Trump despede o “falcão” John Bolton, via Twitter

O mais feroz dos neoconservadores não percebeu que o Presidente flutua ao sabor da sua agenda eleitoral. Acabou derrotado e isolado.

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John Bolton assumiu o cargo em Abril de 2018 Paolo Aguilar / EPA

O Presidente americano, Donald Trump, demitiu esta terça-feira o seu conselheiro de Segurança Nacional, o “falcão” John Bolton, por entre rumores de conflitos na política externa sobre temas como o Afeganistão, o Irão ou a Coreia do Norte. Como é hábito, Trump comunicou o “despedimento” num tweet. É o terceiro ocupante do cargo caído em desgraça. Ao fim da tarde, aguardava-se uma conferência de imprensa de Bolton.

“Informei John Bolton ontem à noite de que os seus serviços já não eram necessários na Casa Branca. Discordei veementemente de muitas das suas sugestões, tal como outros na Administração, e portanto pedi ao John a sua demissão, que ele aceitou esta manhã”, escreveu Trump. “Será nomeado um novo conselheiro de Segurança Nacional na próxima semana.”

Segundo a Foreign Policy, Bolton é afastado “depois de ter perdido uma série de batalhas” e de se encontrar “crescentemente isolado”. O mais imediato tema de conflito teria sido a anulação do projecto de uma cimeira com os líderes dos talibans e com o Presidente afegão, Ashraf Ghani. Trump cancelou o projecto no sábado, sempre por tweet, depois de reacções negativas de meios republicanos que criticaram a sua realização em vésperas do aniversário dos atentados de 11 de Setembro.

Trump desejaria receber os afegãos na residência de Camp David. Um regresso das tropas americanas em 2020, ano eleitoral, seria um importante trunfo político. A ideia seria apoiada pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, pelo Pentágono e pelo representante especial americano para o Afeganistão, Zalmay Khalilzad. Mas foi também fortemente contrariada por Bolton. Na sua opinião, o convite a “uma organização terrorista para Camp David (…) abriria um terrível precedente”, confidenciou à imprensa uma fonte da Administração.   

O caos como regra

O isolamento de Bolton não diz apenas respeito ao Presidente. Registaram-se sucessivas e azedas disputas de competências entre Pompeo e Bolton. Se ambos terão os mesmos instintos de “falcão”, Pompeo sabe adaptar-se aos desejos presidenciais.

O Irão foi outro tema de conflito. Trump deu sinais de querer adoptar nesta fase política uma linha mais diplomática, não disfarçando, por exemplo, a vontade de se encontrar com o Presidente iraniano, Hassan Rouhani. Mas, observou o diário online Politico, Bolton é “profundamente céptico quanto ao valor de negociações com adversários. Antes da sua entrada na Casa Branca defendeu publicamente uma estratégia de ‘mudança de regime’ em Teerão”.

Destacado neoconservador, Bolton foi um paladino da invasão do Iraque, que hoje continua a defender. Advogou a ‘mudança de regime’ não apenas no Iraque e no Irão, mas também na Síria, na Líbia, na Venezuela ou na Coreia do Norte. Foi um incansável adversário da política iraniana de Barack Obama e do acordo nuclear de 2015.

Bolton sucedeu no cargo ao general H.R. Mc Master, demissionário após inúmeros conflitos com o Presidente e o Pentágono. De início, Trump pareceu adoptar a “linha dura” do novo conselheiro, mas uma primeira ruptura terá surgido com a abertura diplomática à Coreia do Norte. Foi um facto visível: enquanto Trump se encontrava com Kim Jong-un, John Bolton cumpria uma missão na Mongólia. Esteve sempre afastado dessa iniciativa de que discordava. Outro momento crítico foi quando os iranianos abateram um drone americano no Estreito de Ormuz. Bolton queria uma resposta militar que, à última hora, Donald Trump anulou. Bolton não se terá apercebido dos interesses eleitorais do Presidente e da lógica das suas mudanças de humor.

Enfim, a dança dos conselheiros de Segurança Nacional, tal como a demissão do secretário de Estado Rex Tillerson, em 2018, ou a do secretário da Defesa, general James Mattis, em Janeiro deste ano, mostram que o caos e a incerteza são a regra de funcionamento da Administração Trump.

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