Google digitaliza cultura portuguesa para as pessoas pensarem em arte "como pensam em café"

Multinacional americana e Ministério da Cultura juntaram esforços num projecto que envolveu 22 instituições.

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Amit Sood apresentou o projecto no Picadeiro Real do Museu Nacional dos Coches Daniel Rocha/PÚBLICO

Há mais cultura portuguesa no Google. Três mil obras do património cultural português (incluído monumentos, painéis de azulejos, túmulos de reis e rainhas, retratos e mais) foram adicionadas à plataforma online do Google dedicada à cultura, a Arts & Culture, onde já estavam algumas instituições portuguesas. É possível ver quadros em detalhe, fazer visitas virtuais a museus, e até comparar selfies com rostos parecidos em quadros famosos.

O novo projecto, chamado Portugal: Arte e Património, foi apresentado nesta terça-feira e é uma colaboração entre o Google, o Ministério da Cultura e a Direcção-Geral do Património Cultural. Conta com a participação de 22 instituições. 

“Portugal é um dos países a que não fazíamos justiça na aplicação”, disse ao PÚBLICO Amit Sood, fundador do projecto e director do Instituto de Cultura do Google. "Temos de tornar a cultura num hábito. É muito giro experimentar a funcionalidade de selfies com os amigos e rir… Mas depois já não se usa. Quero que as pessoas pensem em arte como pensam em café. Quero que as pessoas tomem uma dose de cultura de manhã, para começar o dia, como bebem um expresso. Ou para acabar o dia. Ou durante o dia.”

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, vê a iniciativa como uma oportunidade para fornecer melhores instrumentos a quem investiga arte e cultura. “Isto é na verdade uma viagem pela história e identidade do nosso país”, disse, no lançamento do projecto, no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa. “É uma oportunidade para conhecermos histórias que não conhecemos.” E lança o desafio de se tornar a aplicação acessível e interessante a crianças, e de se incluir mais histórias sobre o papel das mulheres na arte.

A plataforma do Google já tinha parcerias com várias instituições culturais portuguesas (por exemplo, o Museu Colecção Berardo e o Museu Nacional de Arte Contemporânea), mas é a primeira vez que entram tantos museus na plataforma em simultâneo.

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O Museu do Traje foi uma das instituições a ter as suas peças fotografadas com a câmara do Google

Ao todo, há 80 novas exposições digitais vindas de Portugal disponíveis online, 20 viagens em realidade virtual e mil obras de arte captadas em alta resolução. É possível passear pelo Mosteiro dos Jerónimos ou ver em detalhe um mercado do século XVIII, ampliando uma pequena parte do Grande Panorama de Lisboa, um painel de azulejos de 1700 que está em exposição no Museu Nacional do Azulejo. 

"Faltam 99,9%"

Ainda há um longo caminho pela frente para o responsável da plataforma a considerar um êxito. “O sucesso global é de 0,1%”, admitiu Sood. “Faltam 99,9% para cumprir a missão que idealizei. Estamos a informar quem tem telemóveis e acesso à plataforma. Mas há muitas pessoas que ainda não querem entrar em museus e que não vão entrar, porque não é uma coisa para eles.”

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Amit Sood diz que ainda há um longo caminho pela frente para a missão estar perto de cumprida Daniel Rocha/Publico

Um desafio é decidir o que se coloca na página de abertura da plataforma. A curadoria é feita por uma pequena equipa em Londres. Inclui exposições que recontam a história da culinária, vestuário e transportes ao longo do tempo. "O modelo tradicional da Internet é: ‘As pessoas mostram aquilo que gostam e a Internet dá-lhes mais do que gostam’. Mas quando se trata de cultura acho mais interessante mostrar coisas que as pessoas acham que não gostam. Para as desafiar. Mas isto demora tempo”, reconheceu Sood. 

A solução não é pôr de parte qualquer uma das opções, explicou o responsável do Google. “Há que agradar, caso contrário as pessoas não regressam à aplicação. Se alguém gosta de arte contemporânea e está sempre a ver imagens sobre a história do sushi vai apagar a aplicação.”

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