Madeira: PSD venceu sem maioria. E agora, CDS?

Líder do CDS considera que coligar-se com o PS seria defraudar o eleitorado, mas avisa o PSD que não quer ir para o governo a qualquer custo.

Miguel Albuquerque
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Miguel Albuquerque LUSA/GREGÓRIO CUNHA
Paulo Cafôfo
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Paulo Cafôfo LUSA/HOMEM GOUVEIA

Quando a noite de domingo começou, a sede do PSD no Funchal estava em silêncio. O edifício, austero, cinco pisos, que cresce onde a Rua 31 de Janeiro faz esquina com a Rua dos Netos, tem sido o epicentro, nestes 43 anos de democracia, dos festejos eleitorais dos sociais-democratas do arquipélago. É de ali que, contados os votos, a caravana laranja parte em fanfarra pelas ruas da cidade, para anunciar ao todos aquilo que todos invariavelmente foram sabendo: o PSD ganhou as eleições na Madeira.

Este domingo não foi diferente, mas foi preciso esperar pelas 22 horas, 180 longos minutos após o fecho das urnas, para os corredores da sede do PSD-Madeira acordarem. Foi (só) nessa altura que ficou claro que o partido que governa a região autónoma desde 1976 podia, em teoria, continuar a governar.

Foi nesse momento que as contas eleitorais confirmaram uma maioria de direita e que os 21 deputados garantidos pelo PSD (as primeiras notícias que chegaram à Rua dos Netos falavam até em 23 mandatos), somados aos três parlamentares do CDS, resultavam em 24 eleitos. A conta redonda, para uma maioria parlamentar numa assembleia legislativa onde cabem 47 deputados. Os mesmos 24 parlamentares que, há quatro anos, na primeira vez que Miguel Albuquerque foi votos, o PSD conseguiu sozinho.

Na Madeira, é todo o mundo novo que se abre. O PSD, maioritário desde sempre no arquipélago, nunca soube (nem precisou, diga-se) de negociar com a oposição. Pelo contrário. O jardinismo tem um histórico de destratar deputados e dirigentes da oposição, numa dialéctica que não poupava, muitas vezes, os insultos mais íntimos, mais pessoais. Já o CDS sempre foi oposição e todas as tentativas de entendimento que foram sendo esboçadas ao longo dos anos – mesmo naqueles em que a direita, em coligação, governou o país – esbarraram com força na pouca vontade de diálogo de Alberto João Jardim.

Tanto, que em 2011, quando se pensou que a maioria social-democrata poderia estar em risco, o líder do CDS da altura, José Manuel Rodrigues, não colocou de parte um entendimento com o PSD, mas sem Jardim.

Decisão do CDS

O que fará agora Rui Barreto, que substituiu Rodrigues na liderança dos centristas? Primeiro, vai dar “primazia” ao PSD. Durante a campanha, sempre que perguntavam (e perguntaram muitas vezes) sobre com quem preferia coligar-se, se com o PSD, se com o PS, Barreto respondia que ia ouvir o eleitorado. “Sempre disse que respeitaria a vontade maioritária do povo. O povo deu uma indicação, quem ganhou as eleições foi o PSD”, disse domingo, já noite dentro, citado pelo portal Sapo24.

Antes, no discurso de vitória – porque foi de vitória o ambiente na sede do CDS-Madeira –, tinha avisado que não iria abdicar do programa de governo, e não aceitaria ir para o governo a qualquer custo. “O centro-direita venceu as eleições na Madeira. E como o centro-direita venceu as eleições. A esquerda perdeu”, argumentou, distanciando-se do PS, que, do outro lado da cidade, piscava-lhe o olho.

“Ficou bem expressa uma vontade de mudança na população e é por isso que aqui afirmo uma declaração de intenção: estou disponível para fazer uma coligação com todos os partidos da oposição”, disse Paulo Cafôfo, que encabeçou a candidatura socialista ao governo regional. A maioria da população, continuou Cafôfo, falando para apoiantes numa praça da cidade, não votou no PSD, e é por isso que o PS quer uma solução de consenso de todo o parlamento, para afastar os sociais-democratas do futuro governo.

Com 19 deputados, o PS precisa para concretizar essa solução do CDS e ainda dos três eleitos pelo JPP. A CDU, com um deputado único, ficaria de fora. A ideia, possível na matemática, esbarra, a julgar pelo que foi dito, na convicção do CDS. Barreto, diz mesmo que um acordo com o PS “defraudava” o eleitorado centrista.

“[O PS e Paulo Cafôfo] escolheu os seus parceiros [BE, PTP, PDR, Nós, Cidadãos], espatifou duas coligações, e ainda há uma semana destas eleições, admitiu que queria uma ‘geringonça’ na Madeira”, responde Rui Barreto, dizendo que os socialistas deixaram claro que preferiam um entendimento “à esquerda e à extrema esquerda” do que o CDS. “O povo da Madeira deu uma indicação clara de um governo de centro direita”, insistiu ao Sapo24.

Miguel Albuquerque concorda. O PSD, disse no final da noite, venceu de forma “clara e inequívoca”, e assumirá a “responsabilidade”, legada pelo voto dos cidadãos, de formar governo num “quadro de estabilidade parlamentar”. Para isso, admitiu, já falou com o CDS para um acordo de governo para o arquipélago. “Será um acordo de coligação de governo”, afirmou, considerando “fundamental” que os dois partidos tenham elementos no executivo, em nome de uma maior consistência na governação.

Alberto João Jardim, que governou durante quatro décadas sempre com maioria absoluta, não esconde o desagrado com o resultado. “Não estou satisfeito. Ainda tentei deitar a mão. O PSD paga, neste momento, o preço dos dois primeiros anos desastrosos de governo que fez aqui na Madeira”, disse à RTP, ressalvando que não está a pedir a “cabeça” de Albuquerque. O partido precisa, isso sim, de mudanças internas importantes, e agora de aprender a governar em coligação com o CDS.

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