Está-se a criar um vírus que afunda a credibilidade do Estado, dissemina suspeitas entre altas figuras da política e afunda o ânimo do país que se habituara a assistir a uma campanha decente e razoavelmente esclarecedora.

Ainda assim, a cúpula do PS, a começar pelo seu secretário-geral, decretou que toda esta teia que configura uma das mais graves políticas do país em muitos anos não passa de um assunto da Justiça. Acreditar que é possível gerir um caso desta dimensão e gravidade apagando-o da agenda da campanha não é só um erro: é também um acto de demissão pública do PS. Porque se as campanhas servem para alguma coisa é para projectar o futuro com base na memória do passado recente. E, juntamente com o drama dos incêndios, o caso de Tancos converteu-se no maior drama da política nacional desse período.

São muitas as perguntas sobre Tancos que o PS e o Governo têm para responder e é errado acreditar que o silêncio acabará por as postergar ou fazer esquecer. Nem os jornais, nem a oposição o permitirão – mesmo que alguns dos seus líderes, como Rui Rio, tenham de repensar os seus ideais sobre a Justiça. Manter esta atitude acabará por colar o PS a ideia de que cultiva um silêncio comprometido. Insistir na tese judicial soará a desculpa de mau pagador. Insinuar que a acusação resulta de uma “conspiração política”, como noticiava o Expresso, é devastador para um partido com uma penosa história judicial.

A bem da campanha e do próprio PS, resta uma alternativa: falar, explicar e justificar se for caso disso. A protecção concedida a Azeredo Lopes até ao momento em que ambos leram o memorando que relatava a encenação, o apoio inabalável que o ex-ministro recebeu de António Costa são episódios políticos sujeitos a um legítimo escrutínio. Até porque, no essencial, a Justiça está do lado de António Costa – que considera não haver razões para lhe atribuir o conhecimento da velhacaria que se congeminou em torno das armas.

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