Ministra de Bolsonaro acusada de sequestro de criança indígena

Tribo Kamayurá denunciou à revista Época que uma criança da aldeia foi levada por Damares Alves de forma irregular por Damares Alves, a pastora evangélica que lidera o ministério brasileiro da Família.

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Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Marcos Corrêa/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DO BRASIL

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do Governo de Jair Bolsonaro foi acusada por membros da tribo indígena Kamayurá de ter sequestrado uma criança da aldeia, na região do Xingu, no estado brasileiro de Mato Grosso. Kajutiti Lulu Kamayurá, que Damares Alves apresenta como sua filha adoptiva, sem no entanto ter formalizado a adopção, foi levada em 2005, com apenas seis anos.

A antiga advogada e pastora evangélica assegura, no entanto, que “não estava presente no processo de saída da Lulu da aldeia” e que ambas “se conheceram em Brasília”. Lulu garante que “é tudo mentira”.

O caso foi tornado público com uma reportagem que foi tema de capa, na quinta-feira, da revista brasileira Época (Globo). Segundo os relatos dos índios Kamayurá, um povo da bacia do Xingu, no Amazonas, Damares e a amiga Márcia Suzuki – ambas fundadoras de uma ONG dedicada à luta contra o infanticídio indígena – apresentaram-se na aldeia como missionárias e disseram que iam levar Lulu para um tratamento dentário. A criança não voltou a aparecer durante muitos anos, explicaram.

“Chorei e a Lulu também chorou por deixar a avó. Márcia levou-a à força. Disse que ia mandá-la de volta, quando entrasse de férias”, conta Tanumakaru, avó da criança, que a tinha criado até então. 

Entrevistada pelo UOL, por telefone, Lulu negou que tenha sido sequestrada. Confirmou que saiu da aldeia para fazer o tratamento dentário e que ficou hospedada em Brasília, numa casa da organização de Márcia Suzuki. Dois irmãos seus também viviam na capital. 

Foi em Brasília que diz ter conhecido a ministra. “Foi amor à primeira vista. Ela se apaixonou por mim e depois eu por ela. O resto é tudo mentira”, afiança a jovem que agora tem 20 anos.

Três anos depois mudou-se para casa da pastora evangélica, agora ministra – que diz estar a ser alvo de uma campanha “política” –, com a autorização dos pais. Usou o ministério para emitir um comunicado, em que se define como "uma cuidadora de Lulu", e diz considerá-la "uma filha".

No entanto, não dá uma explicação satisfatória para o facto de não a ter adoptado formalmente. "Como não se trata de um processo de adopção, e sim um vínculo socioafectivo, os requisitos citados pela reportagem [a falta de autorização da Fundação Nacional do Índio, Funai, necessária para adoptar uma criança indígena] não se aplicam. Ela nunca deixou de conviver com os parentes, que ainda moram em Brasília", diz a nota de Damares Alves.

Através do comunicado, o ministério presidido por Damares Alves garante que “todos os direitos de Lulu Kamayurá foram observados” e que “não foi violada nenhuma lei”. “Lulu Kamayurá já regressou à aldeia. Ela deixou o local com a família e jamais perdeu contacto com seus parentes biológicos”, lê-se no comunicado. Os índios Kamayurá garantem, porém, que a primeira visita de Lulu foi em 2017.

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