Veja aqui que heroína de Shakespeare é você, por Sónia Baptista

Conferência-performance I Call Her Will estreia no Festival Encontro de Novas Dramaturgias, que decorre até sexta-feira, em Coimbra.

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Sónia Baptista Vitorino Coragem

O público é convidado a acompanhar Sónia Baptista e a fazer o exercício proposto pelo quiz Which of Shakespeare’s heroines are you? (Qual das heroínas de Shakespeare é você?). Chegado a esse ponto, o espectador já terá passado pela Ofélia do compositor russo Shostakovich, mas também pelas menções a Romeu e Julieta de Daniela Mercury.

A conferência-performance de Sónia Baptista, ou uma espécie de “TedTalk incrementado”, como a própria define, estreia-se nesta quarta-feira, em Coimbra, integrada na programação do festival Encontro de Novas Dramaturgias (END), co-produzido pelo Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) e pelo Colectivo 84, que decorre até sexta-feira.

I Call Her Will teve como ponto de partida o caderno de notas da poeta britânica Edith Sitwell, mas seguiu para outros textos, ensaios e livros de mulheres que escreveram sobre o dramaturgo inglês. Daí que o espectáculo se mova entre figuras literárias como Virginia Woolf ou Clarice Lispector e uma miríade de referências pop, numa conferência-performance que conjuga imagem, vídeo, som e dança com a linguagem da Internet. Os memes, portanto. Mas também os quizzes e as listas avulsas que pululam o mundo online.

A ironia não é inocente. A lista de “10 citações de Shakespeare que todos os empreendedores deviam ler”, com uma passagem atribuída a Ofélia, personagem de Hamlet “que foi abusada e que morreu”, nota Sónia Baptista, põe a nu o absurdo. O “absurdo na nossa existência, de perdermos a noção do que deve ser mesmo levado a sério, dos cuidados que se deve ter com as pessoas e que às vezes não se tem”, refere. De um tom mais pop, a conferência entra num mais reflexivo.

Os fragmentos da performance são atravessados pela memória desta irmã fictícia de Sónia Baptista. Julieta, Ofélia e Miranda, as heroínas de Shakespeare, servem essa ligação. “Acabo por fazer um paralelo com essa minha irmã, que já morreu, que acompanhou a minha juventude, que foi minha companhia na leitura e no conhecimento, que sempre quis ter um rapaz e lhe chamou Guilherme”, explica. Daí I Call Her Will, que tanto pode significar o nome do filho, como vontade ou testamento.

A conferência-performance tem entrada livre e está marcada para as 19h, no Teatro Paulo Quintela, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Depois da estreia, I Call Her Will estará no CCB, em Lisboa, no dia 6 de Abril.

O primeiro dia do END, o Dia Mundial do Teatro, conta com Veneno, uma peça com encenação de Albano Jerónimo e texto de Cláudia Lucas Chéu, pelas 22h, no auditório do TAGV. Antes, a meio da tarde, a galeria do Colégio das Artes acolhe Salomé, uma criação de Diogo Bagagal.

O director do TAGV, Fernando Matos Oliveira, destaca a programação cruzada do encontro bienal – entre criação, reflexão e debate — numa “espécie de evento paisagem”, que pretende “estabelecer a geografia das criações e das tendências” na dramaturgia portuguesa. O festival, refere, assume o “desafio de, a cada dois anos, incorporar autorias que estão a aparecer ou consolidar projectos que passaram em edições anteriores” e que regressam ao END. Ao longo dos três dias, para além dos espectáculos, há também espaço para seminários e oficinas de criação.

Dia 28, o Teatro Paulo Quintela acolhe Entrevistas, de Tiago Cadete, e Cinderela, de Lígia Soares, sobe ao palco do TAGV pelas 22h. No último dia de programação, o teatro da Faculdade de Letras volta a abrir portas para Aqui Somos Todos Lázaros, uma encenação de Marcos Barbosa a partir do texto de Jacinto Lucas Pires. O auditório do TAGV recebe o último espectáculo do END, White Rabbit, Red Rabbit, escrito pelo iraniano Nassim Soleimanpour, com interpretação de Miguel Loureiro.

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