Coimbra, academia de liberdade e democracia

Em Coimbra respira-se liberdade. Convivem pacificamente praxistas e não praxistas, comunistas e socialistas, movimentos estudantis e movimentos culturais.

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Diogo Baptista

A juventude que por estes dias enche as ruas de Coimbra anseia por um futuro, uma construção de ideais que se reflecte na vida desta cidade, que tem o seu pulsar umbilicalmente ligado aos corações que por ali batem. É injusto que, a cada início de ano, os jovens sejam bombardeados com um turbilhão de notícias, opiniões e debates, que sentenciam aquela que é a sua condição. Aos olhos daqueles que invadem o espaço publico, os jovens de hoje são como um bicho estranho que nada tem de bom. São amplamente difundidas as praxes violentas, a alienação e apatia da nova geração, as academias são crucificadas por não se oporem à pratica estudantil e esta é consecutivamente caracterizada como um meio onde impera o álcool e nada mais.

Mesmo que possamos considerar que algumas destas coisas são verdade, não podemos escamotear o facto de que estas podem não caracterizar os sentimentos e aspirações dos jovens estudantes portugueses.

Em Coimbra respira-se liberdade.

Convivem pacificamente praxistas e não praxistas, comunistas e socialistas, movimentos estudantis e movimentos culturais. São centenas aqueles que no intervalo do seu tempo de estudo dedicam forças às secções culturais, ambientais ou desportivas. É uma academia do pensamento, mas também da transformação. Por aqui se travaram e continuam a travar grandes lutas — não se trata de honrar o passado, mas conquistar o futuro. Os estudantes fazem isso no dia-a-dia. Agarram o futuro com unhas e dentes, mesmo quando são impostas barreiras, taxas e taxinhas, mesmo quando o tempo não é de sobra e muito menos o dinheiro. Aqui luta-se contra as propinas.

É injusto, portanto, sentenciar a nova geração como geração alienada.

Com a luta dos estudantes, foi possível congelar as propinas, rejeitar o regime fundacional e será ainda possível muito mais. Estas conquistas não são fruto de uma geração apática, antes de jovens que não têm medo de agarrar o futuro. Por aqui existe essa tradição. Não existe o contentamento conformista nem a alienação deformadora. Cruzamo-nos, em cada canto, com gritos de revolta, murais pintados nas paredes, tertúlias, discussões acesas nas esplanadas dos cafés, debates e convívios. São imensas as manifestações culturais que dão cor a esta cidade, jovens que dão azo à imaginação e não cedem lugar na criação cultural.

Regidos pelo bater da cabra, os estudantes percorrem, par a par com os turistas, as instituições centenárias para nelas beber da doutrina e saborear o deleite do conhecimento. Fazem da Universidade a sua casa, o seu centro de reuniões ou o seu recinto de festas. E quem não gosta de festas?

Aqui, respira-se democracia. Cada lugar que os estudantes têm nos órgãos de governo da sua universidade foi conquistado a ferros por todos aqueles que tomaram a universidade como sua e dela fizeram o seu reduto do progresso.

A ideia de que a alienação é um elemento caracterizador da geração que representa o futuro só serve para envolver de fumo os milhares de braços que teimam em construir um Portugal melhor. A juventude não é só violência e praxe.

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