Os consumidores querem escolher “mais saudável”, mas ainda compram o que lhes sabe melhor

Petra Klassen-Wigger esteve em Lisboa para falar sobre o impacto da ciência e da inovação no consumo e nos padrões alimentares.

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Petra Klassen-Wigger esteve em Lisboa para falar sobre inovação nos alimentos Rui Gaudêncio

Quase metade da população portuguesa apresenta excesso de peso e perto de um milhão de adultos sofre de obesidade, aponta a Fundação Portuguesa de Cardiologia​. Outras doenças como as cardiovasculares e a diabetes estão relacionadas com as escolhas alimentares. Logo, a ciência está atenta e procura compreender como é que a dieta interage com a saúde e com a doença, declara Petra Klassen-Wigger, directora de Nutrição, Saúde e Bem-Estar, no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Nestlé, em Lausanne, Suíça.

Para a cientista, que esteve no início do mês na Fundação Champalimaud, em Lisboa, para falar sobre o impacto da ciência e da inovação no consumo e nos padrões alimentares, a solução passa por melhorar o perfil nutricional dos produtos. A preocupação, explica ao PÚBLICO, está em perceber “como podemos reformular os produtos” e reconhecer que existe uma associação entre “o consumo de açúcar, sódio e gordura no que se refere ao excesso de peso e obesidade e, consequentemente, às doenças cardiovasculares”.

Outra tendência nutricional está relacionada com as preocupações ambientais. Não só “as alterações climáticas influenciam o crescimento dos alimentos que comemos” como se verifica “um maior investimento, não só na investigação, mas também nos produtos que criamos para responder a esta questão  – ​um exemplo da inovação recente e uma grande tendência, também, é a mudança para dietas à base de vegetais”, acrescenta Petra Klassen-Wigger. 

De acordo com a cientista, esta tendência manifesta-se nas directrizes nutricionais e nas preferências do consumidor. “Há um grande aumento de pessoas que agora adoptam aquilo a que chama dieta flexitária, o que significa que se reduz o número de produtos de origem animal e aumenta-se a componente vegetal dos produtos e isso acontece de formas totalmente diferentes, incluindo vegetarianos ou veganos”, explica. 

Ou seja, os consumidores estão a mudar e a marca não quer perder o comboio, por isso, procura inovar com o objectivo de responder às novas necessidades. “O que temos feito é inovar muito nesta demanda. Lançámos recentemente uma linha de produtos que usa componentes baseados em plantas e coloca-os em produtos como um hambúrguer, por exemplo, mas totalmente baseado em vegetais”, exemplifica Petra Klassen-Wigger, acrescentando que alterações como estas também contribuem para um ambiente mais sustentável. 

Os consumidores actuais querem a redução de componentes nocivos como o sódio, o açúcar e a gordura e estão cada vez mais atentos aos rótulos, continua. “Temos dados que indicam claramente que, em muitos países, as pessoas estão interessadas em fazer escolhas mais saudáveis”, informa. No entanto, para a cientista, é importante que as empresas de alimentos entendam que as pessoas ainda compram o que lhes sabe bem. “Se o produto que [as marcas] estão a reformular não for bom, as pessoas até podem experimentar, mas depois escolherão o próximo produto na prateleira que tem mais açúcar. Precisamos do sabor e da redução [de ingredientes nocivos]”.

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