Eleições repetidas na Carolina do Norte por suspeitas de fraude eleitoral

Candidato do Partido Republicano venceu por 905 votos e admitiu que é preciso repetir as eleições. Partido Democrata pode conquistar lugar na Câmara dos Representantes pela primeira vez desde 1963.

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Mark Harris ainda não disse se vai recandidatar-se LUSA/MICHAEL REYNOLDS

As acusações de fraude eleitoral nos Estados Unidos, repetidas em várias ocasiões pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, fizeram esta semana uma baixa – no interior do Partido Republicano. Após uma reviravolta surpreendente, na quinta-feira, um candidato republicano no estado da Carolina do Norte aceitou a repetição das eleições depois de um dos seus colaboradores ter sido acusado de manipular centenas de votos de eleitores afro-americanos.

O caso aconteceu nas eleições de Novembro de 2018, em que os eleitores norte-americanos foram chamados a escolher os seus representantes nas duas câmaras do Congresso e em muitos outros postos locais.

Numa dessas eleições, para o lugar na Câmara dos Representantes que é disputado no 9.º Distrito da Carolina do Norte (um dos 435 distritos eleitorais espalhados pelos 50 estados do país), o candidato do Partido Republicano, Mark Harris, venceu o seu adversário do Partido Democrata, Dan McCready, por 905 votos – num universo de 282.717.

"Guru das campanhas"

Mas o que levantou suspeitas de fraude eleitoral foi o número de votos antecipados que chegaram à comissão de eleições em dois condados rurais desse distrito.

Num deles, o número de boletins de eleitores afro-americanos que foram pedidos antecipadamente, e que não foram entregues à comissão, foi o dobro em comparação com a população de eleitores brancos.

As suspeitas levaram a uma investigação que terminou esta quinta-feira, após uma reviravolta digna de um filme de suspense.

O principal suspeito de fraude eleitoral é um experiente "guru das campanhas" chamado L. McCrae Dowless Jr. Foi contratado em 2017 pelo candidato do Partido Republicano devido ao seu registo de sucesso em outras eleições, em alguns casos com métodos ilegais.

Mesmo assim, Mark Harris contratou-o para o ajudar na corrida contra o candidato do Partido Democrata, num distrito onde o Partido Republicano nunca perdeu desde 1963.

E o que o "guru das campanhas" prometeu a Harris, segundo admitiu o candidato esta semana, veio a transformar-se no caso de suspeita de fraude eleitoral mais importante dos últimos tempos nos EUA. McCrae Dowless e os seus colaboradores – a maioria amigos e familiares – iam ajudar os eleitores a pedir boletins para votarem antecipadamente, e depois iam ajudar a preenchê-los e a entregá-los à comissão de eleições.

Filho "arrogante"

Mas a confissão do candidato do Partido Republicano só foi arrancada depois de um dos seus filhos, um procurador federal, ter testemunhado que o desaconselhou a contratar o "guru das campanhas". Antes desse depoimento, Mark Harris garantia que ninguém o alertou sobre o passado obscuro de McCrae Dowless, e exigia que a comissão de eleições validasse o resultado de Novembro.

Na quinta-feira, depois de ter sido confrontado, de manhã, com o testemunho do seu filho e com e-mails e outros registos, Harris regressou à sala das audições depois do almoço com uma declaração surpreendente: "Tornou-se claro para mim que a confiança do público na eleição do 9.º Distrito foi minada a tal ponto, que é preciso repetir a eleição."

O candidato do Partido Republicano disse que as suas anteriores declarações, em que dizia não se lembrar de algumas situações, resultaram de dois recentes acidentes vasculares cerebrais, que lhe afectaram a memória.

E disse que não aceitou o conselho do filho, em 2017, porque ele tinha "apenas 27 anos" e é "um pouco crítico e arrogante". "Mas tenho muito orgulho nele e amo-o do fundo do coração", disse Harris.

O principal suspeito de fraude, L. McCrae Dowless Jr., e os seus colaboradores, ainda não foram acusados formalmente. E a comissão de eleições ainda não marcou uma data para a repetição das eleições, que deverá incluir também a repetição das primárias – um processo que pode demorar vários meses.

Não é claro se Mark Harris se vai recandidatar, mas Dan McCready, do Partido Democrata, já anunciou que vai concorrer novamente ao lugar.

Se McReady ou outro candidato do Partido Democrata vencer, o 9.º Distrito da Carolina do Norte sai das mãos do Partido Republicano pela primeira vez nos últimos 56 anos, e a maioria democrata na Câmara dos Representantes aumenta para 236-197.

Para além da repetição da eleição no 9.º Distrito da Carolina do Norte, há outros dois lugares na Câmara dos Representantes que vão a votos em 2019, também em eleições especiais.

No mesmo estado, o 3.º Distrito vai a votos na sequência da morte do actual congressista, Walter B. Jones, do Partido Republicano. E no 12.º Distrito da Pensilvânia, os eleitores vão voltar a escolher um representante, no dia 21 de Maio, para substituir o também republicano Tom Marino, que resignou em Janeiro para ir trabalhar para o sector privado, na indústria farmacêutica.

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