Magid Magid, um dos eurodeputados a “surfar” a “onda verde” no Parlamento

Anti-”Brexit”, muçulmano, somali e inglês, 29 anos: Magid Magid já estava habituado a fazer ondas na câmara de Sheffield, Inglaterra. Junta-se à “onda verde” no Parlamento Europeu, grupo político que bateu recordes nestas eleições.

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O retrato oficial de Magid Magid em 2018, quando ocupou o cargo cerimonial de “Lord Mayor” de Sheffield, Inglaterra Chris Saunders

Magid Magid tem uma “mensagem simples” para Salvini, Farage e Le Pen: “A vossa marca horrenda de política de bodes expiatórios e de cultura do medo já está de saída e no caixote do lixo da História, onde pertence.” A usar uma camisola onde se lê “Os imigrantes fazem a Grã-Bretanha grande [trocadilho que funciona melhor em inglês]”, o discurso do eurodeputado de Yorkshire e Humber pelos Verdes europeus foi endereçado aos principais líderes de partidos de extrema-direita e pró-"Brexit”, que não conseguiram aumentar o número de lugares no Parlamento Europeu. Indirectamente, é uma promessa a quem nele votou por ser manifestamente anti-“Brexit” e contra o populismo anti-imigração.

Quem é o jovem eurodeputado que já está habituado a fazer ondas — e que agora integra a “onda verde"? Magid Magid tem 29 anos e nasceu na Somália, de onde fugiu aos cinco anos com a mãe e a irmã, “à procura de uma vida melhor”. Encontraram-na em Sheffield, Inglaterra, cidade onde, entre Maio de 2018 e Maio de 2019, Magid ocupou o cargo cerimonial de Lord Mayor: o mais novo de sempre, o primeiro muçulmano e o primeiro do partido dos Verdes.

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Magid Magid, 29 anos, eurodeputado pelos Verdes DR

O retrato oficial de tomada de posse — cerimónia onde entrou ao som da Marcha Imperial da Guerra das Estrelas — ficou viral pela pose que Magid escolheu e que se tornou uma das suas imagens de marca. As outras são os bonés, as botas Dr. Martens e as t-shirts pretas onde se lêem frases como: “Jesus era um refugiado”, “Escolhe esperança” ou “Donald Trump é um wasteman [expressão insultuosa usada para descrever alguém sem maturidade, que não age em conformidade com a idade que tem]”. Magid "baniu” o presidente norte-americano de Sheffield e declarou 13 de Julho, dia em que Trump visitou Inglaterra, como o Dia de Solidariedade para com o México — um Lord Mayor não tem, na realidade, poder para banir quem quer que seja da cidade.

“Eu sei que posso não ser o político comum, eu percebo. Mas a nossa região merece um representante que, de forma corajosa, irá agir em questões que importam para nós, como a emergência climática, a pobreza, a desigualdade e a discriminação”, escreveu, na carta de apresentação. No Parlamento Europeu actual, apenas três dos 751 eurodeputados são negros. Nunca existiu um comissário europeu negro. A idade média da assembleia, no final de Março de 2019, foi de 55 anos. Menos de metade dos membros eram estreantes no parlamento. 

Dias depois de deixar o cargo na cidade onde vive, Magid prepara-se para se sentar com os, para já, 69 eurodeputados confirmados na bancada ecologista do Parlamento — um número recorde, com mais 17 membros do que nas eleições de 2014 —, sete deles representantes do Reino Unido, onde o partido duplicou o número de assentos. O mesmo aconteceu na Dinamarca e em França, país onde os Verdes foram a força política que mais votos reuniu nos eleitores entre os 18 e os 24 anos: 22,1%. Na Alemanha, o partido Aliança 90/ Os Verdes ficou em segundo lugar, com quase 21% dos votos, o mesmo na Finlândia (16%). Em Portugal, o PAN (5,1%), partido Pessoas Animais e Natureza, conseguiu eleger o primeiro eurodeputado, Francisco Guerreiro, que se deverá juntar aos Verdes

O principal objectivo da “onda verde” é convencer a Europa a agir pelo clima “agora”, nomeadamente através do Acordo de Paris. Porque, “se esperarmos mais tempo, vai ser um desastre”, avisou Ska Keller, a candidata dos Verdes à presidência da Comissão Europeia. Querem reduzir as emissões de gases de efeito estufa pelo menos em 55%, até 2030. O manifesto com que se apresentam, pró-Europa, defende o abandono do carvão até 2030 e a mudança para energias 100% renováveis, que devem ser usadas “de forma mais eficiente"; mas também o direito ao pedido de asilo, um “salário mínimo decente”, a luta contra a corrupção, a promoção da agricultura sem pesticidas e sem crueldade animal; o feminismo; e uma abordagem humanitária à migração. “Este é um mandato para uma mudança real: para a protecção climática, uma Europa social, mais democracia e um Estado de Direito mais forte”, assegurou Keller.

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