As duas escolas públicas com melhores resultados parecem gémeas

Analisámos o que se passou nos rankings dos últimos cinco anos. Infanta D. Maria, em Coimbra, e Clara de Resende, no Porto, têm sempre resultados muito semelhantes. Mera coincidência, ou o contexto socioeconómico favorecido ajuda a explicar?

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Escola Clara de Resende, no Porto Rui Farinha/Nfactos

Há 130 quilómetros a separar as duas melhores escolas públicas nacionais no ranking dos exames do ensino secundário do PÚBLICO e apenas uma décima na média dos resultados dos seus alunos. Tem sido quase sempre assim. Não é novidade que as secundárias Infanta D. Maria, em Coimbra, e Clara de Resende, no Porto, estejam entre as que têm melhores resultados a nível nacional. E é curioso observar como, ao longo dos anos, os seus indicadores se têm mantido sempre muito semelhantes.

No ranking de 2018, tornado público neste sábado, as escolas de Coimbra e do Porto são a 32.ª e a 33.ª, respectivamente – se se tiver em conta apenas as escolas públicas, estão no primeiro e segundo lugar. Elsa Marques, que é hoje presidente da Associação de Pais da Escola Clara de Resende, nasceu em Coimbra e estudou na Infanta D. Maria. Conhece, por isso, particularmente bem o contexto de ambos os estabelecimentos de ensino e não tem dúvidas sobre a explicação para esta coincidência: “É o nível socioeconómico dos pais que é superior à média. Ponto final."

No mais, a escola do Porto, onde tem duas filhas a estudar, tem problemas comuns a tantas outras: professores que “faltam muito”, aulas de Educação Física que não se realizam quando chove ou faz mais frio, porque o novo ginásio não é integralmente fechado, ou quadros interactivos que não funcionam.

Um olhar retrospectivo a cinco anos mostra o seguinte: em 2013, a Secundária Infanta D. Maria era a segunda melhor escola pública no ranking dos exames e uma daquelas onde o PÚBLICO fez então reportagem. A escola de Coimbra ocupava, nesse ano, a 33.ª posição na lista nacional de públicos e privados – um lugar abaixo daquele que ocupa este ano. Imediatamente a seguir (34.ª) estava a Secundária Clara de Resende, no Porto.

Acima destas duas escolas, que voltam este ano a estar no topo no que aos estabelecimentos de ensino público diz respeito, ficou, há cinco anos, a Escola Básica e Secundária Monte da Ola, em Viana do Castelo, que teve o seu melhor resultado de sempre – desde então tem andado arredada dos primeiros lugares e este ano é a 401.ª.

Mesmo em anos de piores resultados nestas duas escolas, como aconteceu, por exemplo, em 2017, Infanta D. Maria e Clara de Resende mantêm a proximidade: eram, no ano passado, a 41.ª e 43.ª, no ranking dos exames. Se a média nas provas deste ano está separada por apenas 0,1 valores – a escola de Coimbra tem o melhor resultado com 12,55 valores –, no ano passado o resultado estava ainda mais equilibrado (0,04 valores de “vantagem” para os alunos conimbricenses).

“Já tinha reparado nessa situação”, comenta a directora da Secundária Clara de Resende, Rosário Queirós, “mas não é algo para o qual tenha explicação”. “Só conheço a escola [Infanta D. Maria] de a ver nos rankings, não faço ideia das condições que tem”, prossegue a mesma responsável.

"Contexto socioeconómico favorável"

“Não tenho dúvidas” de que o contexto socioeconómico favorável “é parte do sucesso”, diz Cristina Ferrão, directora da Infanta D. Maria, corroborando a visão da presidente da associação de pais da Clara de Resende e antiga aluna da escola que dirige desde Junho.

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Escola Infanta D. Maria, em Coimbra Paulo Pimenta

Estas duas escolas estão no “contexto 3”, o mais favorecido, na análise das condições socioeconómicas dos alunos que é feita pelo PÚBLICO, em colaboração com a Católica Porto Business School. No último ano, apenas 10,6% dos alunos da Infanta D. Maria beneficiavam de Acção Social Escolar (ASE). Na Clara de Resende eram um pouco mais: 14,5. Ambas estão em contextos privilegiados, reconhecem as suas directoras.

A escola do Porto fica localizada junto ao estádio do Bessa, a poucos metros da Avenida da Boavista, uma zona residencial de classe média-alta. Não é uma zona muito diferente da que se situa entre a Infanta D. Maria e o Jardim da Sereia, em Coimbra. “É uma zona residencial de uma classe abastada”, explica Cristina Ferrão.

“Não tenho dúvidas de que as pessoas que aqui moram têm que ter dinheiro porque é cara. Mas também recebemos meninos dos bairros”, afirma, por seu turno, Rosário Queirós. No ano passado, o aluno que terminou o 12.º ano com melhor média estava no escalão A de ASE, destinado às famílias mais carenciadas: “Tentamos ser uma escola inclusiva."

As duas directoras coincidem noutro ponto da análise. Os alunos que chegam a estas secundárias têm expectativa de prosseguir estudos para o ensino superior, normalmente para os cursos de maior procura e com médias de acesso mais elevadas. “Mais de 80% conseguem entrar na primeira opção”, valoriza a dirigente da escola Clara de Resende.

As secundárias Infanta D. Maria e Clara de Resende têm outras semelhanças. Por exemplo, estão ambas exclusivamente centradas nos cursos científico-humanísticos ao nível do ensino secundário, não tendo oferta de ensino profissional.

Todavia, se, por exemplo, a Clara de Resende é hoje sede de um agrupamento vertical, que tem alunos do 1.º ao 12.º anos, a Infanta D. Maria só começa a receber estudantes no 7.º ano. Ao nível do corpo docente, as diferenças são também maiores do que as semelhanças. A escola de Coimbra tem um grupo de professores muito estável, ao passo que a Clara de Resende passou nos últimos anos por mudanças profundas, com cerca de 40% de docentes novos a chegarem à escola nos últimos dois anos.

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