João Lourenço afasta presidente da Sonangol

Grupo petrolífero angolano, acionista da Galp e do BCP, era liderado até agora por Carlos Saturnino, que em 2017 tinha substituído Isabel dos Santos.

Foto

O Presidente de Angola, João Lourenço, afastou hoje Carlos Saturnino do cargo de presidente do conselho de administração da Sonangol.

Para exercer a partir de agora as mesmas funções foi nomeado Sebastião Pai Querido Gaspar Martins, actual administrador da petrolífera estatal angolana, que é a segunda maior accionista do BCP (com 19,49% do capital do banco português no final de 2018) e é ainda accionista indirecta da Galp (via Amorim Energia BV, empresa que reúne ainda as filhas de Américo Amorim e Isabel dos Santos e é dona de 33,4% do capital do grupo petrolífero português).

A nomeação do economista Carlos Saturnino para presidente do conselho de administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) ocorreu em Novembro de 2017, pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço, que em simultâneo exonerou então das mesmas funções Isabel dos Santos. A filha do antigo Presidente de Angola Eduardo dos Santos esteve no cargo entre Junho de 2016 e Novembro de 2017.

Agora, e segundo um comunicado divulgado pela Casa Civil do Presidente da República, o chefe de Estado exonerou, por decreto, “todas as entidades” que integram o conselho de administração da Sonangol, alegando “conveniência de serviço público” e “apoiado na Lei de Bases do Sector Empresarial Público”.

A decisão surge numa altura em que o país vive uma crise de falta de combustíveis generalizada. Já ontem, terça-feira, o presidente angolano tinha afirmado que a “falta de diálogo” entre a petrolífera estatal Sonangol e o Governo “contribuiu negativamente” para o processo de importação de combustíveis e consequente escassez do produto no mercado em todo o país.

Numa nota oficial, ontem citada pela Lusa, a Casa Civil do Presidente angolano referiu que esta foi a conclusão que saiu da reunião que o chefe de Estado angolano, João Lourenço, manteve, na manhã desta terça-feira, com a equipa económica do Governo, que decorreu à porta fechada e sem declarações à imprensa, apesar de os jornalistas terem sido convocados para o local.

“Da análise feita, concluiu-se ter havido falta de diálogo e comunicação entre a Sonangol e as diferentes instituições do Estado, o que terá contribuído negativamente no processo de importação de combustíveis. Foram, no entanto, tomadas as medidas e mobilizados todos os recursos necessários para a completa estabilização do mercado de abastecimento dos combustíveis nos próximos dias”, lê-se na nota. “Apela-se à compreensão dos utentes e da população em geral, não obstante reconhecermos os constrangimentos a que estão sujeitos com a situação criada”, termina a curta nota sobre a reunião, que durou cerca de hora e meia.

No encontro com João Lourenço de ontem participaram os ministros angolanos de Estado para o Desenvolvimento Económico e Social, de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente, da Energia e Águas, dos Recursos Minerais e Petróleos, e das Finanças, o Governador do Banco Nacional de Angola (BNA) e o presidente da Sonangol.

Fonte oficial disse hoje à Lusa que o Presidente da República de Angola, João Lourenço, está “agastado” com a crise de combustíveis no país, situação que motivou a realização de duas reuniões, tidas na segunda e terça-feira. A falta de combustíveis, que está a afectar todo o país desde a passada sexta-feira, vai gradualmente paralisando todos os sectores produtivos em Angola e está a originar graves problemas de energia, sobretudo nas províncias do interior, dependentes do combustível para fornecer electricidade.

Num comunicado divulgado no sábado, o único até agora emitido pela Sonangol EP, principal distribuidora de combustível angolana, justificou a escassez de gasolina e de gasóleo com dificuldades no pagamento dos produtos refinados importados em moeda estrangeira, prometendo que, em breve, a situação estaria ultrapassada.

A falta de combustíveis em Angola, acrescentou a fonte, foi, aliás, assunto abordado segunda-feira por João Lourenço num encontro que decorreu no Palácio Presidencial, na Cidade Alta, em Luanda, em que exigiu um “relatório pormenorizado” sobre a situação, que foi entregue ontem. No encontro estiveram presentes os ministros angolanos dos Recursos Minerais e Petróleos, da Energia e Águas, e das Finanças, bem como o governador do Banco Nacional de Angola e o presidente do conselho de administração da companhia petrolífera angolana Sonangol, entidades encarregadas de elaborar o relatório.

A falta de combustíveis em Angola, que começaram a rarear na passada sexta-feira, levou ao disparar dos preços do litro de gasolina e gasóleo um pouco por todo ao país, atingindo, nalguns casos quase o quádruplo. Em Luanda, grande parte dos postos de combustíveis das diferentes empresas de abastecimento estava encerrada, enquanto as abertas contam com grandes filas de automóveis ligeiros, veículos de transporte de mercadorias, táxis, motociclos e jovens com dezenas e dezenas de bidões que, depois de o adquirirem ao preço oficial, vão vendê-lo mais caro nos bairros periféricos.

Isso mesmo foi confirmado segunda-feira à Lusa por um punhado de jovens que aguardou, num posto de combustíveis de uma das principais artérias de Luanda, a Avenida Ho Chi Min, quase sete horas para encher inúmeros bidões de 30 a 50 litros que colocaram numa carrinha de caixa aberta, estacionada mais à frente.

Um litro de gasolina em Angola custa, oficialmente, 160 kwanzas (0,44 euros), enquanto o de gasóleo ascende a 135 kwanzas (0,37 euros), números que os jovens garantiram à Lusa conseguirem duplicar, triplicar e, nalguns casos mesmo, quadruplicar no mercado paralelo.

Sábado, no comunicado, a Sonangol EP, garantiu que a situação será ultrapassada em breve, havendo a perspectiva de regularização até quarta-feira. No entanto, apenas uma percentagem reduzida dos milhares de postos de combustíveis existentes em Angola está a receber combustível, com as centrais eléctricas nas províncias do centro e sul do país a encurtarem os períodos de distribuição de energia eléctrica, admitindo o risco de “total apagão”.