Estados Unidos preparam coligação internacional marítima para o Golfo Pérsico

A iniciativa tem como objectivo o patrulhamento das águas do Médio Oriente e a escolta de petroleiros. E está direccionada para dissuadir o Irão de operações violentas na região.

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O general Joseph Dunford, chefe do Estado Maior-General dos EUA, disse que o Pentágono já delineou um plano para se formar a coligação Reuters/Jonathan Ernst

Os Estados Unidos estão a dar os primeiros passos para montar uma coligação marítima para patrulhar as águas do Golfo Pérsico e proteger os navios comerciais que por lá navegam. É a mais recente movimentação norte-americana direccionada contra as ameaças que Washington diz virem do Irão e do Iémen. Os contornos do plano vão ser revelados nas próximas semanas.

“Estamos a contactar vários países para ver se conseguimos formar uma coligação para garantir a liberdade de navegação tanto no estreito de Ormuz como no de Bab al-Mandab”, explicou o general Joseph Dunford, chefe do Estado Maior-General das Forças Armadas dos Estados Unidos, revelando que o Pentágono já delineou o plano e que falta apenas o compromisso dos países.

A ideia de Washington é começar com um “pequeno número” para se formar uma “pequena missão”, podendo esta crescer à medida que outros Estados se identifiquem com os seus objectivos e forma de actuar. Uma coligação cujo esforço financeiro não recaia sobre os ombros dos EUA, mas partilhado por todos os envolvidos. Pelo menos é esse o desejo do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segundo o jornalista a Al-Jazira.

Este novo plano militar junta-se ao envio de dois destacamentos de soldados norte-americanos para o Médio Oriente, depois de seis petroleiros terem sido sabotados no Golfo de Omã. Washington atribuiu as responsabilidades a Teerão, que, por sua vez, as negou e acusou os Estados Unidos de levarem a cabo operações militares com o objectivo de criarem pretexto para uma guerra.

Os estreitos de Ormuz e Bab al-Mandab têm uma importância geoestratégica significativa para o comércio mundial. Fazem a ligação entre o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho ao oceano Índico. Um quinto do petróleo consumido globalmente passa pelo estreito de Ormuz e os petroleiros que partem do Médio Oriente em direcção à Europa atravessam o estreito de Bal al-Mandab.

Não é a primeira vez que os Estados Unidos levam a cabo uma operação de grande escala de patrulhamento e escolta de petroleiros na zona. Em 1987, Washington interveio no conflito que opôs o Iraque ao Irão (1980-88), depois de petroleiros serem bombardeados. Bagdad levou a guerra com o Irão às águas do Golfo Pérsico atacando petroleiros iranianos e, mais tarde, Teerão retaliou da mesma forma. Foi uma tentativa de negar as receitas provenientes da venda de crude no mercado internacional.

Chamou-se ao conflito “guerra dos petroleiros” e os analistas já a compararam aos recentes ataques contra seis petroleiros. Agora, Washington age de forma semelhante, ainda que com uma coligação internacional.

“Queremos negar a este regime as receitas de que precisa para exportar a revolução, para executar uma política externa que fomenta muita da violência sectária que vemos no Médio Oriente”, disse Brian Hook, representante especial dos EUA para o Irão, à Al-Jazira.

Na semana passada as autoridades de Gibraltar, com apoio de fuzileiros britânicos, apreenderam um petroleiro iraniano sob a argumentação de violar as sanções impostas pela União Europeia. No entanto, o Governo espanhol afirmou que Londres agiu a pedido dos Estados Unidos.

“A decisão [da coligação internacional] representa um potencial conflito com o Irão. Acontece poucas semanas depois dos EUA terem quase lançado um ataque militar contra o Irão”, disse o jornalista.

No seguimento do abate de um drone norte-americano pelos Guardas da Revolução iranianos, Trump deu ordem para um ataque aéreo contra baterias antiaéreas iranianas, recuando à última hora, segundo o New York Times. Fê-lo, explicou o próprio, por o custo de vidas humanas ser demasiado elevado em comparação com o abate de um veículo aéreo não tripulado.

A tensão entre Washington e Teerão continua elevada, com este último a reverter gradualmente pontos do acordo nuclear de 2015, firmado durante a Administração Obama. Em 2017, Trump rasgou unilateralmente o acordo para isolar no palco internacional Teerão e a troca de acusações não tem cessado. 

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