E se viver no campo fosse uma tendência?

Saibamos preencher Portugal de norte a sul, este e oeste, porque a realidade é que as nossas grandes cidades já quase não são portuguesas, olhando para aqueles que as podem economicamente habitar.

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Daniel Rocha

Portugal é um país relativamente pequeno. Grande parte da população e dos seus recursos estão concentrados apenas nalgumas cidades no litoral e parece não existir vontade por parte dos nossos governantes para inverter esta situação.

Vejamos o Alentejo que aguarda, há anos, pelo seu hospital central. Entretanto, quantos hospitais surgiram nos centros das grandes cidades? Vamos desejar que um filho estude, trabalhe ou forme família numa cidade sem acesso a um hospital a curta distância? O mesmo se poderá dizer das escolas e e doutros recursos, indispensáveis para retirar populações às grandes cidades, estimulando a economia no país de norte a sul, este e oeste.

Quando olhamos para os jovens, que são o retrato do presente e do futuro do país, desejamos que tenham emprego e acesso à habitação para, no segundo seguinte, o negarmos porque não investimos de forma equitativa em todo o território. Pelo contrário, permitimos que o turismo consuma as grandes cidades, de forma desmedida e insustentável, retirando oportunidades e condições de vida a tudo e a todos.

Que país estamos nós a criar e para quem? Que Portugal é este, no qual os mais jovens têm de acampar ou dormir em veículos para que não percam a sua matrícula numa universidade? É um infortúnio não nascer ou não ter família em cidades como Porto e Lisboa? Colocar um tecto máximo de cerca de mil euros para o arrendamento de um T2 numa cidade como Lisboa é uma solução no Portugal real? Quantos casais jovens têm 1000 euros para colocar de parte por mês apenas para a renda da casa?

A solução para tudo isto talvez esteja na exploração das cidades do interior do país onde poderá existir qualidade de vida se investirmos nestas regiões. Neste Portugal profundo podes adquirir um terreno e depositar a casa modular dos teus sonhos por um montante que não terás, seguramente, que ficar a pagar a vida toda como terias de fazer por um apartamento na cidade ou pela habitação que arrendas e que nunca vai ser tua, consumindo, mês após mês, grande parte do teu salário, colocando os teus sonhos e as tuas viagens pelo mundo em segundo plano.

Neste Portugal que sugiro até poderás ter que trabalhar na cidade, o que até não é problemático, visto que até temos das melhores estradas da Europa. A electricidade vai chegar a tua casa através de painéis solares e quem sabe essa energia não venha também a alimentar os veículos da tua família.

É certo que serias um urbano no campo, alguém que tem que reaprender a viver. Vais-me perguntar pela rede móvel, cultura, pelo teu cinema e pela movida nocturna, sem os quais não sabes viver? Pensemos em conjunto: em que regiões se realizam os melhores festivais portugueses? Pois é, a cultura é construída por pessoas, quer seja numa grande cidade, quer seja nos descampados do Portugal do interior. No campo o conceito, tão em voga, de slow living é uma realidade quase obrigatória que nos é oferecida, de forma sedutora.

Eu sei que a ideia de abandonar o que conhecemos para o que não conhecemos é difícil. Mas também não tenho dúvidas que essa ideia se torna bem mais atractiva quando é no nosso idioma e não noutro.

Saibamos preencher Portugal de norte a sul, este e oeste, porque a realidade é que as nossas grandes cidades já quase não são portuguesas, olhando para aqueles que as podem economicamente habitar e para os idiomas que falam. Se a vida hoje não nos permite fazer omeletes na cidade por que não as fazer com ovos caseiros no campo?

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