Área da energia continua no radar da Gulbenkian, mas não necessariamente Portugal

A Gulbenkian conseguiu vender o negócio do petróleo e quer investir em energias limpas, mas não necessariamente em Portugal, o critério será sempre o do “melhor rendimento”.

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O presidente da empresa tailandesa PTTEP, Phongsthorn Thavisin, e a presidente da Fundação Gulbenkian, Isabel Mota LUSA/Tiago Petinga

A presidente do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian, Isabel Mota, garantiu esta segunda-feira que a instituição vai continuar a investir na área da energia, embora não se comprometa com investimentos em Portugal.

Na conferência de imprensa para assinalar a venda da petrolífera Partex à empresa pública tailandesa PTT Exploration and Production (PTTEP), por cerca de 555 milhões de euros, Isabel Mota afirmou que a energia continuará a ser uma das áreas de investimento da Fundação, “porque é uma das questões de futuro”.

Tudo o que possa ter “efeito positivo para os grandes problemas da humanidade, e em particular as alterações climáticas, será seguramente uma área” em que a Gulbenkian procurará “oportunidades” para aplicar os seus recursos, mas “não há uma preocupação de estar a privilegiar o mercado português”, afirmou Isabel Mota.

“A ideia é privilegiar o melhor rendimento que pudermos alcançar, porque é essa a nossa obrigação”, afirmou a presidente da administração da Gulbenkian. “O grande imperativo dos trustees [administradores] desta fundação é assegurar que ela seja perpétua”, lembrou Isabel Mota.

“O que é importante é que [a Fundação] tenha os recursos necessários” para manter a sua actividade e, “se possível, ampliá-la”. Essa é a “prioridade absoluta” e “a lógica e a matriz” em que a Gulbenkian faz os seus investimentos e procura oportunidades no mercado, sublinhou.

Acrescentando que “não quer dizer” que não possa haver investimentos da Gulbenkian em Portugal, Isabel Mota notou que “os activos da Partex [que agora estão a ser vendidos] também não são portugueses”.

A presidente do conselho de administração da Gulbenkian esclareceu ainda que o Governo, embora contactado, não teve de pronunciar-se sobre este negócio, visto que “o que está a ser transaccionado não tem a ver com o legado original” da Fundação.

A Partex tem negócios de petróleo e gás em Omã, Abu Dhabi e Cazaquistão. No ano passado, segundo o presidente da empresa, António Costa Silva, que irá manter-se à frente da gestão, facturou cerca de 420 milhões de dólares (375 milhões de euros), obteve um lucro de 37 milhões de dólares (33 milhões de euros) e entregou 90 milhões de dólares (80 milhões de euros) em dividendos à Gulbenkian.

À margem da conferência de imprensa, Costa Silva reconheceu que a mudança de accionista é fundamental para o desenvolvimento futuro da companhia, que “passou uns anos sem investimento”, depois de a Fundação ter decidido deixar de alocar recursos às áreas do petróleo e gás.

“Obviamente, uma empresa que não tem investimento fica afectada na sua operacionalidade e modo de agir, e é por isso que este accionista novo vai inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento da empresa”, afirmou o gestor.

Na conferência de imprensa, o presidente executivo da empresa exploração e produção de petróleo tailandesa, Phongsthorn Thavisin, assegurou que a PTTEP “vai tomar conta” da Partex. O gestor tailandês destacou a importância dos activos da Partex para o portefólio da PTTEP, mas também a expertise e know-how dos seus quadros.

Quanto ao valor do negócio, “foi a melhor proposta” recebida, depois do fracasso de uma primeira tentativa de venda à empresa CEFC Shanghai International Group, no ano passado, afirmou Isabel Mota.

Já Phongsthorn Thavisin gracejou que não se pode falar “em preço alto ou preço baixo”. Se as duas partes estão de acordo com o número, então “é o melhor preço”, disse o responsável da petrolífera tailandesa.

Os termos da transacção acordada entre a Fundação Gulbenkian e a PTTEP, que deverá estar concluída até ao final do ano, prevêem que a marca Partex continue a ser utilizada e que a petrolífera mantenha os escritórios em Lisboa, além de todo o quadro de pessoal (cerca de 80 pessoas, das quais 50 em Lisboa).

Com uma capitalização bolsista de cerca de 16 mil milhões de dólares, a empresa estatal da Tailândia tem operações em 46 projectos petrolíferos distribuídos por 12 países.

Isabel Mota destacou que “as questões ambientais pesam muito, sobretudo para uma fundação”, em que deve haver alinhamento entre os investimentos e “os propósitos” da instituição. É por isso tempo de entregar “o seu a seu dono”, afirmou a responsável da Gulbenkian, explicando que a Partex deve passar para as mãos de uma entidade que quer investir na indústria petrolífera.

A Gulbenkian já teve investimentos em energias renováveis em Portugal. A Fundação (tal como outras fundações, como a Oriente e a Champalimaud) foi uma das principais investidoras do fundo Novenergia, dono da empresa de energias renováveis Generg.

O Novenergia foi liquidado recentemente e os seus activos – incluindo os portugueses – passaram para as mãos da empresa Total Eren, uma sociedade detida pelas francesas Total e Eren.

Não houve um desinvestimento, sublinhou Isabel Mota. “Já aí tínhamos a preocupação de ter um activo forte nas energias renováveis, simplesmente o que aconteceu foi que o fundo em que estávamos a investir terminou a sua existência e recebemos o que tínhamos a receber, tal como todos os outros accionistas, foi uma boa aplicação”, resumiu.

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