Havia pelo menos uma “ratoeira” na prova de Matemática do 2.º ano

Prova de aferição realizada nesta quarta-feira tinha também um nível de exigência “demasiado desajustado a alunos do 2.º ano de escolaridade”, diz a Sociedade Portuguesa de Matemática.

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Provas de aferição avaliam conteúdos de duas disciplinas Rui Gaudêncio

A prova de aferição de Matemática e Estudo do Meio do 2.º ano de escolaridade tem pelo menos uma “ratoeira”, denunciou nesta quarta-feira a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM).

Num parecer sobre a prova, que foi realizada nesta quarta-feira pelos alunos do 2.º ano (sete anos de idade), a SPM destaca que a forma como um dos itens (o n.º 2) “está redigido, quer em termos de texto, quer em termos de disposição na página, levará certamente muitos alunos a efectuar a operação errada”. “Consideramos que se trata de uma ‘ratoeira’ desnecessária”, frisa esta sociedade científica.

Neste item descreve-se o seguinte problema: “A Sara tem 235 nozes. A Sara tem menos 83 nozes do que a Inês. Quantas nozes tem a Inês?”. Por outro lado, afirma a SPM, alguns dos itens propostos na prova “apresentam um grau de complexidade demasiado desajustado a alunos do 2.º ano de escolaridade”. Um exemplo disso é a pergunta 5B, em que se apresenta uma sequência de três figuras, explicando-se que cada figura tem sempre mais dois círculos brancos do que a figura anterior e pedindo-se depois aos alunos que digam quantos destes círculos existirão se a sequência chegar à figura 20.

Para a SPM, os conteúdos matemáticos da prova desta quarta-feira são ainda “pouco variados”, não sendo por isso “suficientes para aferir adequadamente os conhecimentos adquiridos pelos alunos”. Tal deve-se provavelmente ao facto de “se pretender também avaliar a área de Estudo do Meio”, acrescenta. 

O cruzamento de duas disciplinas ou áreas na mesma prova começou a ser aplicado em 2017. Esta opção é contestada pela SPM “por configurar uma interdisciplinaridade artificial e forçada”. As provas de aferição não contam para a nota final dos alunos.

No seu parecer, a Sociedade Portuguesa de Matemática volta a insistir nas críticas que tem feito à decisão do actual Governo de realizar provas de aferição no 2.º ano de escolaridade, salientando a “total ineficácia” desta avaliação: “A grande variabilidade na maturidade e no estádio de desenvolvimento cognitivo que tipicamente se observa nas crianças desta faixa etária tornam qualquer avaliação deste tipo inutilizável para efeitos de monitorização do bom funcionamento do nosso sistema de ensino.”   

Por outro lado, a SPM aponta que “as escolas pouco ou nada aproveitam da informação retirada destas provas”, acrescentando que os relatórios individualizados que são produzidos pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave, responsável pela elaboração e classificação dos exames) “apenas parecem servir para desmoralizar os alunos logo no início da sua escolaridade”.

Numa entrevista recente ao PÚBLICO, o actual director do Iave reconheceu que a “apropriação” da informação dada por estas provas continua a ser escassa e que devido a isso será lançado, no princípio do ano lectivo, um projecto de monitorização para avaliar se o problema é das escolas ou dos relatórios sobre o desempenho dos alunos que são elaborados pelo instituto.

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