Berardo assegura que já pagou 231 milhões à banca a “troco de nada”

Empresário escreveu carta aberta ao presidente da Assembleia da República, na qual lamenta ataques ao seu “bom nome”. Valor em dívida a instituições financeiras totaliza 962 milhões de euros.

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José Berardo na audição da comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O empresário José Berardo garantiu esta segunda-feira que já pagou, quase só em juros, cerca de 231 milhões de euros à banca a “troco de nada”, rejeitando a ideia de ter ficado “com muitos milhões” dos portugueses.

“Nem eu, nem nenhuma entidade entidade ligada a mim, alguma vez tivemos ao nosso dispor [...] dinheiro que tenha sido emprestado pela CGD [Caixa Geral de Depósitos] ou por outros bancos”, assegurou José Berardo numa carta aberta ao presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, a que a Lusa teve acesso.

O empresário indicou que todo o dinheiro foi perdido “por ter sido imediatamente usado na aquisição de acções” e acrescentou que, quase só em juros, já pagou quase 231 milhões de euros à banca.

“E como se não bastasse o ataque ao meu património, tenho agora que defender-me do ataque ao meu bom nome”, vincou numa carta de cinco páginas, nas quais considera terem sido violados os seus direitos fundamentais na audição na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD) a 10 de Maio.

“É caso para dizer que a casa do povo fechou a porta à violação dos meus direitos fundamentais, mas logo abriu a janela a essa mesma violação”, defendeu, referindo-se ao facto de o presidente da comissão de inquérito ter acedido ao seu pedido e ter mandado sair da sala as televisões e as rádios, acabando a audição por ser transmitida por várias estações, com sinal do Canal Parlamento.

Em 23 de Maio, o empresário conhecido como Joe Berardo admitiu ter-se excedido durante a sua audição, ressalvando que não tinha a intenção de “ofender”, e esta segunda-feira afirmou que respondeu “no mesmo tom de desafio a perguntas também elas provocatórias, quando não vexatórias”.

Para Berardo, a divulgação das imagens causou danos à sua honra pessoal e faz com que a sua posição em vários processos judiciais que lhe foram movidos “dificilmente possa vir a ser apreciada com o necessário distanciamento”, uma vez que os tribunais, “ainda que inconscientemente, não são imunes aos efeitos da opinião pública”.

O empresário madeirense apelou ainda a Ferro Rodrigues que não permita que outro cidadão seja sujeito a semelhante situação e que exija aos deputados das comissões de inquérito “que não se desviem do seu fim de julgar actos políticos e de quem decide ser gestor de empresas públicas, aproveitando as mesmas para mera promoção partidária”. “Eu penitenciei-me dos meus excessos. Os excessos de outros intervenientes [...] foram mero brio parlamentar?”

No mesmo documento, Joe Berardo fez referência a declarações de Manuela Ferreira Leite ao jornalista José Alberto Carvalho, da TVI, dias após a comissão de inquérito, quando defendeu que as comissões parlamentares não têm poderes judiciais, mas apenas de avaliação política. “Citei a dra. Manuel Ferreira Leite quanto ao actual funcionamento das comissões de inquérito, porque não ignoro que a minha credibilidade ficou afectada pela transmissão televisiva ilícita da minha inquirição e do aproveitamento comunicacional dos seus momentos menos felizes nos últimos meses”, lamentou.

O empresário referiu ainda que nunca foi gestor público ou agente político, notando que “não aceita” que a comissão em causa faça julgamentos políticos ou que o “pressione” a revelar factos que não estejam “relacionados com actos dos gestores da CGD e dos responsáveis políticos e públicos pela supervisão da mesma”.

Em 20 de Abril, CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma acção executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de quase mil milhões de euros, executando ainda a Fundação José Berardo e duas empresas ligadas ao empresário. O valor em dívida às três instituições financeiras totaliza 962 milhões de euros.

Por lapso, o título da notícia na primeira página da versão impressa do PÚBLICO saiu “Berardo diz que pagou 231 mil euros à banca a ‘troco de nada'” quando deveria estar “Berardo diz que pagou 231 milhões de euros à banca a ‘troco de nada'”.

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