HRW pede a Moçambique investigação a morte "suspeita" de empresário

Andre Hanekom morreu enquanto estava sob custódia da polícia. Sul-africano era acusado de uma onda de ataques na província de Cabo Delgado.

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Mercado em Mocímboa da Praia, Moçambique LUIS FONSECA/Lusa

A organização não-governamental Human Rights Watch pediu às autoridades moçambicanas que investiguem a morte do empresário sul-africano Andre Hanekom, que tinha sido acusado pelas autoridades de Maputo de ser o responsável máximo por uma série de ataques na província de Cabo Delgado.

Andre Hanekom morreu no dia 23 de Janeiro, no Hospital de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado. "As autoridades moçambicanas devem assegurar uma "investigação imparcial e transparente" à morte, do empresário que a HRW classificou como "suspeita", enquanto estava sob custódia policial​.

Cinco dias antes da morte, Hanekom teria sido transferido da prisão para o hospital com fortes convulsões. 

Já depois da morte, há informações contraditórias sobre a realização de uma alegada autópsia, informação que nem o hospital, nem os órgãos de justiça esclareceram até hoje.

"A morte de Hanekom, enquanto detido, levanta questões que precisam de uma investigação rápida e completa das autoridades", sublinhou o director da HRW na África Austral, Dewa Mavhinga. As autoridades "devem estabelecer a causa da morte de Hanekom e fornecer os detalhes e o relatório da autópsia à sua família".

Andre Hanekom, 62 anos, era dono de uma empresa de logística marítima na região norte de Cabo Delgado, em Moçambique. Foi perseguido pelas forças de segurança desde Agosto de 2018 por alegadas ligações a ataques armados na região.

Familiares e amigos classificam até hoje as acusações como absurdas e têm denunciado ilegalidades nas detenções e transferências de Hanekom, que foi mantido em detenção sem acusações ou acesso a um advogado desde 1 de Agosto, apesar de uma ordem judicial de 10 de Outubro, do Tribunal do Distrito de Palma, ter ordenado a sua libertação sob fiança.

A 31 de Dezembro, Hanekom entrou num rol de indivíduos acusados pela justiça moçambicana de orquestrar ataques no Norte do país, mas a família refere que está a ser vítima de pessoas com poder, interessadas em propriedades que possuem junto à costa, na região onde estão a ser construídos empreendimentos de extracção de gás natural.

Desde Dezembro que a HRW denuncia suspeitas de execuções sumárias e abusos das autoridades de Moçambique contra alegados autores de ataques a povoações remotas no norte do país.

A onda de violência naquela zona começou após um ataque armado a postos de polícia de Mocímboa da Praia, em Outubro de 2017. Posteriormente, ocorreram dezenas de ataques que se suspeita estarem relacionados com o mesmo tipo de grupo, sempre longe do asfalto.

De acordo com números oficiais, morreram cerca de 100 pessoas, entre residentes, agressores e elementos das forças de segurança, na onda de violência no Norte.

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