Portimão quer fixar-se no mapa da Clipper Race, a regata de veleiros à volta do mundo

A regata idealizada por Robin Knox-Johnston, o primeiro homem a completar uma volta ao mundo a solo sem escalas e assistência, teve no Algarve a primeira escala no percurso de circum-navegação que durará quase um ano. “Uma oportunidade incrível”, diz a participante portuguesa Inês Soares.

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Serviu como um aperitivo para a odisseia que se seguirá nos próximos dez meses, mas após partirem de Londres e realizarem uma primeira paragem em Portimão, os Clipper 70 - barcos de 70 pés (21 metros) – que participam na Clipper Round the World Yacht Race 2019-20, prova que permite a qualquer apaixonado por vela dar a volta ao mundo num veleiro, já rumam para Punta del Este, no Uruguai. Porto de abrigo da prova pela primeira vez, Portimão quer fixar-se no mapa da regata e voltar a ser a primeira paragem da prova em 2023.

A partida da Clipper Round the World Yacht Race 2019-20 aconteceu a 1 de Setembro das docas de St. Katharine, a uma dezena de metros da emblemática Ponte de Londres, e teve como primeira escala técnica a marina de Portimão, a uma distância de aproximadamente 1200 milhas náuticas.

O primeiro dos onze Clipper 70 a ligar o Reino Unido ao Algarve foi o Punta del Este, que tem ao seu comando o skipper Jeronimo Santos Gonzalez, o primeiro espanhol a liderar um barco na Clipper Race. Com mais de 95% da regata ainda por cumprir, a Fugas subiu a bordo de um dos veleiros da prova para medir o pulso a organizadores e participantes de uma competição singular.

No total, ao longo de praticamente um ano, os Clipper 70 terão que percorrer 40 mil milhas náuticas, divididas por seis etapas oceânicas. A bordo dos veleiros, estarão um skipper e um co-skipper, ambos profissionais. A restante tripulação, será formada por quem tiver tempo, dinheiro, e, acima de tudo, espírito aventureiro e paixão pelo mar. É o caso de Inês Soares.

Aos 32 anos, esta portuguesa que está radicada em Inglaterra desde 2006 foi uma das tripulantes do WTC Logistics e, em conversa com a Fugas em Portimão, revelou que apesar de na adolescência ter praticado vela em Cascais, o seu caminho cruzou-se com a Clipper Round the World Yacht Race por mero acaso.

A trabalhar no Hospital de Liverpool, onde está a fazer formação em reumatologia, Inês Soares recorda que há dois anos a Clipper Race partiu da cidade onde vive e acabou por ir ver o arranque da regata para apoiar a “amiga de uma amiga que ia participar”. “Aí recordei os tempos da vela e da liberdade que tinha ao velejar. Pensei que um dia, talvez na reforma, gostaria de entrar.”

No entanto, seis meses depois, a vida de Inês deu uma volta, abrindo uma porta para antecipar a aventura: “A minha vida pessoal mudou e fiquei com dinheiro disponível, que iria ser utilizado para comprar casa. Por isso, achei que seria uma boa altura para fazer isto. Pedi seis meses sabáticos no hospital, que foram autorizados. E aqui estou…”

A decisão, a cerca de ano e meio do arranque da regata, permitiu que Inês Soares se preparasse atempadamente. “Comecei a fazer mais escalada, que é bom para fortalecer os membros superiores, e também triatlo. Procurei saber mais sobre a regata e pedir dicas de quem já tinha participado. As experiências são diferentes, mas a maioria considera que é uma oportunidade incrível.”

Ao fim de uma primeira semana de fortes emoções, esta médica portuguesa faz um balanço positivo: “Conheci gente diferente, velejei de dia e de noite, vi o nascer e o pôr-do-sol. Vi golfinhos. Deparei-me com condições exigentes e esteve completamente de lado no barco com os pés quase na água. Mas as partes difíceis fazem parte e é uma experiencia que me fez crescer a níveis que não imaginava.”

A experiência vivida por Inês Soares enquadra-se no objectivo de “vender sonhos” que William Ward diz proporcionar. CEO da Clipper Ventures, a empresa que organiza a regata, este inglês salienta que “de outra forma estas pessoas não teriam a oportunidade de dar a volta ao mundo numa competição à vela” e mostra-se muito satisfeito com a entrada de Portimão na rota da Clipper Race.

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Robin Knox-Johnston

Co-fundador da regata juntamente com Robin Knox-Johnston, o primeiro homem a completar uma volta ao mundo a solo sem escalas e assistência, William Ward refere que após uma partida no Reino Unido “o ideal é ter uma primeira paragem na Europa”, uma vez que “as tripulações são amadoras e é importante ter uma semana a velejar que funcione como um aquecimento, apesar de já ser em competição a sério”.

Com a posição geográfica ideal, “Portugal é certamente um local perfeito para essa primeira paragem, já que permite seguir para o Brasil, a Argentina ou o Uruguai”, mas o principal responsável pela parte comercial do evento adverte, em declarações à FUGAS, que nada está ainda fechado para 2021: “Podemos voltar ao Algarve, mas também podemos ir para La Rochelle, Bilbau, Corunha ou até para a Madeira. Estamos em negociações com algumas cidades.”

Se do lado da organização da Clipper Race há abertura para manter a prova no Algarve, da parte de Marina Correia, directora-geral da Marina de Portimão e uma das responsáveis por colocar Portugal no mapa da competição, não há dúvidas que casamento da cidade algarvia com a Clipper Race será duradouro.

Marina Correia defende que “esta regata perde se não se mantiver no mesmo local” e “terá que ser sustentada pela repetição”, por isso o objectivo é “fixar Portimão no mapa da Clipper Race”.

“Daqui a dois anos acredito que será possível termos esta prova novamente em Portimão com mais apoios locais que não tivemos tempo para angariar agora. Esses apoios serão traduzidos em qualidade e na melhoria das condições. A grande vantagem deste tipo de regata internacional é o acolhimento e a agregação junto da população local. Esse será o desafio para uma próxima edição, que eu espero que venha a acontecer”, conclui a directora-geral da Marina de Portimão em conversa com a FUGAS.

Enquanto o mapa de 2023 ainda não fica preenchido – a entrada do Vietname e da Coreia do Sul no roteiro da regata está confirmada -, os onze Clipper 70 rumam agora para a cidade uruguaia de Punta del Este. Do Uruguai, a frota segue pelo Atlântico Sul até a Cidade do Cabo, na África do Sul; depois cruzam os mares do Sul até Fremantle, na Austrália Ocidental; passam em seguida pelas Whitsundays na costa oriental australiana, rumando à China.

A rota seguinte percorrerá o Pacífico até à costa Oeste dos Estados Unidos, seguindo-se a travessia do mítico Canal do Panamá. A terminar, haverá uma travessia do Atlântico antes do regresso a Inglaterra, no Verão de 2020, onde os tripulantes vão desembarcar já como veladores oceânicos comprovados.

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