Sondagem após visita de Boris Johnson dá sim à independência da Escócia

É a primeira grande sondagem a apontar no sentido da saída do Reino Unido nos últimos dois anos. Um terço dos eleitores escoceses do Partido Trabalhista que votaram contra a independência em 2014 dizem que mudaram de opinião.

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O novo primeiro-ministro britânico visitou a Escócia no início do mês LUSA/Simon Dawson / POOL

Pela primeira vez nos últimos dois anos, uma das principais sondagens publicadas no Reino Unido indica que a maioria dos eleitores da Escócia votaria a favor da independência.

Desde a derrota do sim no referendo sobre a independência, em Setembro de 2014, as principais sondagens independentes têm apontado no mesmo sentido – a manutenção da Escócia como parte do Reino Unido.

A excepção a essa tendência aconteceu no Verão de 2016, na sequência do referendo sobre o “Brexit”. Nessa altura, algumas sondagens diziam que a maioria dos eleitores votaria a favor da independência.

Nos três anos seguintes, a tendência geral voltou a estar em linha com o resultado do referendo de 2014: 55,3% contra a independência e 44,7% a favor da independência. E a última sondagem a apontar um sentido oposto foi publicada há mais de dois anos.

Mas a recente entrada em funções e a visita à Escócia do novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, parece ter impulsionado uma mudança na vontade dos eleitores escoceses.

Segundo uma sondagem publicada esta segunda-feira pelo conservador Michael Ashcroft, 46% dos 1019 inquiridos votariam a favor da independência e 43% votariam contra. Excluindo os que disseram que não votariam e os que não sabem como votariam, o resultado é de 52% a favor e 48% contra.

“Na sequência da visita do primeiro-ministro a Edimburgo, questionei os escoceses para medir o apoio a um segundo referendo sobre a independência e para avaliar a opinião sobre a própria independência”, disse Michael Ashcroft no seu site.

“Descobri que uma pequena maioria apoia uma nova votação – a primeira vez que a independência da Escócia lidera em mais de dois anos.”

Apesar da rejeição da independência em 2014, a forma como Londres tem gerido o “Brexit” contribuiu para um maior afastamento entre os dois lados.  Essa diferença ficou patente no referendo para a saída da União Europeia (UE), em 2016 – nessa altura, os eleitores da Escócia e da Irlanda do Norte votaram a favor da manutenção na UE, enquanto os ingleses e os galeses votaram a favor da saída.

Nos últimos três anos, o governo do Partido Nacional Escocês tem defendido a realização de um segundo referendo sobre a independência com o argumento de que o “Brexit” está a ser feito contra a vontade dos seus cidadãos.

Para a mudança no sentido de voto sobre a independência contribuíram um terço dos eleitores do Partido Trabalhista, a maioria dos que votaram contra a saída do Reino Unido da UE e 18% dos que votaram contra a independência em 2014 – todos eles dizem agora que votariam de forma diferente, a favor da independência da Escócia.

A sondagem de Michael Ashcroft mostra também que uma larga maioria dos escoceses prefere um governo do Partido Trabalhista liderado por Jeremy Corbyn (57%) do que um overno do Partido Conservador liderado por Boris Johnson. Isto apesar de 29% dizerem que Johnson daria um melhor primeiro-ministro do que Corbyn, que recolhe apenas 23% – e quase metade dos inquiridos disse que não sabe qual dos dois seria melhor.

No fim de Julho, Boris Johnson iniciou um périplo pelo Reino Unido para tentar sossegar os representantes políticos e económicos escoceses, galeses e norte-irlandeses que receiam a saída do país da UE sem acordo.

O Governo britânico está determinado a seguir essa via, se Bruxelas se recusar a negociar um novo acordo, e acredita que o no deal pode melhorar a sua posição negocial. O primeiro-ministro garante, no entanto, que esse cenário não coloca em causa a unidade territorial do Estado.

Em declarações aos jornalistas depois do encontro com Johnson, a líder do governo escocês, Nicola Sturgeon, afirmou que o primeiro-ministro britânico quer mesmo avançar para um “Brexit” sem acordo e reafirmou que essa posição empurra a Escócia para nova consulta secessionista.

“Mesmo que Boris Johnson diga publicamente que prefere chegar a um acordo [com a UE], a verdade é que ele está mesmo à procura de um ‘Brexit’ sem acordo, porque é essa a lógica da posição radical que tem vindo a assumir”, disse a primeira-ministra escocesa e líder do Partido Nacional Escocês.

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