Em Dia da Tomada da Bastilha, Macron pressiona Europa a desenvolver capacidades de defesa

O Presidente francês disse que a “construção de uma Europa de defesa é uma prioridade para a França”. No dia anterior, anunciou a criação de um comando espacial e, na semana passada, inaugurou o primeiro de uma série de novos submarinos nucleares.

Foto
Macron quer fortalecer o papel de França na Europa com a Iniciativa de Intervenção Europeia LUSA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

O Presidente francês quis que o Dia da Tomada da Bastilha fosse uma tomada de posição a favor da cooperação de defesa europeia e assim foi ao defender a Iniciativa de Intervenção Europeia, estrutura militar independente da NATO e da União Europeia. Entre mais de quatro mil militares, nove caças, 39 helicópteros e até uma plataforma individual a jacto, Emmanuel Macron garantiu que a “construção de uma Europa de defesa é uma prioridade para a França”. “A nossa segurança e defesa passam pela Europa”, reiterou. 

“Nunca desde o final da II Guerra Mundial a Europa foi tão necessária. A construção de uma Europa de defesa, em ligação com a Aliança Atlântica, que celebra 70 anos, é uma prioridade para a França”, disse o Presidente Macron, lado a lado com outros líderes europeus, entre os quais a chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. “Um dos desafios que a Iniciativa Europeia de Intervenção quer enfrentar, bem como outros projectos europeus, é o fortalecimento da nossa capacidade de agir colectivamente”.

Mas, para isso, terá de ultrapassar as desconfianças alemãs. “Para os alemães, é uma tentativa deliberada para formar uma coisa importante fora das estruturas da União Europeia e da NATO, e não é visto como jogada positiva mas como de fragilização a UE”, explicou Claudia Major, especialista em segurança europeia ao Institute for International and Security Affairs alemão, ao Deutsche Welle. Por agora, Berlim opta por a integrar em vez de ficar de fora.

Lançada no ano passado, a iniciativa é uma coligação composta pelas forças armadas de dez Estados europeus, entre os quais Alemanha e Portugal, liderada pelo Palácio do Eliseu. Não pretende competir com a NATO, mas complementá-la criando novas capacidades militares “para responder a crises que podem ameaçar potencialmente a segurança europeia”. E, pelo meio, Paris reforça o papel que desempenhou nas últimas décadas na construção europeia ao apostar na dimensão militar – Macron tem defendido uma reforma profunda da UE para se aprofundar a integração.

Além de demonstração de força, a parada foi também um símbolo de cooperação entre os dez países – Reino Unido, Portugal, Holanda, Dinamarca, Bélgica, Estónia, Espanha, Alemanha, Finlândia e França. Militares de todos estes países participaram no desfile encabeçado por soldados espanhóis.

Porém, houve uma ausência notada. A primeira-ministra britânica, Theresa May, que no dia 23 de Julho deixa o cargo, não esteve em Paris e foi representada pelo vice-primeiro-ministro, David Lidington. Paris não perdeu tempo a sublinhar, enquanto helicópteros britânicos sobrevoavam os Campos Elísios, que a cooperação de defesa com Londres continuará próxima depois da saída do Reino Unido da União Europeia.

A parada teve um momento de contestação ao Presidente francês: centenas de membros do movimento de contestação à política fiscal e social Coletes Amarelos vaiaram Macron enquanto este percorria de carro a Avenida dos Campos Elísios. Terminado o desfile, a polícia de intervenção francesa dispersou os manifestantes com gás lacrimogéneo. Mais de 170 pessoas foram detidas.

Eliseu aposta nas forças armadas francesas

Desde que chegou ao Palácio do Eliseu que Macron tem apostado em reformar tecnologicamente as Forças Armadas francesas. Na parada, houve uma demonstração de um Flyboard Air, plataforma voadora a jacto. Foi pilotada pelo seu inventor, o francês Franky Zapata, campeão mundial de Jet Ski francês, que o fez com uma arma na mão. 

No sábado, Macron anunciou a criação de um “comando espacial” no seio da Força Aérea francesa em Setembro, considerando o “assunto de verdadeiro interesse de segurança nacional”. “O novo projecto e doutrina militar que me foi proposto vai garantir a nossa defesa no espaço. Vamos reforçar a nossa compreensão da situação espacial. É melhor proteger os nossos satélites de forma activa”, disse o líder francês sobre esta nova aposta que tem um orçamento de 3,6 mil milhões de euros.

Macron já tinha prometido no ano passado a criação de “uma estratégia de defesa espacial”. Com este passo, Paris junta-se à corrida espacial ao lado dos Estados Unidos, China e Rússia e antecipa-se à cimeira de líderes da NATO, a 3 e 4 de Dezembro, em Londres, no Reino Unido. Os diplomatas da NATO afirmam que declarar o espaço um domínio vai abrir o debate sobre se se deve eventualmente usar armas espaciais capazes de destruir mísseis inimigos, defesas aéreas e satélites.

A França já disse que quer garantias, nomeadamente sobre como serão usados os seus activos espaciais em caso de crise – sob que comando ficarão – e em que moldes o conhecido artigo 5.º da NATO será activado.

Não só no espaço tem o Palácio do Eliseu investido na defesa. Na semana passada, o chefe de Estado francês inaugurou o primeiro de seis submarinos nucleares furtivos da classe Barracuda. Os novos submergíveis começaram a ser desenvolvidos em 2007 e o primeiro, o Suffren, está na fase final de testes com tripulação.

Vão substituir os antigos submarinos de classe Rubis, no activo desde a década de 1980, e custaram nove mil milhões de euros. Darão novas capacidades ofensivas à França num momento em que se assiste a um forte investimento militar dos Estados Unidos, Rússia e China.

“A segurança do povo francês depende de equipamento da melhor qualidade possível, como o Suffren”, disse Macron ao inaugurar o novo submarino de 99 metros no porto de Cherbourg, no Norte do país. “Com mísseis cruzeiros, permitindo ataques nas profundezas do mar e capaz de destacar forças especiais enquanto está submerso, o Suffren começa uma nova era de forças submarinas”.

Sugerir correcção
Ler 42 comentários