Desta vez, os Dias da Música Electroacústica convidam à imersão

A música de Mario Mary, Robert Normandeau e Jaime Reis poderá ser ouvida num espaço sonoro tridimensional nas escolas superiores de música de Lisboa, Porto e Castelo Branco.

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Robert Normandeau fará nos Dias da Música Electroacústica a estreia mundial de uma nova obra, Raíl DR

O próximo ciclo de concertos integrado nos Dias de Música Electroacústica (DME), que decorre entre 19 e 22 de Fevereiro em Lisboa, em Castelo Branco e no Porto, será dedicado aos compositores Mario Mary (Argentina/França/Mónaco) e Robert Normandeau (Canadá), acompanhados pelo português Jaime Reis, fundador e director artístico deste festival itinerante que toma a cidade de Seia como base, mas que tem promovido paralelamente diversas edições noutros pontos do país. Desde 2017, o festival conta também com o Espaço Lisboa Incomum (Rua General Leman, nº 20), destinado a promover a partilha de projectos experimentais nos campos da arte e da ciência.

Desta vez, os DME passarão pela Escola Superior de Música de Lisboa (dia 19), pela Escola Superior de Artes do Espectáculo de Castelo Branco (dia 20) e pela Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto (dia 22), no âmbito de uma digressão que inclui conferências e concertos. Para cada um destes concertos, Jaime Reis preparou “um sistema de difusão de som imersivo”, em forma de cúpula. Segundo este compositor, com uma vasta obra no campo da electroacústica apresentada em Portugal e no estrangeiro, trata-se de “um sistema que permite simular movimentos do som num espaço tridimensional, gerando formas ou percursos espaciais para criar movimentos como rotações elípticas, espirais, explosões espectrais, paredes de som e outros”. Robert Normandeau e Jaime Reis apresentam obras compostas para este tipo de sistema, enquanto Mario Mary mostrará ao público a sua ampla experiência como espacializador sonoro, difundindo em tempo real as suas obras em estéreo e multicanal nos sistemas imersivos preparados para o efeito. A digressão conta ainda com a participação do pianista ucraniano Vasyl Tsanko, solista convidado do ensemble DME.

O programa do concerto desta terça-feira (Auditório da ESML, 21h30) inclui as obras Rock (2013) e El sofisticado sonido del Dasein (2018), de Mario Mary; Fluxus, pas trop haut dans le ciel (2017), de Jaime Reis; e Figures de rhétorique (1997) e Raíl (2019), de Robert Normandeau. Esta última terá nesta ocasião a sua estreia mundial. Composta entre 2012 e 2019 durante várias estadias no estrangeiro, Raíl extrai os seus materiais musicais de várias fontes sonoras, entre as quais comboios (incluindo gravações do Canadá, dos EUA e do México) e helicópteros registados ao longo de 20 anos, entre os quais o helicóptero da Sureté du Québec (a polícia do Quebeque) que sobrevoou o bairro do compositor durante as manifestações estudantis do movimento Spring Maple, em 2012. De Normandeau, professor na Universidade de Montréal e detentor de vários prémios internacionais, será possível ouvir ainda Figures de rhétorique, para fita e piano, em que as figuras de estilo da arte retórica, organizadas por categorias, determinam a relação entre a fita e o piano nos quatro andamentos, e onde se incluem passagens semi-improvisadas.

As composições de Mario Mary, professor na Rainier III Academy, no Mónaco, e director artístico do festival Monaco Electroacoustique compreendem, respectivamente, uma homenagem ao rock progressivo (ou rock sinfónico do início dos anos 70), que marcou a sua adolescência, e uma obra inspirada pelas ideias do filósofo Martin Heidegger, que definiu o sujeito (o homem) como Dasein (o ser-aí). Para Mario Mary, a música de El sofisticado sonido del Dasein incorpora uma abordagem autêntica em que o material sonoro, a orquestração, a polifonia e o discurso musical” enfatizam características da sua estética pessoal, assim como “um trabalho reflexivo” sobre a arte eletroacústica e o mundo de hoje.

Finalmente, Fluxus, pas trop haut dans le ciel, de Jaime Reis, professor na ESART e na ESML e investigador do INET-md (Universidade Nova de Lisboa), faz parte de um ciclo de peças inspiradas em elementos físicos, que desenvolvem elementos musicais relacionados com a mecânica dos fluidos. Neste caso, a obra centra-se no que o compositor chamou  de “paisagens sonoras aéreas". Segundo Jaime Reis, “a espacialização sonora actua como um parâmetro musical central, onde a distribuição do som pelos altifalantes está relacionada não só com diferentes tipos de movimentos e formas espaciais, mas também com mudanças espectrais, com velocidades diferentes e com outros parâmetros.”

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Jaime Reis é o fundador e director artístico deste festival itinerante DR

Com pequenas variantes, este programa será apresentado na quarta-feira, às 21h30, em Castelo Branco, e no dia 22, às 19h, no Porto, sendo precedido por conferências e sessões de trabalho com os compositores.

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