Emily is Away <3, uma história num Facebook de outros tempos

Uma narrativa digital recupera uma época em que a rede social ordenava o mural por ordem cronológica, em vez de ser meticulosamente ordenado por algoritmos.

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O jogo recupera a ordenação cronológica do mural do Facebook DR

Estamos em 2008. O Facebook está ainda na idade da inocência e é hora de deixar o serviço de mensagens da AOL para falar com os amigos, trocar links e fazer pokes na nova rede social.

É assim que começa Emily is Away <3, um videojogo ainda em desenvolvimento pela mão do criador independente Kyle Seeley, e que será o terceiro de uma série de narrativas digitais em que o jogador escolhe o seu rumo na história através de diálogos online com as outras personagens.

Parte da nostalgia perder-se-á no público em Portugal. O AOL era um serviço muito americano. Em Portugal, nos anos 1990 e início dos anos 2000, o mIRC era a ferramenta de eleição de adolescentes para conversas online. Já o Facebook, em 2008, era por cá uma relativa novidade (“O Facebook é que está a dar, o MySpace já era”, escrevia a jornalista do PÚBLICO Isabel Coutinho, em Março daquele ano).

Em Emily is Away <3, o Facebook chama-se Facenook, o YouTube é o YouToob e as funcionalidades prometidas ao jogador parecem ser muito semelhantes ao Facebook daquele tempo, incluindo um mural em que tudo acontecia por ordem cronológica, em vez de ser meticulosamente ordenado por algoritmos.

De acordo com Seeley, a diversidade de funcionalidades do Facebook permitirá uma jogabilidade mais complexa do que a dos títulos anteriores. O jogador poderá enviar links ou fazer posts, em vez de apenas seleccionar linhas de diálogo. Na sua análise ao original Emily is Away — lançado em 2015 e que tem como pano de fundo uma relação de amizade à distância que cobre os anos de liceu e faculdade do protagonista — o crítico de videojogos do PÚBLICO, Pedro Martins, notava que os diálogos finais encurralavam o jogador, não lhe dando grandes hipóteses de escolha.

Ao site The Verge, Seeley reconheceu que a nostalgia é boa parte da motivação: “Não sei por que adoro explorar as antigas redes sociais. Acho que parte da razão é encapsulá-las e mostrar a experiência a gerações diferentes que não eram adolescentes na altura. E acho que outra parte é só gostar de fazer versões em jogos pixelados das minhas próprias memórias de criança.”

Emily remete não apenas para um tempo em que as vidas de quem o joga eram possivelmente mais simples, como para uma época em que a nossa relação com a tecnologia era muito menos complicada.

No caso desta terceira obra, há uma crítica ao rumo do Facebook: “Sinto que o Facebook é uma sombra do que era”, afirmou Seeley.

O jogo surge precisamente numa altura em que Mark Zuckerberg decidiu redefinir o rumo do Facebook. Nesta semana, anunciou que o futuro da rede social passa por um foco na privacidade e por se tornar numa plataforma de mensagens, permitindo a utilizadores comunicarem entre si, quer estejam no Facebook ou no Messenger, Instagram ou WhatsApp.

Emily is Away <3 não tem ainda data de lançamento. Por ora, é possível ver uma curta apresentação em vídeo. E é quase certo que o som final despertará recordações em muitos. 

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