Montijo: Associação surpreendida e desiludida por acordo sem avaliação ambiental

Associação Portuguesa de Avaliação de Impactes diz que "uma vez que a decisão está tomada" todos os pareceres da Administração "serão condicionados pela posição do Governo".

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Acordo entre o Governo e a ANA foi assinado na terça-feira da semana passada Nuno Ferreira Santos

A Associação Portuguesa de Avaliação de Impactes transmitiu hoje "surpresa e desilusão" pelo acordo entre o Governo e a ANA para concretizar o aeroporto do Montijo, sem avaliação de impacto ambiental, que deve realizar-se antes das decisões.

Foi "com surpresa e desilusão que a APAI [Associação Portuguesa de Avaliação de Impactes] tomou conhecimento do acordo entre o Governo e a ANA, S.A. que se fundamenta na decisão de avançar com o aeroporto do Montijo, cujo procedimento de AIA [avaliação de impacte ambiental] ainda nem se iniciou", refere um comunicado dos seus dirigentes. A APAI explica que o propósito da avaliação de impacte ambiental é "ser um instrumento de apoio à decisão, como aliás é definido, para permitir processos de decisão participados e transparentes".

Um dos seus principais objectivos é "apoiar antecipadamente o desenvolvimento de projectos através da comparação e selecção de alternativas, para ajudar a escolher a opção mais sustentável em termos ambientais, sociais e económicos", especifica Este instrumento assegura, continua a APAI, "também antecipadamente, transparência e participação pública nos processos de decisão, dois princípios reconhecidos em convenções mundiais e em legislações nacionais, incluindo a nacional".

"Quando o público vier a ser consultado e quando a APA, enquanto Autoridade de AIA, e as restantes entidades da Administração envolvidas na AIA e os seus técnicos derem os seus pareceres, a sua opinião pouco ou nada vai contar, uma vez que a decisão está tomada e todos os pareceres da Administração serão condicionados pela posição do Governo", critica a associação, concluindo que "o procedimento de AIA será um pró-forma improcedente".

A associação, que agrupa os profissionais e outros interessados na avaliação de impactes, insiste que "antecipadamente significa antes das decisões fundamentais serem tomadas".

O Estado e a ANA - Aeroportos de Portugal assinaram na semana passada o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, que prevê um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028, valor que inclui a extensão da actual estrutura Humberto Delgado (aeroporto de Lisboa) e a transformação da base aérea do Montijo em aeroporto civil, cujo início de funcionamento está previsto para 2022. Para o primeiro ano de funcionamento do novo aeroporto estão previstos sete milhões de passageiros.

A decisão do Governo de avançar com a formalização do acordo sem ser conhecido o estudo de impacte ambiental ou sequer estar entregue na Agência Portuguesa do Ambiente (APA) originou críticas de várias áreas, dos ambientalistas aos partidos da oposição no parlamento.

A APAI recorda que um primeiro procedimento de AIA foi encerrado por insuficiência do estudo de impacte ambiental (EIA), sem que este tenha sido tornado público. Segundo as explicações da associação, o EIA "não é apenas um documento que define as medidas de mitigação ou as condicionantes ambientais de um projecto", é sim "o resultado de estudos que servem justamente para informar, e apoiar, um processo de decisão e de selecção de alternativas".

Em Portugal, salienta a APAI, onde é uma obrigação legal desde 1990, o sistema de AIA tem sido considerado um dos mais avançados do mundo devido à sua acção antecipada, com dois níveis de avaliação -- fases de Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e de RECAPE (Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução) -- que aumentam a sua capacidade de apoio à melhoria da qualidade dos projectos de desenvolvimento.

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