"Jordi assume que ficará mais oito anos na prisão e olha para o julgamento como algo maior do que ele"

Líder da Òmnium Cultural é o único não político a sentar-se na sala de audiências do Supremo Tribunal Espanhol que julga líderes independistas catalães.

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Jordi Cuixart, o filho Amat e a mulher,Txell Bonet Jordi Gabarró

Quando Jordi Cuixart ficou em prisão preventiva, a 16 de Outubro de 2017, Amat tinha seis meses. Já visitou o pai numa prisão longe (Soto Real); depois noutra mais perto (Lledoners), a duas horas de comboio; agora numa terceira, de novo longe, em Madrid. Através de um vidro às vezes, podendo tocar-lhe noutras. No mês passado assistiu, na prisão catalã de Lledoners, ao casamento dos pais, o empresário e presidente da associação Òmnium Cultural e a jornalista Txell Bonet.

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Quando Jordi Cuixart ficou em prisão preventiva, a 16 de Outubro de 2017, Amat tinha seis meses. Já visitou o pai numa prisão longe (Soto Real); depois noutra mais perto (Lledoners), a duas horas de comboio; agora numa terceira, de novo longe, em Madrid. Através de um vidro às vezes, podendo tocar-lhe noutras. No mês passado assistiu, na prisão catalã de Lledoners, ao casamento dos pais, o empresário e presidente da associação Òmnium Cultural e a jornalista Txell Bonet.

"Todos os dias digo a mim mesma, ‘isto vai durar dez anos, mas se for daqui a umas semanas a casa tem de estar muito limpinha’." Txell, de 44 anos, nunca mais jantou ou dormiu com o marido, organiza a vida em função das visitas, tenta trabalhar. "Eu não quero ser uma vítima", diz, numa conversa na sede da Òmnium, no bairro do Eixample, Barcelona, não muito longe do Departamento de Economia, o cenário da manifestação de 20 de Setembro de 2017, a peça central na acusação contra o marido. Poucos sorrisos, nenhuma lágrima, contenção total.

"Imagina que estás num mosteiro", disse Txell a Jordi. Jordi começou a meditar, aprendeu cerâmica, escreve artigos, cartas e petições a pedido de outros detidos. "Na prisão não controlas nada, decidem por ti a que horas acordas, comes. Mas não te podem controlar a mente", diz. E o marido ocupa-se. "É muito forte. Estamos a lutar por um sentimento colectivo, não consigo olhar para a nossa situação de uma forma isolada. Faz tudo parte da mesma repressão".

Txell não fica na Òmnium para as conversas que se seguem, com Marcel Mauri, o vice de Jordi na associação de defesa da língua e da cultura catalães, e Àlex Solà, um dos advogados do marido. "Estamos convencidos que vamos perder este processo na justiça espanhola mas que o vamos ganhar na justiça europeia", diz Mauri, a pensar no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, de Estrasburgo. "Ele aceita, assume que ficará mais oito anos na prisão e esta posição vital permite-lhe olhar para a importância do julgamento, que é algo maior do que ele", afirma o advogado.

Antes, eram os Jordis - Cuixart foi preso no mesmo dia, acusado do mesmo crime de "sedição" que Jordi Sànchez, presidente da Associação Nacional Catalã. Sànchez foi candidato às eleições autonómicas na lista de Carles Puidgemont, o presidente catalão deposto e a viver no estrangeiro. Cuixart continua a ser líder da Òmnium, a associação que não deixou a língua catalã morrer no franquismo. Agora a acusação é de "rebelião" e a procuradoria pede 17 anos de prisão para Cuixart, de 43 anos.

"A gravidade da sentença que o pode condenar é outra, é mais prejudicial para a democracia espanhola do que a sentença de um político", defende Solà. "Porque se condenam Jordi Cuixart a um dia de prisão vai ser o mesmo que dizer que uma manifestação em Espanha é um crime", diz. “Se se criminaliza a desobediência civil, todos os movimentos sociais na Europa devem temer pela sua existência”, afirma a Associação de Advogados Europeus.

Em protesto contra uma série de detenções de funcionários do governo catalão e operações em várias sedes em busca de material eleitoral, com o objectivo de impedir a realização do referendo de 1 de Outubro de 2017, dezenas de milhares de pessoas cercaram o Departamento de Economia da Generalitat a 20 de Setembro. Algumas só desmobilizaram no dia seguinte. Há vídeos dos Jordis em cima de um carro da polícia a apelar à calma e eles garantem ter negociado a saída da políciado edifício. Os agentes não saíram e eles são acusados de promoverem um levantamento popular.

Agora, Jordi está de novo mais longe, na prisão de Alcalá-Meco, em Madrid, para onde foram transferidos os 12 acusados no início do mês. É de lá que irão todos os dias para o Supremo Tribunal. Txell e o filho, que entretanto já anda e fala, vão viver em vaivém permanente nos próximos meses. Amat fará dois anos durante o julgamento.