“Criaram-se fracturas desnecessárias” durante discussão sobre fundação, diz novo reitor de Coimbra

Amílcar Falcão toma posse como reitor da Universidade de Coimbra nesta sexta-feira.

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Adriano Miranda

O debate sobre a passagem da Universidade de Coimbra a fundação terminou, diz Amílcar Falcão. "A não ser que haja alguma directiva do Governo que nos obrigue a reabrir essa discussão, da minha parte, ela não será reaberta."

Procurou afastar-se da ideia de continuidade. No entanto, passa grande parte do seu programa de acção a defender os últimos oito anos. Foi estratégia eleitoral?
Não. Fui vice-reitor de um reitor que teve a gentileza de me convidar para integrar a equipa. Estou-lhe agradecido por isso. Acredito que a história fará justiça ao actual reitor, que fez um trabalho fantástico, nomeadamente de recuperação financeira da Universidade de Coimbra (UC). O meu afastamento em relação ao reitor tem a ver com o facto de sermos pessoas diferentes. Temos ambos personalidades diferentes, fortes, e existem coisas que entendo que podiam ter sido feitas de outra forma. O actual reitor tem uma visão muito mais tecnocrática do que eu, que tenho uma visão muito mais política e muito mais ligada às pessoas e à dignificação da profissão de cada um.

Já disse que discordaram em vários pontos. Por exemplo?
Entre nós, a questão da passagem da UC a fundação nunca foi pacífica.

O reitor sugeriu que não passasse a fundação.
Era uma discussão que o reitor pretendia que fosse aberta. Na minha óptica, o timing não foi o mais adequado. Naquele momento em que abrimos a discussão, não havia nenhum motivo válido para o fazer. Embora concorde com a posição da UC de rejeitar a passagem a fundação, se calhar criaram-se fracturas desnecessárias.

É uma questão fechada?
Absolutamente fechada. A não ser que haja alguma directiva do Governo que nos obrigue a reabrir essa discussão, da minha parte, ela não será reaberta.

No seu programa diz que há espaços mal aproveitados e edifícios devolutos. Já tem alguma ideia do que fazer?
A UC tem um património vastíssimo e temos situações que têm de ser analisadas caso a caso. Mais do que construir novas instalações, que num caso ou outro devemos ter de o fazer, temos que requalificar património. Temos de fazer esse mapeamento. Os casos do Pólo II e do Pólo III, são típicos de necessidade absoluta de requalificação no aspecto ambiental e energético, desde logo.

Esse mapeamento não existe?
Na sua total amplitude, não. Temos muitas coisas que sabemos que existem, mas sei que parte do nosso património não está devidamente mapeado. Não é muito fácil explicar a alguém que tenhamos habitações devolutas nossas e que estejamos a arrendar habitações noutros sítios. Um exemplo típico: temos uma creche da universidade instalada num edifício [privado] que está à venda e temos edifícios que são nossos e que poderiam ser utilizados para reinstalar essa creche.

As residências universitárias não cobrem as necessidades do estudantes deslocados. O reitor actual diz que não há capacidade para construir novos edifícios. É possível transformar alguns desses devolutos em residências?
Acredito que seja possível. Temos, de facto, défice do número de camas, mas este problema não é um exclusivo de Coimbra. Tentarei utilizar todas as ferramentas ao meu alcance para ajudar a resolver, desde a requalificação do edificado que tenhamos e que possa ser transformado ou adaptado a residências. O Governo tem um programa de construção e recuperação de edifícios públicos, associado à empresa pública Fundiestamo e estaremos na linha da frente para tentar ir o mais longe que for possível, dentro das nossas capacidades e limitações orçamentais.

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