Marquês de Marialva: clássico e com glamour, como era a grande restauração

No centro de Cantanhede, este restaurante preserva o estilo e a cozinha de inspiração francesa com que se destacou nas últimas décadas do século passado.

Fotogaleria
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido

O ar nobre e requintado não está só na casa apalaçada e no ambiente de estilo clássico e provençal. Também a disposição interior, a decoração, o serviço e a carta remetem para esse glamoroso contexto da restauração francesa de meados do século passado, que influenciou o mundo inteiro e é ainda hoje sinónimo de qualidade e símbolo da alta cozinha.

Por aí andou José Carlos Guerra, “durante mais de uma década a aprender e a conhecer um vasto e apurado mundo de ofertas e de sabores, fazendo carreira em alguns pontos gastronómicos parisienses onde se criavam os mais requintados gourmets do planeta culinário”. Na apresentação do Marquês de Marialva, explica-se ainda que “quando regressou a Portugal, a terras da Bairrada, abriu o restaurante, cujo principal objectivo foi, e ainda é, uma homenagem à genuína cozinha da região”.

Foi em 1975, com o precioso apoio da mulher, Arminda Dinis, instalando o restaurante bem no centro de Cantanhede, num edifício apalaçado e com estacionamento privativo. É no piso de entrada que está o salão principal, com capacidade para três a quatro dezenas de comensais, em espaço desafogado e devidamente ataviado. No mesmo piso coexistem ainda mais duas pequenas salas, para contextos mais reservados ou particulares, e um amplo salão no piso superior e vocacionado para celebrações colectivas.

O ambiente clássico e acolhedor da decoração e mobiliário é ainda reforçado pela crepitante lareira de fundo, com o único senão para a falta de apoio lombar nas cadeiras com assento em veludo cor de púrpura que nos calharam.

De grande fama e reconhecimento nas décadas que se seguiram à abertura e até à viragem do século, o restaurante parece resistir ao tempo e manter todas as características iniciais. O destaque continua no bouquet de entradas, um cenário que remete para o universo da arte surrealista, com os múltiplos produtos incrustados num gigantesco repolho e umas facas de cozinha nele espetadas para que cada um se sirva a contento.

Foto
Nelson Garrido

É ampla a proposta de entradas (umas vinte), onde se destacam as pataniscas, morcela e farinheira assadas, ostras e camarão ao natural, tábuas de queijos ou de enchidos ou o cocktail de melão com gambas, com preços que vão dos cinco aos 15 euros.

As ostras, gordas, da ria de Aveiro (10 euros, seis unidades) são servidas com uma flute de espumante (Blanc de Blancs, da Adega de Cantanhede), que lhes reforçam a frescura e sabor marinho. As minipataniscas de bacalhau (7,50 euros), são de primorosa execução, escorridas, crocantes e saborosas, e também o clássico cocktail de melão com gambas e maionese (10 euros) remete para o universo da mais requintada restauração.

Estranha é mesmo a “Bandeja de entradas Marquês” (12,50 euros/pessoa), como se chama o tal bouquet onde aparece meio queijo flamengo e um chouriço inteiro, à mistura com queijo de Niza e do Rabaçal, fatias de presunto, de melão e ainda rodelas de ananás. Enche o olho, mas o que mais se destaca é o repolho e as facas nele espetadas!

Nos peixes, a lista propõe o bacalhau à lagareiro com batata a murro, salmão ou cherne grelhados, espetadas de gambas e de frutos do mar, arroz de tamboril com gambas (15/15,50 euros), e ainda gambas tigre jumbo grelhadas (60 euros/kg).

Da oferta do dia, pediu-se o robalo grelhado, que chegou à mesa em posta simples, na companhia de feijão-verde, batata e cenoura cozidas. Produto correcto e execução simples sem deslumbrar ou complicar. Provou-se ainda o bacalhau à lagareiro, em posta média, de cura rápida, que igualmente não deslumbrou.

Mais alargada é a lista de propostas para as carnes, que se estende da vitela assada em vinho tinto ao ossobuco e fondue, passando pelo cabrito assado, chanfana à Bairrada e rojões à Marquês (17,50/20 euros). 

Experimentou-se a chanfana, que se mostrou envolvente e saborosa e em preparação competente, mas a pedir um farináceo adequado que lhe absorvesse os sabores, ao contrário da qualidade da batata que acompanhava.

Já no cabrito assado à padeiro destacava-se a qualidade das batatas e a sua envolvência com o molho do assado, bem como o competente arroz do forno com miúdos que acompanhava. O mesmo já não se poderá dizer em relação ao cabrito, sensaborão e a deixar a sensação de falta de forno que lhe destacasse as gorduras e proporcionasse a necessária crocância.

Foto
Nelson Garrido

Nas sobremesas, a oferta é igualmente alargada, com uma dezena de propostas que vão das farófias com creme inglês aos clássicos arroz-doce, leite-creme queimado, crepe recheado ou pudim de ovos com caramelo. Provou-se apenas o leite-creme, que cumpriu a função.

Registo ainda para a abrangência da carta de vinhos, que quer cobrir todas as regiões com escolhas de qualidade mas acaba por não destacar, como seria de esperar, os grandes vinhos da Bairrada

A par do serviço à carta, são actualmente propostos dois menus (30€ cada), basicamente compostos por toda a oferta de entradas e sobremesas. No caso do menu Conde de Cantanhede, é mesmo oferecida toda a panóplia de entradas, quentes e frias, e sobremesas, enquanto no Marquês de Marialva é servido um prato e feita uma selecção de entradas e sobremesas. Em ambos os casos estão incluídas bebidas, sendo servido vinho da Adega de Cantanhede.

Com serviço conforme ao estilo da casa, esta é uma viagem à memória dos tempos em que este Marquês de Marialva era justamente reputado como um dos grandes restaurantes do país, mas convinha também ter em conta que os tempos evoluem e não se pode viver de memórias eternamente.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários