"Queremos um jardim", gritou-se no Martim Moniz

Cordão humano de protesto contra as actuais obras na praça lisboeta teve várias dezenas de participantes.

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LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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Chegaram com folhas em branco e canetas pretas e foi ali mesmo, no chão da Praça do Martim Moniz, que escreveram as mensagens que depois afixariam nos tapumes da obra iniciada há duas semanas, contra a qual vieram protestar. Algumas dezenas de pessoas juntaram-se na tarde deste sábado para dizer que não querem um novo mercado na praça e exigir que a Câmara de Lisboa faça antes um jardim.

O protesto, em forma de cordão humano que rodeou a placa central do Martim Moniz, foi convocado pela associação Renovar a Mouraria, que assim, num gesto que lhe é raro, tomou uma posição pública contra o mercado idealizado pela nova concessionária do espaço.

“Aquilo que nós sentimos foi o desagrado total da comunidade relativamente a este projecto”, explicou Inês Andrade. “A Lisboa de há dez anos não é a Lisboa de hoje. Estamos fustigados com barulho e restauração.”

Pelas 16h desenrolou-se um cartaz extenso, segurado por inúmeras pessoas, que o tentavam exibir aos automobilistas e turistas de passagem. “A CML tem o dever e obrigação de respeitar a democracia e a vontade dos lisboetas. Queremos um jardim público. Lisboa não está à venda. Lisboa é de todos”, podia ler-se. O cartaz não ficou inteiro por muito tempo, mas os participantes deram as mãos e circundaram o espaço, gritando “A praça é nossa!”.

Na iniciativa estiveram presentes, mas fora do cordão humano, vereadores do CDS, PSD e PCP, bem como pelo menos uma deputada municipal do BE. Todos estes partidos estão contra o projecto e criticam a forma como o executivo de Fernando Medina tem lidado com o assunto.

O urbanista João Seixas, que foi apoiante da candidatura de Medina nas últimas autárquicas, foi também um dos presentes. “Devia haver uma gestão pública de um espaço público de excelência como é este”, afirmou. Referindo-se ao Martim Moniz como “espaço charneira” na cidade, Seixas sublinhou que a praça “deve ser exemplar na sua gestão pública, assim como é na sua posição geográfica”, e deve ter “as funções que a cidade e os seus representantes elejam”.

“Parece que está tudo à venda e que qualquer empresa com dinheiro chega e faz”, criticou Alexandre Cotovia, do Grupo Gente Nova, uma pequena colectividade da Mouraria que hoje funciona “maioritariamente como espaço de convívio” e onde chegam os anseios e preocupações dos moradores.

Já depois de terem dado uma volta à praça, os manifestantes voltaram a unir as mãos junto a Hotel Mundial para gritar “Queremos um jardim”. Depois, puseram-se em redor dos tapumes metálicos e começaram a bater, provocando grande ruído. Nesses tapumes estavam já mensagens diversas. “Queremos viver em paz. Não queremos ser figurantes no processo de financeirização da habitação e da entrega do espaço público aos especuladores”, “Privatizar Lisboa? Não, obrigado” e “Lisboa quer ser cidade, não um shopping center” erao que se lia em alguns dos cartazes afixados.

O protesto terminou pelas 17h com um apelo de Inês Andrade: “Mandem sugestões de novas acções de luta para acabarmos com esta concessão. Com esta e com todas, porque a cidade não é dos investidores.”

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