Apoio do PS a Marcelo em 2021? Em Belém ninguém acredita

Marques Mendes afirmou, no domingo à noite, que o PS não terá “outra hipótese” que não a de apoiar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa em 2021, pois este tem uma “popularidade estratosférica”. Mas no Palácio de Belém, esse é um cenário visto como pouco credível, sobretudo depois da entrevista de António Costa ao Expresso.

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Marcelo Rebelo de Sousa com António Costa Nelson Garrido

Há uma nuance do discurso do primeiro-ministro sobre as presidenciais de 2021 entre as últimas entrevistas dadas à SIC, em Março, e à TVI em Outubro passado, e as que fez agora ao Expresso. Se às duas cadeias de televisão Costa dizia que era cedo para tomar uma posição porque Marcelo Rebelo de Sousa ainda não tinha tomado uma decisão sobre a recandidatura ou porque não queria condicionar o seu actual mandato, agora coloca a incógnita sobre o futuro quadro parlamentar e a forma como o Presidente vier a definir o que será o seu segundo mandato.

“Acho muito extemporâneo”, afirmou Costa ao Expresso, conjecturando: “Primeiro porque não sabemos quem são os candidatos, não sabemos qual é o quadro político que iremos ter... Iremos ter uma maioria clara na AR, seja do PS ou de um conjunto de forças políticas, em que é importante que o Presidente seja um factor de reequilíbrio, como aconteceu nesta legislatura? Ou temos um Governo frágil, dependente de jogos parlamentares e em que o papel do Presidente será distinto? É preciso também saber qual é a ideia do Presidente sobre o seu segundo mandato, visto que a história nos tem ensinado que a regra é que os segundos mandatos costumam ser particularmente adversos para os governos em funções...”.

No seu espaço de comentário dominical na SIC, Marques Mendes considerou que esta exigência era absurda, e disse que as declarações de António Costa servem sobretudo para demonstrar uma posição de força nesta matéria que, na sua opinião, o líder do PS não tem, de facto. Para o ex-líder do PSD, aos socialistas só vai restar a hipótese de apoiar Marcelo Rebelo de Sousa, para não sofrerem uma derrota eleitoral, para não afrontarem o Presidente mas também para devolverem ao candidato presidencial do PSD o apoio que este partido deu ao candidato socialista, Mário Soares, em 1991.

Só que esta situação não tem um paralelo político comparável ao contexto de há 20 anos, sobretudo em relação às eleições legislativas. Na época, o PSD deu apoio ao candidato do PS quando estava em vésperas de eleições legislativas – ocorreram dez meses depois das presidenciais. Para renovar a sua maioria absoluta, Cavaco Silva precisava do apoio do eleitorado socialista. Agora, o cenário é inverso e as eleições presidenciais acontecem pouco mais de um ano após as legislativas.

Daí que o factor principal será o quadro parlamentar que resultar do escrutínio de 6 de Outubro próximo e a relação de forças que António Costa tiver com os outros partidos, bem como a forma como Marcelo se posicionar perante a nova situação. Se a relação do Presidente com o novo Governo for atribulada, ou se Marcelo decidir assumir mais protagonismo num cenário em que o PS tenha de fazer alianças rotativas com os outros partidos, será pouco provável ter o apoio de um partido que, já por si, teria dificuldades em aceitá-lo. 

“Ao PS basta não ter um candidato”, ouviu o PÚBLICO de fonte presidencial, notando uma alteração qualitativa na posição do primeiro-ministro, que condiciona a sua decisão aos resultados das eleições, à forma como tenciona conduzir o próximo mandato e à forma como o PS tiver de gerir as relações com os outros partidos. Mas tudo isso tendo como certa a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa – o que, em Belém, ainda não é dada por garantida.

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