Facebook instalou-se em Bruxelas para combater desinformação nas europeias

Rede social diz que grande parte das campanhas para influenciar opiniões são feitas dentro dos próprios países.

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O Facebook quer provar que está preparado para as europeias LUSA/STEPHANIE LECOCQ

A três meses das eleições para o novo Parlamento Europeu, há uma equipa do Facebook em Bruxelas a procurar redes de desinformação na União Europeia.

A rede social diz que ainda não pode dar detalhes, mas avança que muitos dos esquemas encontrados são domésticos, e muitos passam pela coordenação de redes de contas falsas. Algumas são controladas por humanos, muitas outras, por programas de computador.

“Prevemos que a maioria das campanhas de desinformação e manipulação sejam domésticas. Isto é, dentro das fronteiras do próprio país”, disse Nathaniel Gleicher, o actual director do Departamento de Política de Cibersegurança do Facebook, numa conferência de imprensa por telefone com jornalistas, em que o PÚBLICO participou. “É o normal, porque para convencer e manipular alguém é preciso conhecer a cultura e a linguagem. E geralmente as pessoas com interesse em manipular a política de um país virão de dentro do próprio país.” 

Por outro lado, Gleicher também disse que “se começam a ver actores estrangeiros que tentam parecer domésticos". E acrescentou: “Se eu quero convencer alguém, a primeira coisa que vou fazer é garantir que eu me pareço e soo como essa pessoa.”

Desde Janeiro que Gleicher, um antigo engenheiro e advogado do Departamento de Justiça dos EUA, foi incumbido da difícil missão de limpar o Facebook – e os serviços que a rede social comprou, como é o caso do Instagram e do WhatsApp – de campanhas de desinformação para manipular o processo democrático. No passado, trabalhou como Director de Política de Cibersegurança do Centro de Segurança Nacional da Casa Branca.

Com as europeias, um dos principais focos é detectar redes de contas falsas e “comportamento inautêntico coordenado”.

“É mais fácil criar contas falsas, ou uma conta a imitar outra, do que roubar as credenciais de acesso de alguém”, lembrou Gleicher.

A estratégia do Facebook implica pôr humanos e algoritmos a trabalhar lado a lado. Gleicher explicou que as conclusões das investigações de uma “equipa de investigação manual”, composta por humanos, são depois usadas para alimentar o trabalho dos sistemas automáticos. O objectivo da equipa humana, que junta profissionais das áreas de advocacia, segurança, e jornalismo de investigação é aprender as tácticas de manipulação mais frequentes em ataques sofisticados, e ensiná-las às máquinas.

Em Janeiro, a rede social também anunciou que vai obrigar os anunciantes na rede social a precisar de uma autorização antes de comprarem publicidade de propaganda política. Ou seja, antes de publicar anúncios eleitorais relacionadas com as eleições para o Parlamento Europeu, os anunciantes devem confirmar a identidade e clarificar quem é responsável pelos anúncios.

Quando um utilizador clica num anúncio, vai surgir um aviso, com a frase “pago por...”. O utilizador pode também consultar uma “biblioteca de anúncios”, onde são partilhadas informações sobre o desempenho do anúncio, como a idade, sexo e localização de quem o viu.

Trolls que querem parecer maiores

 “Um dos desafios emergentes que temos encontrado é quando alguém diz ter muitas contas falsas para dar a ideia de que está influenciar mais uma campanha política do que está a acontecer na realidade”, revelou Gleitcher. “Vimos isto com um site em nome da Internet Research Agency nos EUA”

A Internet Research Agency (também conhecida como a “fábrica de trolls” da Rússia) é uma empresa russa com sede em São Petersburgo que executa campanhas de desinformação na Internet através de notícias falsas e comentários em redes sociais e sites de jornais.

“Disseram que tinham milhares de contas nos EUA, mas na realidade era apenas uma mão-cheia”, disse Gleitcher. O responsável pelas políticas de cibersegurança da rede social diz que nem sempre se pode provar a origem dos ataques.

Em alguns casos a estratégia é impedir anúncios e campanhas externas ao país. Foi o que aconteceu com o referendo irlandês ao aborto, em que a rede social não autorizou campanhas de pessoas fora da Irlanda. A estratégia não funciona sempre. “Não vamos bloquear campanhas estrangeiras em todos os países, porque em alguns casos não faz sentido. Na União Europeia há muitas pessoas a viver fora do seu país de origem, que podem querer aceder a informação de dentro do país”, explicou Gleicher. “Temos de avaliar caso a caso.”

Questionado pelo PÚBLICO, o responsável do Facebook não foi capaz de dizer quais das plataformas (Facebook, Instagram, Messenger ou WhatsApp) é a mais afectada por campanhas de desinformação. "Depende muito do país e da cultura. Mas prestamos atenção a várias plataformas, incluindo plataformas que não são do Facebook, como é o caso do Twitter", disse Gleicher.

Em Agosto, o Facebook, o Twitter, o YouTube e o Google Plus (que vai deixar de estar disponível em Abril) eliminaram, em conjunto, centenas de contas e grupos que promoviam a agenda geopolítica do Irão ao tentar gerar discórdia sobre assuntos que incluíam o conflito israelo-palestiniano, o Brexit, a monarquia britânica, e as políticas do presidente Donald Trump nos EUA.

Ainda assim, Gleicher admite que o caminho pela frente é difícil: seja pelos “protagonistas dos ataques sempre a mudar”, pelas várias plataformas do Facebook que “têm diferentes características”, ou pelo facto de “as campanhas dependerem muito do país e dos hábitos culturais.”

Esta semana, a rede social removeu 168 contas no Facebook, bem como 28 páginas e oito contas no Instagram, por estarem envolvidas em campanhas de desinformação na Moldávia.

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