Protesto de precários e “sombra” do “Brexit” marcam abertura do Encontro Ciência 2019

Cerca de 40 investigadores em situação precária protestarem no primeiro dia do Encontro Ciência 2019.

Fotogaleria
Protesto de investigadores na sessão de abertura do Encontro Ciência 2019 António Cotrim/Lusa
Fotogaleria
Protesto de investigadores na sessão de abertura do Encontro Ciência 2019 António Cotrim/Lusa

Um protesto contra o emprego científico precário e a “sombra” da saída do Reino Unido da União Europeia marcaram a abertura do Encontro Ciência 2019 esta segunda-feira.

Durante os discursos do ministro da Ciência e do primeiro-ministro, cerca de 40 investigadores em situação precária, alguns com camisolas negras, encheram e esvaziaram balões cor-de-rosa – a cor do grafismo do encontro – um protesto quase silencioso, excepto pelo som distinto de balões a esvaziarem-se.

No discurso, Manuel Heitor nunca se referiu ou dirigiu concretamente aos cerca de 40 precários que se levantaram durante a intervenção, mas assumiu “humildade no que não se conseguiu fazer” para garantir a estabilidade a “quem está em situação precária”.

“A política de ciência exige paciência”, afirmou Manuel Heitor, citando números para contrapor às razões de queixa dos investigadores, como o aumento de “520 milhões de euros de investimento público e privado em investigação e desenvolvimento” em Portugal nos últimos três anos.

Em declarações aos jornalistas, Ana Margarida Ricardo, investigadora do Instituto Superior Técnico, repetiu as razões que levam os precários da ciência a voltarem a manifestar-se no encontro nacional do sector, o facto de o programa de regularização dos vínculos precários na administração pública e os 5000 novos contratos no emprego científico não terem resolvido o problema.

Foto
“A política de ciência exige paciência”, afirmou Manuel Heitor na sessão de abertura do Encontro Ciência 2019 António Cotrim/Lusa

Para os precários, o Encontro Ciência 2019 é um “encontro-protesto” em nome dos trabalhadores do sector com “vínculos precários há muito tempo: dez, 15 e até 20 anos”. Falar em 5000 empregos científicos é falar na mesma de “contratos a prazo que daqui a poucos anos vão acabar e são só para investigadores com doutoramento”, referiu.

“A prioridade é dignificar as carreiras científicas e promover o acesso às carreiras. Investir fundos em contratos a prazo é ineficiente” porque o problema persiste e os investigadores “nunca têm estabilidade nenhuma”, referiu a investigadora do IST, argumentando que estes têm direito a manter “aspirações futuras profissionais, familiares e pessoais”.

Houve uma “melhoria inegável” com este Governo, admitiu, mas parte significativa do tempo dos investigadores continua a ser passado a candidatar-se à precariedade seguinte, em vez de estarem “focados no trabalho”. “É preciso profissionalizar a investigação científica, de outro modo não conseguimos chegar a uma sociedade baseada no conhecimento”, argumentou.

Como país convidado, o Reino Unido esteve também no foco das intervenções, com garantias de Manuel Heitor de que mesmo após a saída da União Europeia, continuará a ser o maior parceiro de Portugal na investigação científica. A prova está no facto de mais de metade dos projectos a que Portugal concorre ao Horizonte 2020 – que tem no total 6300 milhões de euros em fundos europeus para a ciência – serem em parceria com o Reino Unido (mais de 800), como referiram Heitor e o seu homólogo britânico, Chris Skidmore, que enviou uma mensagem em vídeo.

O embaixador do Reino Unido em Lisboa, Chris Sainty, lembrou que o seu país “beneficia do trabalho dos investigadores portugueses” e manifestou vontade de “levar mais longe nos próximos anos” a vertente científica da aliança de 600 anos entre os dois países.

O presidente da comissão parlamentar de ciência, Alexandre Quintanilha, afirmou que por trás da inovação está sempre “investigação básica” e apelou aos investigadores reunidos em Lisboa até quarta-feira que consigam explicar o seu trabalho à sociedade civil e aos seus colegas, para que “a sociedade perceba o sentido da procura do conhecimento para a resolução dos problemas”.

Sugerir correcção
Comentar