PCP relativiza derrota e atira-se ao PS

No comunicado do Comité Central, o PCP volta a colar o PS à direita e lembra que a CDU no passado teve resultados idênticos.

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O Comité Central do PCP, liderado por Jerónimo de Sousa, reuniu-se na terça-feira LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O Comité Central do PCP, reunido na terça-feira, emitiu um comunicado em que relativiza o resultado obtido pela CDU nas Europeias e dispara contra o PS, voltando a classificar o partido do Governo como defensor de políticas de direita.

“A eleição de dois deputados nas Eleições para o Parlamento Europeu de 26 de Maio de 2019, em que a CDU obteve 228.054 votos e 6,9%, dará continuidade ao notável trabalho que o PCP desenvolve no Parlamento Europeu em defesa dos trabalhadores, do povo e do país”, garante o Comité Central no comunicado divulgado esta sexta-feira.

Assumindo que “o resultado obtido pela CDU, traduzindo uma redução da sua votação nestas eleições, é negativo para a defesa, no Parlamento Europeu, dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país”, o Comité Central do PCP “chama a atenção para o facto de ao fixar-se a leitura dos resultados numa comparação mecânica com os de 2014 – em que, como se sabe, a CDU obtivera o melhor resultado dos últimos 25 anos e as restantes forças o pior, ou dos piores, que alguma vez haviam obtido – é um exercício que visa prolongar a acção manipulatória em linha com o que se assistiu ao longo de meses”. E lembra que “a eleição de dois deputados corresponde ao número de deputados que em 1999, 2004 e 2009 a CDU elegeu, quando o número de mandatos nacionais era, respectivamente, de 25, 24 e 22, quando agora é apenas 21”.

Reivindicando o papel desempenhado pelo PCP como parceiro parlamentar de apoio ao Governo chefiado por António Costa, o Comité Central considera que “a obtenção pelo PS de uma votação que lhe permitiu ser a força mais votada, beneficiando em parte dos avanços e medidas positivas que resultaram, em larga medida, da intervenção do PCP e do PEV”.

Mas não deixa de criticar o PS ao afirmar que o resultado das europeias “não ilude a conhecida convergência entre PS, PSD e CDS de submissão do país ao euro e às imposições da União Europeia”, assim como a utilização das “mesmas opções e a mesma identidade de argumentos quanto ao défice e à dívida, ou aos ditames do directório de potências que, ao serviço do capital transnacional, comanda a integração capitalista na União Europeia”.

Quanto ao resultado do BE, o Comité Central frisa que a eleição de dois deputados se deve a “um crescimento eleitoral, obtido a partir de um patamar de votação muito baixo registado em 2014, fica ainda aquém da expressão eleitoral e dos três deputados que alcançou em 2009”. Já sobre o PAN defende que este partido “beneficiou, em termos eleitorais, essencialmente, da exploração populista de variadas matérias e da amplificação que delas faz a comunicação social”.

"A manobra ensaiada pelo PS"

Apontando baterias contra o Governo, o Comité Central pronuncia-se sobre a ameaça de demissão do primeiro-ministro na sequência do anúncio aprovação em coligação negativa no Parlamento de alterações ao decreto-lei que descongela parcialmente a carreira dos professores. “A manobra ensaiada pelo PS, com a ameaça de crise política, revela a sua ambição de retomar sem limitações o seu percurso de décadas de promoção da política de direita”.

E sublinha que “a manobra do Governo do PS para, a partir da instrumentalização do tempo de serviço dos trabalhadores das carreiras especiais, chantagear com a ameaça de uma crise política artificial, em si mesma inseparável do actual quadro político e do manobrismo político e eleitoral do PS para o enfrentar”, permite três conclusões.

Primeira, que “o PS, tendo margem e possibilidades para o fazer, não hesitará em colocar imposições e constrangimentos da União Europeia à frente das respostas aos problemas dos trabalhadores, do povo e do país”. Segunda; que “não só não será pela mão do PS que o caminho de avanços na defesa, reposição e conquista de direitos prosseguirá, como se revela que o que foi alcançado corre o risco sério de andar para trás”. Terceira, que, “como mais uma vez se evidenciou, é na convergência com PSD e CDS que o PS encontra o apoio para todas as medidas contrárias aos interesses do povo e do país”.

Para concluir que “como o PCP tem sublinhado, a nova fase da vida política nacional não alterou nem a natureza nem o projecto do PS de vinculação aos elementos essenciais que têm moldado a política de direita”.

Por outro lado, “Comité Central do PCP denuncia a intensa e prolongada campanha anticomunista desenvolvida a partir dos centros do capital monopolista e dos seus instrumentos, a começar por órgãos de comunicação social”. E acrescenta que é “uma campanha baseada na mentira e na calúnia, visando atingir a comprovada atitude de honestidade e competência que lhe é reconhecida” assim como procura “a exploração, até à irracionalidade, do preconceito anticomunista, seja na manipulação de posicionamentos do PCP, seja na difusão de estereótipos, visando atribuir ao PCP concepções que o seu percurso, prática e projecto não autorizam”.

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