Ano eleitoral (3)

Os novos partidos da direita têm um bom potencial de nove deputados (cinco em Lisboa e quatro no Porto). Os votos claramente andam por aí.

1. Nos artigos anteriores, abordei as eleições europeias e legislativas do ponto de vista das grandes tendências do comportamento eleitoral dos portugueses. Em particular, no artigo anterior, sugeri os grandes números para outubro – PS com dois milhões de votos (longe de uma maioria absoluta e ao nível das derrotas de 2002 e de 2009), PSD com 1,3 milhões de votos (ao nível do pior resultado da história do partido, em 1976), Bloco, CDU e CDS todos nos meio milhão de votos (CDU nos clássicos 450 mil e Bloco um pouco acima). Com estes números falamos de uma nova maioria de esquerda e o pior resultado de sempre do PSD e CDS. Evidentemente que estes números podem ainda variar em virtude dos acontecimentos dos próximos meses, mas diria que são o ponto de partida em consonância com as preferências reveladas em eleições anteriores e com as sondagens publicadas nos últimos anos.

2. O grande desafio aos partidos instalados vem dos pequenos e dos novos partidos, uma vez que a abstenção em Portugal não conta politicamente. Os abstencionistas são ignorados pelo regime, pela comunicação social, pela opinião publicada. Por isso, o aumento da abstenção em cerca de 500 mil eleitores entre 1995 e 2015 merece apenas umas piedosas e experimentais medidas, recentemente anunciadas (e diga-se, em abono da verdade, que o atual Governo foi o primeiro a fazer alguma coisa).

3. Apesar de terem subido de menos de 100 mil votos em 1995 para quase 400 mil votos em 2015, os pequenos partidos também não contaram politicamente até ao momento. Apenas o PAN colocou um deputado na Assembleia da República, ganhando com isso alguma visibilidade mediática. Os novos partidos à direita (Iniciativa Liberal, Aliança, D21, Chega, etc.) vão tendo alguma atenção em virtude da decomposição eleitoral do PSD, alguns até antes da sua constituição formal, mas ainda é cedo para perceber se terão um papel parlamentar importante na próxima legislatura.

4. Nesse sentido, uma análise mais cuidadosa dos eleitorados de Lisboa e Porto pode dar uma ideia mais exata das reais possibilidades dos pequenos e dos novos partidos na próxima legislatura. Cada uma destas forças precisa de mobilizar cerca de 20 mil eleitores (um pouco mais para estar na zona de eleição certa) em Lisboa ou no Porto. O PAN, por exemplo, apesar dos seus 75 mil votos a nível nacional, elegeu o seu único deputado praticamente por um punhado de votos em Lisboa. O seu objetivo em 2019 deverá ser duplicar a votação em Lisboa e conseguir um segundo deputado. Deverá também encontrar outros seis mil eleitores no Porto para eleger o seu primeiro deputado por esse círculo. Já o Livre terá de encontrar mais seis ou sete mil eleitores em Lisboa; sendo que no Porto, em 2015, ficou mesmo muito longe da meta.

5. Para os novos partidos da direita, os números parecem-me otimistas. Em Lisboa, a coligação PàF falhou 160 mil eleitores, comparando com 2011, e o PS apenas cresceu 60 mil. Olhando para 2009 (quando PSD e CDS foram derrotados por Sócrates II), a coligação PàF perdeu cerca de 17 mil eleitores. E, somando o cartel instalado, há cem mil votos “desencaminhados” desde 1995. Um potencial de cinco deputados.

6. Já no círculo do Porto, o desafio é mais complexo. A coligação PàF falhou cerca de 100 mil eleitores, comparando com 2011, mas ainda assim o PS conseguiu perder votos. Em sentido inverso, a CDU tem vindo a crescer eleitoralmente e foi o Bloco quem beneficiou muito do desgaste da direita. Tomando 2009 como referência, a coligação PàF perdeu oito mil eleitores. E, somando o cartel instalado, há 90 mil votos “desencaminhados” desde 1995. Portanto, um potencial mais próximo de quatro deputados, mas com um forte crescimento da esquerda radical que pesca nos votos de protesto.

7. Parece-me, pois, que os novos partidos da direita têm um bom potencial de nove deputados (cinco em Lisboa e quatro no Porto). Os votos claramente andam por aí. Mas a abstenção, a dispersão entre os novos partidos da direita e a concorrência do PAN, do Livre e do Bloco pelo voto de protesto oferecem um contexto difícil. Veremos em outubro se conseguem vencer o desafio.

PÚBLICO -
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O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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