Depois da limpeza, Caixa atinge lucro de 495 milhões

O banco público atingiu um lucro líquido de 495 milhões de euros no final de 2018, uma subida acentuada face aos 52 milhões do ano anterior.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

A equipa de Paulo Macedo assumiu uma boa parte da limpeza das contas no exercício de 2017, o seu primeiro à frente da Caixa e, agora, fecha o seu segundo exercício (2018) com um lucro líquido de 495 milhões de euros, muito acima dos 51,9 milhões registados um ano antes.

Em conferência de imprensa, Paulo Macedo destacou o bom desempenho do grupo que fechou 2018 com o quarto melhor resultado desde sempre. A contribuir decisivamente para esta escalada estiveram duas provisões milionárias registadas em 2017 e que travaram os resultados desse exercício, mas que agora libertam as contas para um crescimento de 854% dos lucros: por um lado, as provisões para a redução de trabalhadores, que pesaram 226,9 milhões em 2017 e agora ficaram-se pelos 53,5 milhões; por outro, as provisões para a venda de subsidiárias internacionais, que custaram 382,7 milhões há dois anos e que em 2018 foram residuais (cinco mil euros).

Com estes dois balões de oxigénio - e com as imparidades relativas a créditos cada vez mais diminutas (apesar do crescimento de 39% para 119,4 milhões em 2018) - os resultados da Caixa puderam respirar e aguentar o impacto negativo de algumas das componentes mais centrais da sua actividade: a margem financeira desceu 3%, os resultados das operações financeiras recuaram 85%, afectando o produto global da actividade, que se reduziu em 11%.

Os resultados obtidos neste exercício permitem assim distribuir dividendos ao accionista, como estava previsto no âmbito do plano de recapitalização aprovada pelas autoridades europeias. Uma medida que foi confirmada aos jornalistas, esta sexta-feira, por Rui Vilar, que sublinhou que a Caixa "estava em condições" de o fazer. Paulo Macedo falou mesmo num número plausível para os dividendos: 200 milhões de euros, um valor que está acima dos 150 milhões inscritos no Orçamento do Estado para 2019.

A polémica auditoria

Está a correr no Ministério Público, desde meados de 2018, uma investigação aos actos de gestão potencialmente ilícitos que praticados por administrações anteriores na CGD, avançou esta sexta-feira, em conferência de imprensa, Rui Vilar o chaiman do banco público, que revelou ainda que a CGD solicitou ao accionista Estado poder constituir-se como assistente no processo judicial.

O presidente não executivo da Caixa, que falava durante a apresentação das contas anuais, começou por referir que "o tempo mediático" é outro, que não o dos números, pelo que ia abordar o tema da auditoria da EY ao grupo. E confirmou que o documento foi remetido só ao Banco de Portugal, Banco Central Europeu e à Procuradoria-Geral da República. E que após ter solicitado um parecer jurídico, o banco requereu a um gabinete de advocacia (VdA) que avaliasse os actos de gestão das administrações visadas na auditoria, de forma a que se apurem as responsabilidades civis dos ex-gestores.

Questionado sobre se tinha ficado chocado com o resultado da auditoria da EY aos actos de gestão das anteriores administrações, Paulo Macedo disse que “o relatório pedido foi a actos de gestão que correram mal, e não aos que correram bem". "Um enviesamento" que foi propositado, sublinhou.

Macedo considerou ainda que se se olhar para os factos "à luz de hoje" conclui-se que alguns correram mal e "não são aceitáveis."

Sobre as decisões de crédito e as decisões de investimento referidas pela EY que terão sido instruídas politicamente, começou por dizer que um grupo público recebe sempre orientações do accionista. E acrescentou que existem "diferentes interpretações do que é interferência politica".

O antigo ministro da Saúde fez ainda questão de sublinhar que "uma coisa que sou totalmente contra é achar-se que todas as pessoas que passaram pela Caixa são culpadas”, considerando inadmissível que se diga que quem passou pela administração da Caixa "ou é culpado" ou tem "cadastro". Macedo lembra mesmo que "não há nenhum antigo gestor da CGD com processos contra-ordenacionais movidos ou abertos pelo Banco de Portugal".

Quando inquirido sobre se a CGD ia instaurar acções criminais por actos praticados por anteriores gestores, Macedo avisou que "a CGD não é um tribunal" e irá "procurar ser ressarcida caso isso seja viável”.

Comissões sobem, custos descem

A Caixa explica, em comunicado, que no caso da margem financeira, a actividade em Portugal cresceu, mas o indicador global foi afectado pelos efeitos cambiais em Angola e Macau. A "margem financeira na CGD Portugal [teve] um crescimento de 2,1% face a 2017, alcançando 731,0 milhões de euros. No entanto, fortemente afectada por efeitos cambiais adversos em Angola e Macau, a margem financeira consolidada reduziu-se 2,9% fixando-se em 1204,8 milhões de euros”.

No que diz respeito a comissões, o montante recolhido em 2018 cresceu 2% para os 474,2 milhões, num contexto marcado pelos aumentos generalizados dos custos cobrados aos clientes, em linha com a tendência do resto do sector. 

Por outro lado, os custos de estrutura caíram 9,3% para os 1000,9 milhões de euros, numa altura em que a gestão de Paulo Macedo tem vindo a implementar o Plano Estratégico que visa uma redução do número de trabalhadores e o encerramento de balcões em todo o país. Nesse aspecto, a Caixa fechou o ano passado com 1064 agências em todo o grupo, sendo que a rede comercial com atendimento presencial (CGD Portugal) ficou com 522 (contra as 587 de 2017). No que diz respeito a trabalhadores, o número total baixou de 8321 para 7675 no grupo global, tendo os postos de trabalho na CGD Portugal baixado de 7665 para 7244

Os resultados de serviços e comissões totalizaram 474,2 milhões de euros em 2018, um crescimento de 9,3 milhões de euros (+2,0%).

Em termos de rentabilidade, o indicador que mede esse desempenho, o ROE (return on equity) da CGD cifrou-se em 6,6%. Já os rácios de capital estão agora nuns confortáveis 15,7% e 17%, acima dos objectivos das autoridades europeias e impulsionados pela substancial recapitalização de 4,9 mil milhões de euros com dinheiros públicos.

Paulo Macedo salientou que as metas definidas em 2018 pela actual administração foram todas atingidas e até foram ultrapassadas, uma situação positiva que possibilita manter a operação do banco em França. Refira-se que no final do ano passado a Caixa anunciou a venda das actividades em Espanha e África do Sul por um valor total de 565 milhões de euros.

No que diz respeito à actividade central do banco - emprestar e guardar dinheiro -, o ano de 2018 na Caixa traduziu-se numa descida do valor da carteira de créditos para 54.926 milhões de euros. A Caixa refere que "a nova produção registou uma forte progressão, mas que, contudo, não foi suficiente para contrariar a redução da carteira, fortemente influenciada pelas vendas de [crédito malparado] NPLs, bem como pelos significativos reembolsos de crédito por parte de entidades públicas (cerca de 1000 milhões de euros)".

Já a nova produção de crédito habitação na CGD Portugal totalizou 1558 milhões de euros, mais 328 milhões de euros (+26,7%). Nas empresas, o volume total caiu 11%, fruto sobretudo da venda de carteiras de crédito problemático, em particular no sector da construção e imobiliário.

Os depósitos de clientes recuaram 0,3% para 164 milhões de euros (-0,3%), uma perda compensada pela captação fora de balanço (+677 milhões de euros), nomeadamente no que diz respeito a fundos de investimentos, seguros e dívida pública.

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