Marcelo pede abertura às "ideias diferentes”, mas não à “violência”

Presidente da República sublinha que é necessário “nunca ultrapassar o patamar que afasta a violência, agressividade excessiva, provocações no sentido de radicalizar o que depois empobrece o espírito de família”.

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ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
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No dia em que ouviu cantar as Janeiras e os votos de bom ano da Sociedade Musical Vouzelense, o Presidente da República fez um apelo ao respeito pela pluralidade de opiniões, mas também à recusa da violência. “Devemos ter ideias diferentes, mas saber conjugar as nossas ideias. Elas são diversas, e é bom que sejam diversas, mas deve haver entre nós respeito recíproco, uma aceitação do pensamento dos outros”. Ainda assim, vincou o chefe de Estado neste domingo, é preciso “saber não ultrapassar nunca o limite, o patamar que afasta violência, agressividade excessiva, provocações no sentido de radicalizar o que depois empobrece o espírito de família”.

O comentário do Presidente da República acontece dias depois de a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) ter recebido várias queixas devido à presença de Mário Machado no programa da TVI Você na TV. A rubrica Diga de Sua (In)Justiça da emissão do programa de quinta-feira foi dedicada ao tema "Precisamos de um novo Salazar?”.

Além de ter apresentado uma queixa  junto da ERC contra a TVI, que entretanto suspendeu aquela rubrica, o Sindicato dos Jornalistas prometeu denunciar o caso junto da Assembleia da República, por considerar “inqualificável o tempo e o espaço concedido pelo canal de televisão TVI a Mário Machado”.​

No breve discurso que proferiu após ouvir as Janeiras, Marcelo Rebelo de Sousa nunca se referiu expressamente a esta polémica à volta do convite a Mário Machado, que levou o ministro da Defesa a intervir. Nesta sexta-feira, no Twitter, o ministro João Gomes Cravinho comparou a actuação da TVI à de alguém que "ateia um incêndio pelo prazer de ver as labaredas". O director de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, acusou entretanto o ministro e o Sindicato dos Jornalistas de adoptarem "falsos moralismos". A associação SOS Racismo acusou a TVI de branquear o passado de Mário Machado e de legitimar política e socialmente o racismo e a extrema-direita. 

Mário Machado esteve mais de 12 anos preso ao longo da sua vida pela prática de vários crimes, alguns dos quais envolvendo ódio racial. Um desses crimes está relacionado com o assassinato de Alcindo Monteiro, a 10 de Junho de 1995, no Bairro Alto, em Lisboa, pelo grupo de skinheads Hammerskins Portugal. O líder da Nova Ordem Social foi libertado em 2017. Machado foi condenado em quatro processos associado a acusações de discriminação racial, coacção agravada, posse ilegal de arma e ofensa à integridade física qualificada.

Neste domingo, em Belém, Marcelo Rebelo de Sousa louvou o "espírito de família" que se sente no Dia de Reis e que disse dever estender-se a "todas as épocas do ano". Significa aceitar "que somos iguais em direitos e diferentes na maneira de ser", reforçou. "Pensamos de maneiras diferentes. Não há duas pessoas que pensem da mesma maneira”. O Presidente da República disse ver esta diferença como uma “riqueza” e considerou que seria “insuportável viver numa sociedade que fosse toda igual nas ideias, projectos, ambições, nas posições das pessoas, nas carreiras, nos sonhos”.

Após ouvir as Janeiras, Marcelo aproveitou para tecer elogios à Sociedade Musical Vouzelense. “Quero agradecer por aquelas que foram as Janeiras mais originais da minha vida”, uma vez que combinam a “tradição e história das Janeiras" com a "envergadura e qualidade de uma instituição de peso”.

Ouvir as Janeiras no início do ano é uma tradição que tem sido acarinhada pelos presidentes da República no Palácio de Belém. Várias sociedades musicais de todo o país foram já convidadas a cantar as Janeiras no Palácio de Belém e a apresentarem assim votos de bom ano ao Presidente da República. Texto editado por Álvaro Vieira

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