Risco cíclico no sistema financeiro ainda baixo, mas a subir desde 2015

Novo indicador do Banco de Portugal serve para dar um sinal de alerta contra a acumulação de riscos provocada por uma concessão exagerada de crédito, subidas de preços no imobiliário ou défices externos insustentáveis.

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Fabio Augusto

Apesar de estar a aumentar por causa do aumento dos preços no imobiliário e da retoma da concessão do crédito, o risco sistémico cíclico no sistema financeiro português continua a um nível historicamente baixo, revela esta quarta-feira o Banco de Portugal com a publicação pela primeira vez de um indicador que serve como sinal de alarme contra os excessos que podem provocar crises financeiras graves.

O novo indicador chama-se Indicador de Risco Sistémico Cíclico Doméstico e o seu objectivo, diz o Banco de Portugal, é “captar a tendência das instituições financeiras para assumirem risco excessivo em períodos económicos favoráveis”, tornando-se depois “extremamente avessas ao risco em períodos de recessão económica”, limitando fortemente a oferta de crédito à economia.

Isto é, o índice agora calculado ajuda a verificar se, por exemplo, o sistema financeiro português está a exagerar no crédito que concede ao sector privado, criando as condições para que uma crise possa depois ocorrer.

O resultado obtido para o actual momento revela, de acordo com o Banco de Portugal, que não estamos, em comparação com outras situações do passado, numa fase de risco excessivo no sistema financeiro.

No quarto trimestre de 2018, o indicador de risco sistémico cíclico registou um valor de -0,5 pontos. Este é um resultado que fica abaixo da média de 0,22 pontos registada nos últimos 28 anos e que fica ainda mais distante dos máximos atingidos em 2001 e 2009, períodos em que o indicador chegou aos 1,7 e 1,06 pontos respectivamente.

O indicador tem contudo registado, desde o mínimo de -1,25 pontos registado no primeiro trimestre de 2015, uma tendência de subida nos últimos quatro anos, algo que é motivado pela recuperação registada na concessão de crédito, pela subida dos preços no imobiliário e pelo regresso aos défices, embora moderados, na balança corrente do país com o estrangeiro.

Para calcular o valor deste indicador, o Banco de Portugal usa cinco sub-indicadores: com um peso de 45%, a variação do rácio entre crédito bancário e o PIB, para verificar se há excessos na concessão de crédito; com um peso de 23%, a variação entre os preços da habitação e do rendimento, para verificar se se está a formar uma bolha no mercado imobiliário; com um peso de 22% o rácio entre o saldo da balança corrente e o PIB, para verificar se o país se está a endividar de mais face ao estrangeiro; e com pesos mais pequenos, de 5%, a taxa de variação do crédito total e a variação do rácio entre o serviço da dívida e o rendimento.

Em 2001 e 2009, quando foram atingidos os máximos deste indicador, aquilo que aconteceu em Portugal foram variações muito elevadas durante vários anos do crédito concedido, ao mesmo tempo que a balança corrente com o exterior era sucessivamente deficitária. Ao contrário de outros países, como a Espanha ou a Irlanda, os preços do imobiliário não desempenharam um papel relevante na acumulação destes riscos. A partir de 2009, o indicador de risco sistémico cíclico caiu muito rapidamente, ao mesmo tempo que o país entrava numa das crises económicas e financeiras mais graves da sua história.

A concessão de crédito recuou, o saldo com o exterior deixou de ser negativo e os preços das casas diminuíram. O indicador agora calculado pelo Banco de Portugal caiu para valores negativos.

A partir de 2015, contudo, voltou para uma tendência ascendente. Apesar de a concessão do crédito bancário continua a crescer menos do que o PIB, começou a notar-se uma recuperação a esse nível e, ao mesmo tempo, regista-se uma subida dos preços do imobiliário acima da subida do investimento.

O risco aumentou, revela o indicador, dando sinais de que é preciso estar atento a uma nova acumulação de desequilíbrios. Ainda assim, mantém-se a níveis bem abaixo do registado, por exemplo, em 2009, antes da grande crise económica e financeira que depois atingiu o país.

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