Três maravilhas

Perguntem-me quantas vezes vi portugueses a beber vinho do Porto, vinho da Madeira ou Moscatel de Setúbal antes ou depois de uma refeição. Nenhuma.

Não há nenhum outro país que produza nada menos do que três dos melhores vinhos generosos do mundo: o vinho do Porto, o vinho da Madeira e o Moscatel de Setúbal.

Todos eles servem de aperitivos e digestivos. Os moscatéis do José Maria da Fonseca até têm a inteligência pragmática de sugerir uma temperatura mais baixa como aperitivo e mais alta como digestivo.

Agora perguntem-me quantas vezes vi portugueses a beber vinho do Porto, vinho da Madeira ou Moscatel de Setúbal antes ou depois de uma refeição. Nenhuma. A resposta é nenhuma, isto vindo de uma pessoa que passa a vida em restaurantes.

Eis os preços, já com IVA, na excelente Garrafeira São João de meio-litro de Tawny de 10 anos da Sandeman (10,63 euros), do Malmsey Colheita 2008 da Blandy’s (15,42 euros) e de uma garrafa inteira de 7 decilitros de Moscatel de Setúbal DSF Colecção Privada de 1998 (19,62 euros).

São três vinhos absolutamente deliciosos, cheios de frescura e de satisfação. Fecham uma refeição perfeitamente já que acompanham a sobremesa e transitam para o prazer meditativo da apreciação solitária.

O espantoso Moscatel feito com Armagnac pelo genial Domingos Soares Franco tem, sem anunciar nada e sem aumentar de preço, mais 5 anos de envelhecimento do que a versão anterior. É incrível melhorar tanto uma coisa já de si tão boa. Mas quem é que repara nisso? Quem é que tira partido desta generosidade? Ninguém.

Ninguém e espertos como eu que ficam caladinhos com medo que outros aprendam o que é bom.

Que triste, injusta e ingrata atitude é a nossa.

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