O que é preciso fazer para ter uma Web Summit?

O acordo entre o Estado, a autarquia e a Connected Intelligence Limited, a empresa que organiza o Web Summit, está rodeado de uma confidencialidade que contraria a necessária transparência das relações entre público e privado.

Os benefícios da Web Summit para o país, e concretamente para Lisboa, onde sempre se realizou e vai continuar a realizar até 2028, são vistosos. Mas a equação não é assim tão facilmente mensurável. As contas feitas pelo ministério da Economia na sequência da última edição apontam para ganhos de 61 milhões de euros, num cenário mais tímido, ou de 124 milhões de euros, num cenário mais optimista (repartidos sobretudo pela hotelaria e restauração). As despesas associadas à conferência oscilam entre os 73 milhões e os 87 milhões, pelo que a contabilidade neste caso não é uma ciência exacta.

As estimativas para este ano prevêem um aumento do valor acrescentado bruto para cerca de 386 milhões, mas não sabemos se se trata de uma previsão tímida ou optimista, com base no aumento do número de participantes para 130 mil. Esta previsão de crescimento exige contrapartidas.

O Estado e a autarquia vão investir no evento 11 milhões de euros anuais e comprometem-se a ampliar a Feira Internacional de Lisboa, no Parque das Nações. Caso a câmara não assegure a primeira fase da ampliação até 1 de Outubro, de modo a que a FIL tenha mais 13 mil metros quadrados do que actualmente, a mesma terá de pagar uma pesada indemnização, a determinar por uma fórmula complexa. Lisboa, concretamente a Fundação AIP, proprietária do espaço, ficará com uma feira ampliada, embora Paddy Cosgrave ande pela cidade à procura de “uma nova bonita localização” para “um centro de conferências completamente novo”, sem que se perceba se é porque a FIL não estará ampliada a tempo ou por qualquer outra insondável razão.

O acordo celebrado entre o Estado, a autarquia e a Connected Intelligence Limited, a empresa que organiza o Web Summit, está rodeado de uma confidencialidade que contraria a necessária transparência das relações entre público e privado. Este acordo deveria ter sido votado em reunião de Câmara de Lisboa, mas não o foi. O contrato não foi distribuído previamente, não pode ser fotocopiado ou fotografado e só pode ler lido presencialmente, por alegadamente conter questões que o organizador quer manter confidenciais.

António Costa e Fernando Medina tudo fizeram para que a Web Summit permanecesse em Lisboa por mais dez anos. O contrato que a Câmara de Lisboa tem reservado para si permite questionar se o que fizeram não foi de mais.

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