Palavras, expressões e algumas irritações: desconfiança

A “moção de desconfiança” à primeira-ministra britânica foi lançada pela ala eurocéptica do seu partido. Motivo: acordo para o “Brexit”. O substantivo feminino singular significa “falta de confiança”, mas também “suspeita”, “receio” e “dúvida”.

A palavra “desconfiança” passeou-se pela comunicação social nos últimos dias, vinda do Reino Unido e acompanhada por “moção”. Alvo: Theresa May. A “moção de desconfiança” à primeira-ministra britânica foi lançada pela ala eurocéptica do seu partido. Motivo: acordo para o “Brexit”.

O substantivo feminino singular significa “falta de confiança”, mas também “suspeita”, “receio” e “dúvida”. Exemplo: “Não sabia porquê, mas o rapaz inspirava-lhe desconfiança.”

Quem “suspeita” de May sabe porquê, mas não conseguiu derrubá-la. Na quarta-feira, a primeira-ministra conquistou “um salvo-conduto de 12 meses para continuar à frente dos destinos do Partido Conservador — e consequentemente do Governo —, depois de sair vitoriosa da moção de desconfiança”.

Conseguiu 63% de votos favoráveis e, confiante, rumou a Bruxelas. Ali, ouviu: “Pela enésima vez, os líderes europeus disseram à primeira-ministra britânica que não aceitam mexer no acordo de saída, nem considerar novas ‘obrigações jurídicas vinculativas impostas à UE’.”

Os políticos “desconfiam” uns dos outros, os eleitores “desconfiam” dos políticos, os cidadãos “desconfiam” dos jornalistas, das empresas que gerem as redes sociais, das Forças Armadas, dos banqueiros, dos juízes, da “caridade” das organizações não governamentais que alimentam grandes superfícies e promovem “negócios sociais” — duas palavras que jamais deveriam andar juntas.

“Desconfiança” significa ainda “falta de esperança”, “ciúme” e “temor de ser enganado”.

Os portugueses têm vocação para a “pirronice”, termo que quer dizer “desconfiança por sistema” — bem traduzida na expressão “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”. Mas continua a ser difícil não “desconfiar” de muitas instituições e pessoas.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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