Guaidó voltou à Venezuela e lança um novo desafio ao regime

Líder da oposição passou a semana no estrangeiro, mas estava proibido de sair do país e arrisca ser detido esta segunda-feira. Governos que apoiam Guaidó avisam Maduro que irá haver consequências caso seja detido.

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Apoiantes de Guaidó concentram-se em Caracas para uma manifestação RAUL MARTINEZ / EPA

O líder da oposição venezuelana que se declarou Presidente interino, Juan Guaidó, voltou ao país, para participar numa manifestação em Caracas esta segunda-feira, em desafio directo a uma ordem judicial e correndo o risco de ser detido.

"Já na nossa terra amada!" Foi assim que Guaidó anunciou, através do Twitter, a sua chegada a Caracas, onde aterrou pouco depois do meio-dia (16 horas em Portugal continental). "Acabámos de passar [os serviços de] imigração e vamos dirigir-nos para onde está o nosso povo", disse o líder oposicionista. Falando aos seus apoiantes, Guaidó convocou novas manifestações em todo o país para o próximo sábado.

Ao voltar à Venezuela, Guaidó arrisca ser preso. Depois de se ter proclamado Presidente interino, contra o que disse ser a “usurpação” do cargo por Nicolás Maduro, em Janeiro, o Supremo Tribunal proibiu-o de sair da Venezuela. Mas, na semana passada, Guaidó atravessou a fronteira com a Colômbia para participar na distribuição de ajuda humanitária organizada pela oposição, violando a decisão judicial – é formalmente um fugitivo, explica o El País. Da parte do regime não houve qualquer reacção à entrada do opositor no país, que, aparentemente, não encontrou nenhum problema junto das autoridades alfandegárias.

Ao aeroporto internacional de Caracas vieram vários embaixadores europeus e latino-americanos para receber Guaidó e garantir que o presidente da Assembleia Nacional não era detido. "Viemos para nos assegurarmos que não se irá atentar contra a integridade física e a liberdade de movimentos e circulação do Presidente Guaidó", disse o embaixador francês, Romain Nadal.

Esta manhã, Guaidó tinha publicado uma curta declaração gravada em que dizia estar “a caminho de casa” e apelava à participação em manifestações convocadas para todo o país contra o regime de Maduro. No discurso que fez perante centenas de apoiantes, Guaidó voltou a dirigir-se às Forças Armadas e disse que "a cadeia de comando está rota". A estratégia da oposição continua a apostar em explorar as brechas no apoio dos militares a Maduro, e espera conseguir aumentar as deserções na cúpula das Forças Armadas. Depois do fracasso em conseguir fazer chegar a ajuda humanitária à população – travada na fronteira pelos militares –, a oposição procurava relançar nas ruas o combate com o regime e o regresso de Guaidó passou a ser o passo seguinte. O capítulo seguinte joga-se no próximo sábado, quando estão previstas novas manifestações da oposição.

No domingo, o líder oposicionista tinha já anunciado que pretendia regressar ao país, mas não especificou como o iria fazer. Guaidó deixou avisos a Maduro, caso venha a ser detido, de que foram dadas “instruções” sobre os “passos a seguir”, mas também aos “aliados internacionais”.

Avisos dos aliados

Vários governos que recusam reconhecer a legitimidade a Maduro, depositando-a em Guaidó, avisaram as autoridades venezuelanas para que não detenham o líder oposicionista. O conselheiro para a Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, prometeu que os EUA estão preparados para dar uma “resposta forte e significativa” perante “qualquer ameaça ou acto contra o regresso seguro” de Guaidó. O vice-Presidente, Mike Pence, disse que "o regresso de Guaidó à Venezuela em segurança é da maior importância para os EUA" e que "qualquer ameaça, violência, ou intimidação não será tolerada".

O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, disse que se Guaidó for detido irá haver “consequências”, que passam pela “actuação diplomática e pela pressão política”.

O regresso de Guaidó ao país deixa o regime numa situação delicada. A detenção do líder oposicionista irá isolar ainda mais o Governo a nível internacional, ao mesmo tempo que poderá inflamar os ânimos das ruas. Permitir a entrada de Guaidó no país, em violação de uma decisão do Supremo Tribunal, poderá ser interpretado, por outro lado, como uma posição de fraqueza de Maduro, numa batalha pela legitimidade que se trava desde o início do ano.

A prioridade do círculo dirigente do regime é “evitar cair em provocações”, de acordo com as fontes citadas pelo El País. No Twitter, Maduro deixou esta segunda-feira um vídeo com paisagens do país em que convida “a família venezuelana a desfrutar” do período de Carnaval.

Na semana passada, numa entrevista ao canal ABC News, Maduro não excluiu prender Guaidó, caso voltasse ao país. "Ele não pode ir e vir, ele terá de enfrentar a justiça, e a justiça proibiu-o de sair do país", afirmou.

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