Pedro Marques: foi Costa que o escolheu, foi Costa que o carregou até ao fim

Socialistas terminam a campanha numa festa na Praça do Município, em Lisboa. Fernando Medina fez as honras da casa e atacou à esquerda e à direita.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Houve fado. Houve João Gil e houve vento e frio, o que acabou por dificultar que ficassem cheios os mais de 650 lugares que o PS tinha instalado na Praça do Município, em Lisboa. A campanha do PS terminou entre a tranquilidade de quem acha que já ganhou e a preocupação pela dificuldade em mobilizar os próprios militantes e simpatizantes para estas eleições, o que levou Costa a pedir contenção nos cânticos de vitória que se ouviram no final dos discursos.

A campanha mostrou aos socialistas que a mobilização para domingo não são favas contadas. Não foi por falta de empenho do secretário-geral socialista, António Costa, que abrilhantou a festa final e toda a campanha, ao lado, ou à frente, de Pedro Marques. Ou até debaixo de Pedro Marques, a segurá-lo. Foi Costa que ajudou a levantar o candidato em ombros, no final da descida do Chiado, dando mostras de que o apoia, aconteça o que acontecer no domingo.

Neste último dia, seria Fernando Medina, o autarca lisboeta, a fazer o discurso mais político da campanha, distribuindo críticas para os dois lados do espectro político. Começou pela direita, mais precisamente pelo CDS, que, disse Medina, “legitimou aqueles que têm um discurso nacionalista e anti-imigração”. Depois passou para o PSD, que “acaba sempre na revelação da verdade”, disse. “A entrada de Pedro Passos Coelho mostrou bem qual o projecto” do PSD para a Europa. “Nenhum de nós se esquece que o tempo de austeridade que vivemos foi fruto de uma visão de egoísmo, nacionalismo e de cada um por si”.

A direita apareceria no discurso de António Costa como a “gasolina” que promoveu o medo. “Ao não ter como prioridade a nosso modelo social, tem aumentado o espaço para o medo, a angústia que alimenta o populismo, o extremismo e se tem infiltrado para explorar o medo e ansiedades dos cidadãos europeus”, acusou. “A melhor forma de travar é de mudarmos de política e alargamos para a Europa aquilo que provámos que era possível”, disse Costa.

A expressão “gasolina” associada à política de direita foi também usada por Pedro Marques, que defendeu que, “sempre que a direita cede a essa pulsão dos cortes (…), está a dar gasolina a esses nacionalistas”.

Contra a esquerda (também) marchar

Mas os socialistas não esqueceram a esquerda, que tanto os tem dividido nestes últimos dias de campanha. Foi a novidade introduzida a meio desta segunda semana de campanha e validada pelo próprio António Costa. Na fase final da campanha foi hora de traçar a linha que divide o PS dos partidos à sua esquerda. Nos sete discursos desta noite de fecho de campanha eleitoral, foi Fernando Medina que deixou preto no branco as diferenças para PCP e BE.

Defendendo que o projecto europeu tem de ser salvo, defendeu que isso não se fará com aqueles que à esquerda do PS “são profundamente eurocépticos. Não faremos isso com eles. O eurocepticismo à esquerda também assenta numa protecção de fronteiras, numa diminuição da solidariedade dos estados a nível europeu”, disse. No fim acrescentaria, quase que em nota de rodapé, que há “convergências” com estes partidos, mas estas têm limites. “Há uma área em que temos uma grande diferença que é o projecto europeu”.

Palavras quase tiradas a papel químico do que António Costa tinha dito durante a tarde em respostas a jornalistas, durante a descida do Chiado. “Se há matéria que distingue o PS dos demais partidos à esquerda é a temática europeia”, disse, ressalvando que essas diferenças não “comprometeram” acordos a nível nacional. E acrescentou: “A minha campanha faz-se para o PS.” 

Desta vez, Costa faria apenas referências indirectas, mas foi à génese do partido para dizer que o PS não se engana no lado de que est,á quando em causa está a luta contra os extremismos. E lembrou Mário Soares: “Quando esteve em causa a liberdade, nunca duvidámos qual era o nosso campo, era o da liberdade”. O mesmo aconteceu quando esteve em causa a “democracia” e, por fim, quando está em causa a Europa.

Foi o mote para voltar a falar da necessidade de uma aliança progressista, que inclui “o grande primeiro-ministro” que é o grego Alexis Tsipras e o Presidente francês, Emmanuel Macron: “Também não nos baralhamos porque Macron só é principal adversário para a extrema-direita francesa, e nós não nos juntamos à extrema-direita francesa”.

Governo na guilhotina

Durante a campanha, Costa foi acusado de ser o verdadeiro candidato e não desmentiu que pôs a cabeça do Governo na guilhotina: “Nunca tive ilusões que, mais cedo ou mais tarde, a oposição ia querer fazer destas eleições uma avaliação do Governo. Portanto, antes que pedissem, eu adiantei-me logo, porque quem não deve não teme e pedi um voto de confiança, um reforço do PS, para que possamos manter este rumo certo na governação”. Terá sido por isso que ao longo das duas semanas de campanha o Governo esteve em peso ao lado do candidato, a assistir a comícios ou a fazer discursos. Pelas contas do PÚBLICO passaram pela caravana 13 dos 17 ministros, só não foi possível ver Ana Paula Vitorino (Mar), Gomes Cravinho (Defesa), Manuel Heitor (Ensino Superior) e Francisca Van Dunem (Justiça).

“António Costa imprimiu uma liderança na campanha que a todos orgulha e a todos mobiliza”, disse Fernando Medina, o autarca de Lisboa que pediu mais uma celebração para a Praça do Município: “É a segunda vez numa semana que esta praça se enche para uma grande celebração; como não há duas sem três, cá esperaremos”, disse.

Até o próprio candidato, que na rua, esta sexta-feira, assumiu o papel secundário que foi representando, deixando o palco para António Costa, destacou o peso político do líder do partido: um voto no PS “é dar asas aos nossos sonhos como europeus, é dar força ao António Costa que é um dos líderes. Será um construtor da Europa de futuro que nós queremos. Tens a tua gente contigo”, afirmou no discurso de despedida de campanha.

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