Educar para a mudança: a certeza da incerteza

Num mundo tão exigente e em permanente mudança, é preciso saber porque educamos e como educamos. Seremos capazes de responder a estas questões? Estarão os políticos, os educadores, os professores e os pais certos de que estão a educar para a mudança?

“A Educação é fundamental para toda a gente” – afirmava, recentemente, o meu filho, de sete anos, ao conversarmos sobre o tema deste artigo. É curioso ouvir tão sábia constatação da boca de uma criança que, há apenas poucos meses, iniciou o seu percurso escolar formal.

Pôs-se-me, então, a questão: a que Educação estaria ele a referir-se – à educação que se enquadra como uma fonte de transmissão de conhecimentos, à que preceitua que é socialmente correto pedir licença antes de nos levantarmos da mesa ou à que nos capacita para o exercício da cidadania?

É indubitável a multiplicidade de conceitos que o termo Educação conota e que a sua complexidade aumenta face ao contexto social, local e situacional. É, também, universalmente consensual a sua fundamentalidade, mas é, também, global a consciência das incertezas que lhe estão inerentes.

Num mundo tão exigente e em permanente mudança, é preciso saber porque educamos e como educamos. Seremos capazes de responder a estas questões? Estarão os políticos, os educadores, os professores e os pais certos de que estão a educar para a mudança?

Em 21 Lições para o Século XXI, Yuval Noah Harari afirma que a inovação é a única constante e a humanidade está perante revoluções inéditas. Neste confronto com a imprevisibilidade do nosso futuro, é exigido à Escola que encontre caminhos que formem e preparem os jovens para desafios à escala global e com implicações em áreas tão complexas como a manipulação genética, a inteligência artificial, a instrumentalização da informação, para além da nossa frágil autodeterminação condicionada, nomeadamente pela ilusão das necessidades de consumo. Como poderá a Escola atual (uma Escola em falência – como afirma Harari) fazer face a esta competição, quando, como declarou o diretor de um agrupamento de escolas de Rio Maior, que aposta na inovação, estamos perante “escolas do século XIX, com professores do século XX, para alunos do século XXI”?

A Escola começa, paulatinamente, a compreender que a sua atual, urgente e imprescindível missão consiste em formar “alunos globais” e que o professor do novo milénio tem, ele próprio, de se multifacetar, transmutar, para assumir o papel de “professor global”, na medida em que o foco da Educação do século XXI  já não é a instrução tradicional ou a mera transmissão de conhecimento, porque esse está acessível através da tecnologia e não é possível competir com ela. Agora, o desafio consiste em promover uma Educação transformadora, porque a mudança é gerada pela Educação.

Os estabelecimentos de educação e ensino, porém, hoje em dia, não estão sozinhos neste movimento imparável de transformação social. Têm a seu lado as Organizações da Sociedade Civil (OSC) que encontram, nas salas de aula, os espaços de excelência para trabalharem com os jovens questões relacionadas com os Direitos Humanos, com valores éticos e humanistas, numa perspetiva de promoção de uma Cidadania Global, que os leve a compreenderem o mundo e as suas interdependências, que os incentive a conhecerem-se a si e aos outros, que contribua para o desenvolvimento do seu pensamento crítico e que os incentive a posicionarem-se sobre temáticas como a sustentabilidade, a justiça social, a igualdade de género, o bem comum...

Nada poderá ser mais compensador para um educador do que testemunhar o crescimento pessoal e intelectual de uma criança ou de um jovem e poder assistir à sua capacidade de liderança em questões tão sensíveis e importantes como o uso pleno do exercício da cidadania e o seu contributo para a democracia.

Nesta parceria para uma Educação de qualidade, em que se espera que os alunos sejam atores conscientes e informados do seu próprio mundo, estão em vigor políticas públicas – a “Nova Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento 2018-2022” (ENED 2018-2022) ou o “Perfil do Aluno à saída da Escolaridade Obrigatória” (Despacho 6478/2017, 26 julho) – que convidam as escolas à flexibilização curricular e a ousarem liderar esta mudança, promovendo competências que preparem os jovens, simultaneamente, para o seu futuro profissional e para a sua vivência de “cidadãos globais”.

Em pleno século XXI, educar para a mudança é imperioso e urgente. Há que seguir em frente com a consciência de que se vai enfrentar os ditames da certeza na incerteza e que, como afirmou Paulo Freire, um dos mais notáveis pensadores da história da Pedagogia mundial, a Educação é, acima de tudo, um ato de amor e de coragem.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico 

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