Orbán defende asilo na Hungria para ex-primeiro-ministro da Macedónia

Nikola Gruevski foi condenado por corrupção. Para o primeiro-ministro húngaro, o seu aliado foi vítima de “jogos” políticos.

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Nikola Gruevski com Viktor Orbán Ognen Teofilovski/Reuters

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, defendeu a concessão de asilo pelo seu país a um antigo primeiro-ministro da Macedónia condenado a uma pena de prisão no seu país por corrupção.

O facto de o Governo de Orbán ter dificultado a chegada de refugiados e posto grandes entraves à obtenção de asilo levou a imediatas comparações com a rápida concessão de asilo ao macedónio. “Orbán, o anti-asilo, faz excepção para amigo em apuros”, titulava o diário britânico The Guardian, referindo-se à boa relação entre os dois políticos, que data da altura em que Nikola Gruevski foi primeiro-ministro da Macedónia, cargo que ocupou durante dez anos.

Gruevski deixou o cargo em Janeiro de 2016 e foi condenado a 9 de Novembro a uma pena de prisão de dois anos por corrupção. A polícia macedónia emitiu um mandado de captura depois de o antigo chefe de Governo não ter comparecido para começar a cumprir a sua sentença.

De seguida, fugiu para a Hungria, acompanhado por diplomatas húngaros até Budapeste, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Um porta-voz do Governo húngaro, Zoltán Kovács, justificou a medida porque “precedentes sugerem que casos extraordinários como este merecem consideração extraordinária”.

Grueviski foi aliado de Orbán na oposição dentro da União Europeia a uma proposta de redistribuição de refugiados pelos estados-membros. O primeiro-ministro húngaro lembrou esta “luta lado a lado”.

“Eu conheço este homem, foi meu colega muito tempo”, disse Orbán à estação de rádio estatal mr1. “Teria sido muito mais difícil, para não dizer impossível, defender a fronteira húngara sem ele.”

“Temos de tratar os nossos aliados com justiça”, continuou o primeiro-ministro. “Não podemos pô-los acima da lei, mas podemos garantir-lhe um processo justo”, acrescentou.

As acusações contra Grueviski, disse ainda Orbán, são políticas e por isso não deveriam influenciar as autoridades húngaras. “Na Macedónia estão a acontecer lutas políticas complexas e jogos, e o sistema judicial faz parte disso”, acusou. “Os procedimentos na Macedónia não têm influência sobre nós. Só nos interessa se o pedido [de asilo] tem boa base legal.”

Se o asilo for confirmado, este é mais um gesto de provocação de Viktor Orbán à União Europeia. A Macedónia reagiu através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Nikola Dimitrov, que comentou ser “impossível de engolir” que um país da UE desse asilo ao antigo chefe de Governo depois de, em 2016, o ter acusado de tentar dominar a Macedónia.

Há dias o comissário para o Alargamento, Johannes Hahn, disse esperar “uma boa explicação dos motivos” de Orbán se fosse confirmada a decisão da Hungria conceder asilo político a Gruevski. 

"O estado de Direito é um princípio fundamental tanto para estados-membros [da União Europeia] como para países candidatos", como a Macedónia, disse ainda Hahn no Twitter, concluindo: "É surpreendente que a Hungria apoie a adesão da Hungria à União Europeia mas não a considere segura." 

Até agora, na esfera interna, as ameaças de acção disciplinar da União Europeia têm apenas servido para alimentar a retórica de Orbán de que está sob ataque das forças “pró-migração” de Bruxelas.

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