Congresso internacional revisita os 58 anos da obra literária de Maria Teresa Horta

Universidade de Lisboa revisita, com vários especialistas portugueses e estrangeiros, uma escrita que é “um marco incontornável na literatura contemporânea”.

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ENRIC VIVES-RUBIO

A obra da poeta, ficcionista e jornalista Maria Teresa Horta, que se cruza com o último meio século, vai estar no centro de um congresso internacional a partir desta quarta-feira, em Lisboa. Maria Teresa Horta e a Literatura Contemporânea: De Espelho Inicial (1960) a Estranhezas (2018), que terá lugar até sexta-feira no Palácio Fronteira e na Reitoria da Universidade de Lisboa, pretende revisitar os quase 60 anos da carreira literária da escritora, que foi este ano proposta pela Sociedade Portuguesa de Autores ao Nobel da Literatura 2019.

Considerada um “marco incontornável na literatura contemporânea”, Maria Teresa Horta é autora de uma obra de ficção e não-ficção que “revela uma grande versatilidade e um domínio também ele subversivo da palavra poética, desafiando as convenções sociais”, afirma a organização do evento. “A variedade de géneros que cultiva permite um diálogo com escritores e escritoras seus contemporâneos, portugueses e estrangeiros, numa troca constante entre várias literaturas de diferentes épocas”, lê-se no programa do congresso, organizado pela Universidade de Lisboa. Por isso mesmo, serão também de diversas áreas e nacionalidades os intervenientes no encontro, que incluirá professores oriundos de universidades de Reino Unido, França, Itália, Suécia e Brasil, além dos conferencistas nacionais.

Entre os tópicos a abordar contam-se “os diferentes géneros literários (poesia, romance, conto, crónica) na obra da autora”, o modo como os seus textos estabeleceram “diálogos com a literatura portuguesa e a literatura estrangeira, destacando-se a de língua inglesa”. Outros temas em destaque no encontro serão os feminismos, a transgressão e a sexualidade, o diálogo da autora com as mulheres do passado, o jornalismo, a censura no Estado Novo, o cinema e a música.

O primeiro dia será marcado por uma conferência que faz a análise cruzada da distopia feminina em Ema, de Maria Teresa Horta, e História de uma Serva, de Margaret Atwood, a que se seguirá um painel de reflexão sobre a forma como a escritora integra nos seus textos figuras femininas do passado, sobre a influência das narrativas bíblicas na sua obra, e sobre a redefinição do conceito de Iluminismo no romance As Luzes de Leonor.

A análise da transgressão erótica na obra poética de Maria Teresa Horta é o tema da conferência do segundo dia de congresso, que será seguida de intervenções sobre a literatura como forma de resistência política ao Estado Novo português, com destaque para a polémica das Novas Cartas Portuguesas (1972), que a autora escreveu com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.

O último dia de congresso começa com uma conferência em torno do livro “Estranhezas” e da poesia “lancinante e transgressiva” de Maria Teresa Horta, a que se seguem painéis sobre a infância da autora, o “desafio” de traduzir a sua obra e uma sessão de homenagem.

Um dia antes do início do congresso, na terça-feira, terá lugar no Teatro Nacional D. Maria II o pré-evento Clube dos Poetas Vivos – Maria Teresa Horta, coordenado por Teresa Coutinho. Na quinta-feira, será também inaugurada uma exposição, Maria Teresa Horta e a sua obra, na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

No mesmo dia, a Cinemateca Portuguesa associa-se ao congresso acolhendo a mesa-redonda Cineclubismo em Portugal: Encontro com Maria Teresa Horta, que incluirá a exibição da curta-metragem Verão Coincidente, de António de Macedo, e da entrevista de Elvis Veiguinha a Maria Teresa Horta.

Serão ainda apresentadas nove obras da autora, entre as quais dois novos títulos Eu Sou a Minha Poesia, que já se encontra nas livrarias, e Quotidiano Instável, reunião de crónicas que Maria Teresa Horta publicou entre 1968 e 1972 numa coluna com o mesmo título do jornal A Capital, e que será colocado à venda em Setembro pela D. Quixote, chancela que vem editando a escritora. Os dois primeiros volumes de poesia integrados num projecto a decorrer no Brasil que pretende reunir a Obra Poética de Maria Teresa Horta, três publicações em tradução no Reino Unido e em Itália, além de ensaios académicos sobre a sua obra, terão também direito a apresentação.

Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras, tendo-se estreado na poesia em 1960, com Espelho Inicial. A sua obra poética editada em Portugal foi coligida em Poesia Reunida (2009). Seguiram-se-lhe Poemas para Leonor (2012), A Dama e o Unicórnio (2013), Anunciações (2016), que recebeu o Prémio Autores SPA / Melhor Livro de Poesia 2017, e Poesis (2017).

Na ficção, é autora dos romances Ambas as Mãos sobre o Corpo (1970), Ema (1984), A Paixão segundo Constança H. (1994) e As Luzes de Leonor (2011), sobre a Marquesa de Alorna, distinguido com o Prémio D. Dinis, da Fundação da Casa de Mateus.

Em 2014, ano em que lhe foi atribuído o Prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores, editou o volume de contos Meninas.

Editada no Brasil e em França, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada uma das mais destacadas feministas da lusofonia.

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