Uma arena de dança para uma noite sem “copos” e “substâncias ilícitas”

Todos os fins-de-semana, os Go Left reúnem numa praça da Baixa do Porto centenas de pessoas que seguem as coreografias do grupo que almeja proporcionar uma noite “mais limpa” e “sem excessos”. O próximo passo será oficializar a iniciativa com a autarquia.

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PAULO PIMENTA
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Estamos em Abril, no final, é certo, mas entre águas mil e um sol que vai aparecendo timidamente, que as noites sejam guardadas para os intervalos da chuva que já cheira a Primavera. E se durante o ano inteiro o movimento nocturno da Baixa portuense não encerra para pausas forçadas por obra de qualquer intempérie, ao fim-de-semana é mais do que uma certeza que a animação multiplica, nos bares e nas ruas de vários quarteirões que sugam para ali multidões ávidas por expiarem a carga de cinco dias de trabalho. Fazem-no de consciência limpa, sabendo que por direito lhes pertence pelo menos um dia de catarse, sem restrições e poucos limites.

Num destes últimos fins-de-semana, entre bares lotados nas imediações da Praça de Carlos Alberto, ruas onde não passa uma agulha como na Galerias de Paris e em Cândido dos Reis e esplanadas à pinha em Parada Leitão, são vários os grupos que procuram neste triângulo um espaço para assentar arraiais ou apenas para uma visita fugaz antes de passarem ao próximo destino.

É ao longo desse trajecto, em noite a lembrar o Verão, sem obedecer aos ponteiros do relógio e sem roteiro definido, que, ao passar pela Praça de Gomes Teixeira, o PÚBLICO tropeça num ainda pequeno aglomerado de pessoas, frente à Reitoria da Universidade do Porto, que todos os portuenses preferem chamar Praça dos Leões, remetendo para a fonte que lá está.

Somos atraídos pelo som de guitarras que esboçam uns acordes a prepararem-se para acompanhar uma voz feminina que testa a equalização. Há público, há banda, falta iniciar o espectáculo. Enquanto começa e não começa, palmilham-se mais umas ruas a pé para lá se voltar mais tarde.

Quando regressamos, o cenário já não parece o mesmo. O aglomerado de pessoas que lá estava anteriormente passa das dezenas para mais de uma centena, em festa. Os instrumentos da banda já estão pousados, mas a música não parou. A banda que lá estava antes desdobra-se por outras funções. Há um membro, sentado num cajón, a marcar o ritmo, à frente, outros dois vão desenhando uma coreografia ao som da música que sai de uma coluna. A multidão, em sincronia, vai seguindo os passos de dança. Está uma espécie de arraial popular moderno montado nos Leões, que se transformou numa pista de dança. A liderar estão os Go Left, um grupo de jovens que há pouco mais de um mês faz a festa todos os fins-de-semana naquela praça da Baixa. Objectivo: proporcionar uma alternativa de animação nocturna “mais limpa”, em que os “copos” e as “substâncias ilícitas” sejam trocados pela música e dança em plena rua.

Conta-nos um dos fundadores do colectivo, Lourenço Valdez, 18 anos, que estas noites de animação nasceram quase por acidente. Com mais quatro amigos, entre os 18 e 19 anos – Ema Lino, Gonçalo Fernandes, João Franzini e Tiago Valente, todos estudantes universitários, à excepção do último, ainda no secundário –, foi para os Leões numa noite de fim-de-semana para se apresentarem ao vivo com a banda que faz versões de alguns êxitos da pop. Entre covers de Oasis, Lady Gaga e Amy Winehouse, um dos cabos de uma guitarra deixou de funcionar. O espectáculo tem de continuar, então Gonçalo emparelha o tablet via bluetooth com a coluna e continuam a dar música a quem passa a partir de uma conta premium Spotify. Se há ritmo, que venha a dança e é o mesmo membro que arrisca nuns passos.

“Quando olhamos à nossa volta tínhamos quase cem pessoas a dançar”, recorda Lourenço. A partir daí chegam a uma conclusão: “Isto agora ficou sério”. É assim que, com origem numa falha, nascem os Go Left.

Dançar até que a bateria acabe

Desde então, todas as sextas-feiras e sábados voltam ao mesmo local, a partir das 23h “até que a bateria acabe”. Primeiro, iniciam com música ao vivo, “para chamar à atenção de quem passa”. Só depois é que entra a playlist preparada para as coreografias. Naquela noite, são Gonçalo e Ema que puxam pelo público. Vão dando os passos guia e a multidão vai seguindo. Aos poucos vai-se juntando mais gente.

Fazem-nos para um público de todas as idades. “Juntam-se novos e mais velhos”, garante. O que pretendem é criar uma forma de interacção entre quem ali se reúne. Há também neste projecto, que nasceu de iniciativa espontânea, uma motivação pedagógica. Explica-nos que a designação do colectivo, além de ser um acrónimo que junta as iniciais dos nomes de todos os elementos, exprime a ideia de “remar contra a maré”, daí, traduzindo para português, terem escolhido o imperativo “vá para a esquerda”. “Queremos provar que é possível desfrutar da noite sem o consumo de bebidas alcoólicas ou outras substâncias ilícitas”, sublinha.

E é por isso que estão neste momento a trabalhar no próximo passo. A ideia é legalizar a iniciativa e fazê-lo com o aval da autarquia. “Já elaborámos um documento que vai seguir nos próximos dias para a câmara”. Só o pretendem fazer para poderem actuar sem qualquer constrangimento com as autoridades. Se a proposta chegar a bom porto garante continuarem com a mesma atitude: “Não é o dinheiro que nos move. Interessa-nos é chegar às pessoas”.

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