Candidatura da princesa tailandesa retirada depois da oposição do rei

O partido que nomeou a princesa Ubolratana declarou que vai respeitar a decisão do rei Maha Vajiralongkorn, que não quer a irmã envolvida na política.

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A princesa Ubolratana queria ser candidata a primeira-ministra nas eleições do próximo mês Reuters/Bobby Yip

A aventura política da princesa tailandesa, Ubolratana Rajakanya Sirivadhana Barnavadi, chegou ao fim em menos de 24 horas. O partido que a apresentou como candidata às eleições de Março declarou que vai aceitar a posição do rei Maha Vajiralongkorn, que se opôs de forma firme à candidatura da irmã mais velha.

O anúncio de que a princesa Ubolratana, filha mais velha do venerado rei Bhumibol, que morreu em 2016, seria a candidata a primeira-ministra por um partido da oposição à junta militar actualmente no poder deixou a Tailândia em choque. A instituição monárquica tem um estatuto quase divino no país, onde existem leis duríssimas de lesa-majestade contra qualquer indício de crítica à família real, e nunca um membro da coroa participou directamente na vida política.

Ubolratana apresentou-se como uma “cidadã comum”, dizendo que já não tinha qualquer título real. Mas o seu irmão e rei da Tailândia emitiu de imediato um comunicado em que manifestava oposição aberta à candidatura da princesa, que considerou “inapropriada” e em violação da Constituição.

O partido Thai Raksa Chart emitiu este sábado um comunicado em que disse “aceitar graciosamente” a posição do rei, e garantiu que irá respeitar a tradição real. A Comissão Eleitoral disse que ia emitir uma decisão na segunda-feira.

A princesa publicou no Instagram uma mensagem de agradecimento aos seus apoiantes, mas não referiu a declaração do irmã nem a sua candidatura. “Quero dizer uma vez mais que quero ver a Tailândia a avançar, a ser admirada e aceitável pelos países internacionais, quero ver todos os tailandeses com direitos, boas vidas, felicidade para todos”, escreveu Ubolratana.

“Os acontecimentos de sexta-feira foram espantosos e puseram as pessoas a repensar totalmente as suas avaliações e perspectivas quanto à futura trajectória política do país”, disse à Reuters o director da consultora BowerGroupAsia, Jay Harriman.

É cedo para medir qual será o efeito que o desafio lançado pela princesa terá sobre umas eleições que até há pouco tempo pareciam de desfecho certo. Há cinco anos que a Tailândia é governada por uma junta militar, presidida pelo general Prayuth Chan-ocha, que retirou do poder o Governo de Yingluck Shinawatra. Prayuth fundou um partido e é o candidato favorito à chefia do Executivo.

Ubolratana pretendia candidatar-se pelo Thai Raksa Chart, um partido próximo dos “camisas vermelhas”, como são conhecidos os apoiantes dos Shinawatra – o irmão de Yingluck, Thaksin, também foi primeiro-ministro, entre 2001 e 2006, e acabou por ser afastado do poder pelo Exército.

O correspondente da BBC Jonathan Head considera que a nomeação da princesa poderá ter sido um erro de cálculo por parte dos apoiantes dos Shinawatra, especialmente por ter recebido uma oposição tão forte da parte do rei.

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