Indústria apela a plano “maciço” de requalificação de trabalhadores

A confederação da indústria defende que a requalificação é a resposta para os desafios colocados pela automatização e pela digitalização da economia. Uma realidade que “já está aí” e obrigará a requalificar 700 mil trabalhadores.

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António Saraiva, presidente da CIP, quer maior ligação entre as escolas e as empresas Miguel Manso

A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) vai desafiar os partidos políticos a assumir a requalificação dos trabalhadores como uma prioridade para responder à crescente automatização e digitalização da economia. Tendo como ponto de partida um estudo que aponta para a necessidade de requalificar cerca de 700 mil trabalhadores até 2030, a CIP vai entregar um documento a todos os partidos com algumas medidas que considera prioritárias para responder a este desafio.

“As organizações partidárias reagem tarde à realidade dos tempos e, por isso, queremos colocar na agenda um tema que já está aí” e que é a digitalização e automatização da economia, afirma o presidente da CIP, António Saraiva, que gostaria de ver os partidos incorporarem nos seus programas eleitorais as questões relacionadas com o futuro do trabalho e com a requalificação.

Para a CIP, o mercado de trabalho “já mostra uma gritante escassez de oferta nas áreas tecnologicamente especializadas “e “tudo aponta para que esta tendência se agrave”.

Aproveitando o facto de os partidos estarem agora a apresentar os seus programas eleitorais e partindo de um estudo apresentado em Janeiro, a confederação que agrega o sector da indústria defende que é altura certa para repensar os currículos desde o ensino básico, para promover um plano de requalificação “maciço da actual força de trabalho” e para assumir um conjunto de medidas que promovam a inovação e o crescimento sustentável da economia digital.

No documento, a CIP assume que a qualificação dos cidadãos é a principal prioridade. E as empresas, adianta António Saraiva, têm de assumir o seu papel e “não se podem demitir” de formar os seus trabalhadores.

40 horas de formação obrigatória aplaudidas

Nesse quadro, o presidente da CIP aplaude o facto de a revisão da legislação laboral aprovada na semana passada no Parlamento ter alagado de 35 para 40 o número de horas anuais de formação que as empresas devem assegurar aos seus trabalhadores.

A medida, proposta pelo PCP, não estava no acordo assinado na concertação social e que deu origem à proposta do Governo, mas “se essa matéria tivesse sido incorporada no acordo, a CIP teria aceitado essa inclusão, porque é um caminho que as empresas têm que fazer”.

“Seria contraditório estar a defender a necessidade de uma maior qualificação dos recursos humanos e não encontrar mecanismos para que ela seja promovida. As empresas têm de estar despertas e disponíveis para estas necessidades”, sublinha António Saraiva.

O documento alerta, contudo, que as empresas se confrontam com uma “falha de mercado”: os trabalhadores, uma vez qualificados, podem facilmente ir trabalhar para a concorrência.

A solução passará por salários mais elevados? “Hoje a realidade já nos mostra que não é apenas a remuneração que retém os trabalhadores, há um conjunto de aspectos que se somam para a retenção de recursos humanos qualificados que é a grande batalha que enfrentamos”, responde António Saraiva.

“Há um conjunto de aspectos, nem sempre objectivos, que são importantes”, acrescenta, dando como exemplo a conciliação entre trabalho e família.

Outra preocupação da CIP é a adaptação dos currículos académicos e escolares às novas realidades e desafios tecnológicos, o que passa por uma “maior articulação entre escolas e empresas”. O objectivo, destaca o presidente da confederação, é “dar aos jovens capacidade de adaptação e analítica para mais rapidamente e de forma mais capaz pôr em equação os problemas e a sua resolução”.

O documento revela que os jovens que actualmente frequentam o ensino básico estão a preparar-se para entrar num mercado de trabalho onde 65% das profissões já serão totalmente novas.

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